Diário da Peste (XXXII) - Ainda um sujeito de sorte


A manhã do dia 20 de julho iniciou fria. Por volta de oito da manhã, a temperatura era de cinco graus. 

Por volta das oito e meia comecei meu expediente em home office. Em uma manhã assim eu me senti agradecido por não precisar sair cedo de casa. 

Cumpri minha jornada no turno da manhã até um pouco depois do meio-dia. 

Troquei a roupa do home office, e fui fazer minha caminhada. A temperatura tinha subido para agradáveis treze graus. O sol aquecia a cidade. 

Após percorrer a distância que o aplicativo propõe para uma vida saudável, me dirigi à farmácia em um shopping na zona norte, onde deviam estar aplicando a segunda dose da vacina. 

Feita a medição de temperatura de praxe, entrei na farmácia e perguntei a respeito da vacina. "Não é aqui. É ali no estacionamento." Vamos lá. Fui pra lá.

Tinha planos de tomar a vacina, sacar dinheiro, almoçar e passar no supermercado. A caixa do gato precisava de areia.

O fato de o posto de vacinação da farmácia não ser na farmácia, já mudou meus planos. Resolvi sacar dinheiro antes. 

Quando cheguei ao estacionamento, havia um rapaz de jaleco sentado ao lado do que deviam ser os equipamentos para vacinação. Perguntei se era ali o posto de vacinação. Ele respondeu que sim, era ali o posto de vacinação, mas a funcionária que aplicava estava almoçando. Genial! Um posto de vacinação com apenas um aplicador de vacina, e quando esse aplicador para para almoçar, a vacinação também para. 

Nova mudança de planos. Já que a vacinadora estava almoçando e ainda demoraria uma meia hora, conforme estimou o rapaz que deu a informação, resolvi ir almoçar também. 

No restaurante de bufê a quilo, o tal do novo normal: álcool gel, e luva de plástico para mexer nos talheres. Me servi. Paguei. Almocei rapidamente. 

Voltei ao posto de vacinação. A vacinadora estava lá, tomando os dados de uma senhora. Me pediu para aguardar onde seria o início da fila. Ali fiquei.

Logo chegou uma mulher com aparência relativamente jovem; depois uma senhora, supostamente com uma neta; mais uma mulher; e em pouco tempo havia umas cinco pessoas na fila. 

A senhora à minha frente foi vacinada. 

A atendente me chamou. Me pediu o boletim da primeira dose e documento de identidade. Registrou os dados e me encaminhou à mesa onde estavam as vacinas. 

Pegou uma seringa, rasgou a embalagem que a envolvia, liberou a agulha, enfiou a agulha na ampola, e sugou a dose. 

Muito atenciosa, me mostrou a seringa cheia, explicou o tamanho da dose, me pediu para relaxar o braço e injetou a vacina. 

Perguntei se o pessoal andava muito desconfiado, por conta de toda a explicação e demonstração. Ela falou algo como "é melhor prevenir que remediar." 

Bem. Missão cumprida. 

A nova dose pareceu mais dolorida que a primeira. Talvez porque não trouxe consigo o alívio e a comoção da primeira. 

De qualquer maneira, missão cumprida. 

Me senti grato a Deus, ao Universo, ao acaso, ao que devesse ser. 

Me senti um sujeito de sorte

Fui em frente. O gato ainda precisava da areia. O turno da tarde me aguardava no home office. 

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20/07/2021, 02/08/2021. 

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