Reflexões de um velho ranzinza – Gente que atrapalha no parque
Sou um velho com 61 anos, que aguarda ansiosamente a aposentadoria. São mais de 45 anos entre desemprego e empregos mal pagos. 45 anos para conseguir um apartamento apertado em um prédio ruim na periferia, uma lata velha do século passado como "carro", e perspectiva nenhuma de bem-estar na tal aposentadoria.
Um sábado desses peguei a bichera, quer dizer, meu palio 98, e fui a um parque na zona norte da cidade. Acho bom passear por lá. Foi feito porque a prefeitura mandou. Se não, não saía o bairro novo que criaram em volta dele.
Sem trânsito, de onde moro até ali deve dar, no máximo, uns quinze minutos.
Consegui uma vaga e sentei em um dos bancos ali. Queria pegar um sol. E depois eu ia caminhar.
Tinha um velho fazendo ginástica. Cabeça branca. Camiseta de física, calção, meia e tênis, todos pretos. É alongando que se diz? Ele estava usando o cordão da calçada para se esticar no espaço de uma das poucas vagas que ainda sobravam no estacionamento.
Nisso chegou um carro com duas pessoas. Era um palio mais novo que o meu.
O motorista embicou e achou o homem ali.
Imagino que qualquer pessoa se daria conta da situação e liberaria a vaga. Mas o homem nada.
Ficou uns segundos aquela situação.
Pensei que o motorista ia buzinar, mas não buzinou. Ficou esperando.
Aí a porta do passageiro abriu e saiu outro homem do carro.
O camarada se alongando se virou, deu uma olhadela, subiu na calçada e saiu caminhando.
O motorista afinal pôde estacionar.
Quando abriu a porta, o motorista era uma mulher. Não dava para ver direito porque o carro tinha insulfilme.
O casal se olhou com cara de quem pensa “ninguém merece!” Olharam o atleta se afastar.
Deram uns segundos e saíram na mesma direção.
Ainda bem que não sou o único a encontrar gente que vem ao mundo atrapalhar.
03/08/2021.
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