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Mostrando postagens de outubro, 2020

Higiene

  Isso é mais comum que eu gostaria que fosse.  No banheiro do shopping, após aliviar-se, o homem fechou seu zíper, e saiu porta a fora.  Provavelmente confiando na infinidade de totens de álcool gel disponíveis por ali.  07/10/2020.

Diário - leituras - As Mitologias Roubadas: os 12 trabalhos

Na Porto Alegre de 2070, que sobreviveu e se reconstruiu após um cataclisma, um estranho evento acontece na Biblioteca Pública, quando uma parte da fachada desmorona a altas horas da noite.  O inspetor de polícia Alberico Kraus é chamado a atender a estranha ocorrência. E para lá também vai o jovem Felippe Valenti, funcionário do estabelecimento.  Logo depois, o pai de Felippe é sequestrado por um misterioso criminoso, que propõe uma espécie de jogo ao jovem para que o pai dele lhe seja devolvido.  Esse é o início dessa aventura juvenil, em que Felippe vai ter que enfrentar tarefas análogas aos Doze Trabalhos de Hércules, da mitologia grega pré-cristã.  A história se situa no futuro, mas os sítios em que a história se desenvolve existem hoje e estão todos bem descritos no livro.  É uma narrativa relativamente longa, mais de trezentas páginas, que em algum momento chega a cansar o leitor, mas que traz um bom desenlace para que for perseverante.  Uma história que seria digna de ser trans

Hesitação

Já escrevi sobre meu trabalho , agora feito a partir de casa ("home office") por conta da peste, e me comparei, acho que com a devida humildade ao filósofo Immanuel Kant, em seu passeio diário. É uma caminhada para aliviar a tensão do trabalho e também mudar um pouco de ares. Sob sol, ou sob nuvens, mas não sob chuva. Pois hoje tivemos um amanhecer relativamente frio, e chuvoso, apesar de ser primavera, e de dias antes ter tido temperaturas por volta de trinta graus. Como se a natureza estivesse indecisa, tivemos momentos de chuva, estiagens em que apenas nuvens cobriam o céu, e até nesgas de sol apareciam vez por outra.  Encorajado pelo titubeio climático, e sempre querendo meu próprio bem estar mental, após almoçar, vesti a roupa da rua, incluindo a máscara, saí a caminhar em um momento seco.  Mas eis que há trezentos metros de casa, começou um chuvisco.  Com um casaco leve, e a cobertura de uma boina, decidi seguir em frente, pensando que se eu me molhasse, seria só o caso

Sonho miltoniano

Sonhei que caminhava pela noite de Porto Alegre, com uma turma que eu nem conhecia direito.  A caminhada passou por oníricos bairros Petrópolis, Santa Cecília, Bom Fim e Cidade Baixa.  Passou por bares e restaurantes, bares-restaurantes.  Da turma com quem eu andava, o único que pude reconhecer foi o Milton. Sim, o Nascimento.  Andando por bares e restaurantes, fizemos uma longa caminhada.  Nada de relevante a conversar. Só o aparente prazer da companhia e da diversão.  Não sei se tem a ver. Talvez Freud explicasse. Ontem Milton completou 78 anos.  27/10/2020. 

Diário - leituras - Mistério no Centro Histórico

Li esse livro em 2017. Gostei na época.  O livro narra a tentativa de elucidação de uma explosão no centro de Porto Alegre. O detalhe é que a polícia havia esvaziado um shopping da cidade momentos antes por conta de uma ameaça de bomba.  Por conta disso, o livro conta a história de João Macedônio, bon vivant  e candidato a escritor, e do detetive Walter Jacquet, nessa história com ameaças terroristas, e tendo a cidade de Porto Alegre como palco e personagem.  DINIZ, Tailor. Mistério no Centro Histórico. Porto Alegre: Dublinense, 2016. 26/10/2020.

