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Mostrando postagens de setembro, 2021

Reflexões de um velho ranzinza – Bufê do Shopping

Sou um velho com 61 anos, que aguarda ansiosamente a aposentadoria. São mais de 45 anos entre desemprego e empregos mal pagos. 45 anos para conseguir um apartamento apertado em um prédio ruim na periferia, uma lata velha do século passado como "carro", e perspectiva nenhuma de bem-estar na tal aposentadoria. Outro sábado fui num shopping não muito longe de casa, na zona norte da cidade. Quando passei pela praça de alimentação, estiquei o olho para um bufê por quilo. Não tinha muita variedade porque loja de shopping não é muito grande. Mas vi que entre o que ofereciam tinha ovo de micro-ondas. Ovo de micro-ondas no bufê do shopping! Me ri por dentro. 29/09/2021.

Diário da Peste (XLV) - A primavera 2021 chegou

E quarta-feira passada, 22 de setembro, iniciou a primavera austral de 2021.  Como tenho escrito, já fazia dias que ela se anunciava.  Curiosamente, os primeiros dias da primavera foram mais frios que alguns dos últimos dias do inverno. Inverno que se foi.  A segunda primavera da peste. Os números da peste são decadentes, embora ainda muito significativos. Algo como trinta mil diagnosticados por dia, mais de 800 óbitos por dia. Ainda é como se dois aviões de passageiros transcontinentais caíssem todo dia no Brasil. 800 famílias enlutadas todo dia. Com o total de vítimas se aproximando de 600 mil pessoas.  Mas nem toda a morte é de covid-19 agora.  Recentemente perdemos dois atores brasileiros queridos. Luis Gustavo, 87, faleceu em decorrência de um câncer. Marina Miranda, 90, em decorrência de infecção. Cada um à sua maneira, nos fez rir e sorrir.  Nos Estados Unidos, faleceu Willie Garson, aos 57, também em decorrência de câncer. Uma morte precoce. Quem acompanhou a série Sex and the

Civilidade em tempos de peste

(Inspirado pelo humor cruel de André Dahmer) Na fila do bufê, o homem sente o homem jovem se aproximar. Pede ao jovem que mantenha a distância regulamentar.  A resposta do homem mais jovem: "Distanciamento social é o caralho! Tá com medinho do vírus fica em casa!" O homem mais velho virou-lhe o prato na cara. Começou a briga.   17, 23/09/2021.

Diário - leituras - O investidor inteligente

Este livro faz parte das minhas leituras técnicas sobre investimentos.  E dentre os livros sobre investimentos, esse é considerado um clássico, aliás, um subtítulo mostrado é justamente "o guia clássico para ganhar dinheiro na Bolsa".  Benjamin Graham foi um operador na bolsa nos Estados Unidos desde meados da década de 1930 até 1970. Ele faleceu em 1976. E neste livro ele relata seu trabalho e dá conselhos para que o investidor possa prosperar nesse ambiente. O livro passou por sucessivas atualizações. Para trazer atualizações até nosso século XXI, o livro conta com comentários de Jason Zweig.  O livro tem um pouco de tudo. História do mercado de ações. Informações para o que ele chama de investidor defensivo, que eu ligaria a quem investe em ações para longo prazo. Informações para o que ele chama de investidor empreendedor, que ligo a quem investe em curto prazo. As flutuações no mercado de ações. Os cuidados que o investidor precisa ter com seus conselheiros e assessores.

Os novos golpes do celular

"Nas grandes cidades de um país tão violento Os muros e as grades nos protegem de quase tudo" Continuam os golpes contra nossos telefones celulares(e contra nós, obviamente).  Foram-se os tempos em que nossos aparelhos eram tomados por descuidistas ou trombadões e depois iam aparecer nas mãos de algum camelô ou em algum saite de compras de produtos usados na internet.  Agora há dois golpes medonhos que, parece, já se tornaram moda em São Paulo. E logo se espalharão pelo resto do país.  O primeiro golpe consiste no roubo do aparelho, mas não para revendê-lo. Agora quadrilhas especializados trocam o chip de aparelho, descobrem o número, vasculham redes sociais a procura de dados do(a) proprietário(a), e partem para instalar aplicativos bancários, e sacar dinheiro das contas, ou, eventualmente, fazer empréstimos e depois sacar o empréstimo feito em nome da vítima, transferindo o dinheiro via pix. As notícias falam em golpes com prejuízos de milhares de reais. O segundo é ainda p

Metalooping da fuga da musa

Diante do momento de entrega da história, João não tinha nada para escrever.  Diante da tela branca, pensou em escrever sobre um escritor que não tinha inspiração.  Diante de sua consciência e sua memória, lembrou de um de seus mentores que disse que escrever sobre o escritor que não tinha inspiração para escrever era um clichê. Diante dessa lembrança, concordou com o que esse mentor disse. Lá se vão anos.  Ainda diante dessa lembrança, lembrou de inúmeras outras histórias de escritores sem inspiração. Grandes cronistas e grandes romancistas escreveram sobre isso. Filmes foram feitos a respeito desse tema.  Diante de tudo isso, João reclamou à musa que o abandonara.  Diante do que já havia pensado, João se deu conta que divagava em torno de sua não história.  Diante do momento de entrega da história, João viu que suas divagações se enrolavam feito macarrão.  Diante do momento de entrega da história, João resolveu publicar sua enrolação.  Seguiu adiante.  16/09/2021.