Sonho bisonho

Sonhei que eu estava triste.  Estava na casa da Cefer, e minha irmã tinha morrido.  Saí do quarto e caminhei até a cozinha, onde minha mãe cozinhava.  Abracei minha mãe, chorando. "A Lúcia morreu!".  Eu chorava e minha mãe não dizia nada. Minha mãe morreu dezoito anos antes de minha irmã. 26/10/2020.

Bola de Pelos

Na pet shop viu uma luva para retirar excesso de pelos do bicho de estimação. Comprou. Ao chegar em casa, abriu a embalagem, calçou a luva, pegou o gato no colo e começou a alisá-lo.  Os pelos começaram a aderir à luva. Alisou, alisou, alisou. E assim foi por mais um tempo. Quando deu por si. O gato havia sumido. Em sua mão, uma imensa bola de pelos.  29/09/2020.

Aniversários Imaginários

20 de outubro. Aniversário de minha irmã. Ela faria 73 anos este ano.  Eu novamente iria à casa da Cefer, onde encontraria uma mesa com uma torta doce, uma torta fria salgada, salgadinhos, entre eles a pizza caseira, talvez alguns doces, cerveja, refrigerantes, chá, provavelmente de maçã.  Encontraria talvez algumas amigas dela, que estivessem confraternizando. Liana, Isa, Dóris...  Isa um caso pouco comum de uma amizade herdada. Sim, Isa comparecia aos aniversários de minha mãe. E o tipo de celebração de aniversário de minha mãe não seria muito diferente. A mesma torta doce, a mesma torta fria, a pizza caseira, os doces, a cerveja, o refrigerante, o chá. Na mesma casa da Cefer. A diferença é que o aniversário de mamãe era em 3 de fevereiro. Em 2020? 95 anos. Possível. Difícil, mas possível.  O pai? Já não sei o que seria servido no seu aniversário. Talvez uma caipirinha ou várias. Até a língua ficar pastosa, e minha mãe reclamar que ele já tinha bebido até a língua ficar pastosa. Talv

Diário - leituras - As Sobras de Ontem

Comprei esse livro motivado pela propaganda da editora na revista Piauí. Dizia "Um retrato do Brasil através da dissolução de sua elite econômica, uma das estreias mais promissoras da nova literatura brasileira", e mais, uma apresentação de Michel Laub, "Falar da elite brasileira sem caricatura, tentando entender os afetos que geram sua degradação privada e pública no passado e no presente, já seria algo raro na nossa literatura. Mas a estreia de Marcelo Vicintin vai além, acrescentando a esse ponto de vista sabor, humor e habilidade narrariva." Ainda, a orelha é escrita pela resenhista Camila von Holdefer, com uma boa síntese da história.  Dito tudo isso, o livro é bom, mas passa longe de retrato do Brasil através da dissolução de sua elite econômica. Parece mais um retrato de certa elite paulista, através de dois relativamente jovens representantes.  Egydio Poente, um filho da elite que se tornou líder da empresa de navegação da família e acabou preso por conta de

Expectativas

  Ele tinha muitos planos para o sábado; sair, caminhar, respirar, até sentar em uma cafeteria, beber um café e comer uma fatia de torta (mesmo com máscara e mantendo o distanciamento social).  A chuva começou de madrugada e se prolongou pelo dia todo.  05/10/2020.

Conduire ou pas conduire, c'est la question

Outro dia comentei que minha atividade física quase diária é caminhar perto de casa após o almoço. Com máscara e mantendo distanciamento social.  Entre outras coisas, me chama a atenção o fato de, em um raio de uns cem metros de casa, haver três automóveis com ares de abandonados.  Sabe aquele carro acumulando sujeira sobre a lataria? O estofamento perdendo a cor? As ervas daninhas crescendo ao redor da vaga que o veículo ocupa? O musgo nos pneus? Esse é o quadro.  Um deles inclusive teve as placas retiradas.  O que leva a esse quadro? Há muitas possibilidades. Certamente os proprietários desses veículos não têm áreas para guardá-los em seus imóveis. Também não querem gastar grana com aluguel de garagens. Pode haver uma pilha de multas acumuladas cujo valor ultrapasse o do carro. Por fim, carros há muito tempo parados demandam auxílio mecânico para voltarem a funcionar.  Eu já estive em uma situação parecida. Um carro velho, que não estava totalmente abandonado, mas cujo estado dele, e