Diário da Peste (XLIV) - Fim de inverno 2021 ou A Podridão

Choveu o dia todo segunda-feira, 13. Até à noite, quando parecia que tinha parado de chover, choveu de novo.  A meteorologia falou de frente fria, encerrando os dias de primavera que tivemos sábado e domingo passados.  Faz uma semana que respiramos aliviados que o golpe de estado com data marcada não instalou uma ditadura em nome da liberdade.  Liberdade com qualificativos. Liberdade de mentir, de falsear, de caluniar. Liberdade de destruir, desmatar, queimar.  Liberdade de extorquir, expulsar. No limite, liberdade de matar.  O filósofo Renato Lessa publicou na revista Piauí de julho passado um texto chamado "A destruição". No artigo, ele ressalta uma palavra: podre. O substantivo adjetivo dos dias. Podre.  Uma das maledicências favoritas dos seres humanos, quando é possível, é falar mal dessa entidade ideal, o político, ou desses entes genéricos, os políticos.  São todos ladrões; só cuidam de si próprios, e não da comunidade; egoístas; mentirosos; usufrutuários de mordomias

Engano

Nem todas as promessas  Que faço Sou capaz de cumprir 14/08/2021

Apelo (com mesóclise)

Sufoca-me de amor E não Trair-te-ei 14/09/2021

Apelo (com oralidade)

Sufoca-me de amor E não Te trairei 14/08/2021.

Reflexões de um velho ranzinza – Um velho comovido

Com 61 anos, e aguardando a aposentadoria, a vida não tem sido fácil.  A vida não é fácil. Aqui é o Brasil. "O Brasil é o país do futuro", cantava o Legião Urbana, quando eu era jovem.  Sou um fudido, e olho pro lado e tem um monte mais fudido que eu.  Outro sábado eu estava caminhando até a faixa. Era início da tarde.  Um rapaz, que acho que é um sócio do restaurante que eu estava perto, saiu do restaurante com uma quentinha pra levar, e entregou para um mendigo velho, que costuma ficar vagando por aqui no bairro.  Rapaz, fiquei até emocionado! Fiquei com o olho marejado.  Acho bonito quando alguém dá comida a quem tem fome. Me lembrou minha mãe que vivia dizendo pra não deixar comida no prato porque sempre tem gente passando fome no mundo. Acho nobre.  Só não gosto que venham me pedir comida quando estou comendo. Acho uma espécie de chantagem.  08, 09/09/2021. 

Diário da Peste (XLIII) - 7 de setembro de 2021

Curiosamente, pela rotina, esta crônica deve ser publicada no dia 7 de setembro. Feriado. Dia da Pátria.  Na minha caminhada habitual, no início da tarde de sábado, dia 4 passado, percebi em diversas residências o pavilhão nacional emoldurado em janelas e sacadas. Demorei a perceber que era um fenômeno ligado à Semana da Pátria.  Quando eu era criança, cursando o ensino primário em escola pública, ali pela metade da década de 1970, nessa Semana, nós crianças éramos levadas ao pátio para cantar o hino nacional e hastear a bandeira. Minha memória se confunde com manhãs de dias frios. Como a Semana da Pátria é sempre quando o inverno está se despedindo e a primavera começa a dar o ar de sua graça, minha memória deve estar misturando lembranças.  Uma vez coube a mim o ritual de hasteamento da bandeira. Motivo: eu estava com o uniforme completo que costumava ser usado por aqueles dias. Calça azul marinho, camisa branca, a gravatinha, também azul marinho, com o logotipo da escola. Provavelme

Instante decisivo

Encantado pela imensidade da avenida, ele sacou o celular para registrar o que via.  Enquanto buscava o melhor enquadramento, um carro desgovernado o colheu por trás.  Frame fatal. 27/08/2021, 03/09/2021.

Diário - leituras - Em busca de sentido, de Viktor E. Frankl

Este livro foi lido por recomendação na psicoterapia.  Viktor Frankl é o criador da logoterapia, uma técnica psicoterápica.  O livro é dividido em três partes. Em busca de sentido narra a vivência de Frankl em campos de concentração nazistas, durante a Segunda Guerra; Conceitos fundamentais da logoterapia tem um título auto explicativo, ou seja, são conceitos fundamentais na escola de psicologia fundada pelo autor; por fim, A tese do otimismo trágico é uma espécie de uso aplicado dos conceitos da logoterapia.  A primeira parte é a mais longa e nela Frankl narra seus dias como um prisioneiro escravizado em um campo de concentração. Comenta como o acaso (a Mão Divina?) fez com que sobrevivesse à chegada ao campo, e o manteve vivo, apesar das privações. São recorrentes as temáticas da fome, do frio e das doenças. O médico psiquiatra foi reduzido ao trabalho braçal durante um longo período. Depois, quase ao final da guerra, acabou como médico da enfermaria do campo. Entre as percepções, a