Diário - leituras - O Preto que falava íidiche

Tendo como mote o amor entre Nozinho, ou Lindonor Santana, jovem órfão negro, afilhado do narrador desta história, e Raquel, filha de uma família de judeus que se estabeleceu no Rio de Janeiro, então Capital Federal, no início do século XX, este livro do escritor, pesquisador e compositor Nei Lopes, se apresenta como uma espécie de Romeu e Julieta carioca.  Mas, de fato, pelo seu vasto elenco de atores e acontecimentos, o livro me parece muito mais um inventário, centrado na comunidade preta (negra? afrodescendente?) daquele início de século. O livro trata com leveza, de maneira até risonha, os sofrimentos e a marginalização sofrida por esse povo.  Nessa história de Nei Lopes, os negros já eram historicamente marginalizados. E o que me pareceu novidade é que a comunidade judaica, de imigrantes oriundos em sua maioria da Europa Oriental, também era um grupo então estigmatizado, com o antissemitismo da época.  Nesse contexto, Nozinho, esse rapaz esperto, percussionista, e com facilidade

Frenética Perseguição

A refrega foi feia.  Os policiais faziam campana em frente a uma casa, quando um carro com quatro homens se aproximou. Os policiais foram abordá-lo, mas o motorista acelerou e fugiu em disparada.  Os policiais saíram em perseguição.  Alertaram outras unidades. Até um helicóptero foi chamado à ocorrência. Houve tiroteio.  O veiculo dos suspeitos teve os pneus furados. Parou. Quatro indivíduos  foram presos.  Ninguém se feriu gravemente.   25/09/2020.

Trabalho em Casa, Immanuel Kant e Eu

Immanuel Kant (1724-1804) é conhecido por quem tenha estudado história da filosofia. Considerado um dos principais filósofos modernos, sua influência se espalhou pela filosofia alemã através do século XIX. Suas obras mais conhecidas são Crítica da Razão Pura e Crítica da Razão Prática.  Durante toda sua vida ele viveu em sua Königsberg natal, e de lá quase não saiu (desde a Segunda Guerra Mundial Königsberg é território russo e se chama Kaliningrado). O perfil biográfico de Kant registra um traço anedótico a seu respeito. Professor e filósofo, metódico, dizem que todas as tardes, às 15h30min, Kant saía para fazer seu passeio diário, uma caminhada nos arredores de sua casa. Em uma época de poucos e caros relógios, as empregadas da vizinhança se orientavam quanto ao horário, pela caminhada do filósofo. Pois eu, desde março estou trabalhando a partir de casa, por conta da peste.  No início da tarde, depois do almoço, troco de roupa, visto máscara, mantenho distância e caminho pela rua em

Diário - leituras - Para diminuir a febre de sentir

Quando publiquei no blogue sobre o recebimento de "Para diminuir a febre de sentir", alguém me perguntou, "tu queres diminuir a intensidade dos sentimentos?". Tive que dizer que o livro não era de autoajuda, mas uma coletânea de crônicas. Sim, uma coletânea de crônicas, algumas com alto teor poético, de Dalva Maria Soares, com prefácio de José Falero.  Crônicas com bastante sentimento, como indica o título.  Das dores, em "Sororidade". Ou da saudade, em "Era raiva, não", ou em "Eu quero a mamãe de volta". Quem não sente saudades, uma imensa saudade, de pais e mães amados que nos deixaram.  "Dia de Reis" me levou para Milton Nascimento, o fenômeno musical gestado em Minas Gerais, nas canções de seus discos que evocam certo modo de vida de um passado já não tão recente. Canções como Morro Velho, Canção do Sal, e mesmo Cálix Bento.  Por falar, em Minas e Milton, com suas crônicas, Dalva Soares coloca Baldim no meu mapa sentimenta