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Mostrando postagens de junho, 2022

Reflexões de um velho ranzinza – Contestação de compra

Com 61 anos, e aguardando a aposentadoria, a vida não tem sido fácil.  Hoje de noite tive que ligar para o banco para questionar uma compra no meu cartão de crédito. Eu só fiz uma compra no supermercado, mas aparecem duas compras. Acho que em algum momento, em algum local, no supermercado do shopping, aproximou alguma maquininha e me lesou por aproximação. Eu fiz compras numa farmácia, e no supermercado.  Depois de dez idas e vindas, nas opções das respostas automáticas, finalmente uma pessoa vai falar comigo. Claro que antes de começar, ela pergunta meu CPF, minha data de nascimento e o nome da minha mãe. CPF que eu já tinha digitado.  – Boa noite, Sr. Antonio. Esta chamada gerou um protocolo, o 202201029385. O senhor quer anotar?  – Vocês podem me mandar um torpedo ou um email?  – Sim, podemos. Deve acontecer ao final da ligação. Em que posso lhe ajudar?  – Eu queria reclamar de uma compra que eu não reconheço no supermercado.   – Pois não. O senhor pode dizer quando aconteceu? E qua

Na cama com Danuza

Caro mestre Rubem, Acredito que a citação jocosa do Ed, que eu sou o cronista que lê obituários, vai ficar na minha memória. Mais ou menos como a personagem de Tatuagem quer se impregnar no amado. Não sei se faz sentido, mas a associação me ocorreu.  Quanto a esse título dúbio, ele tem sua razão de ser. Casualmente eu li as memórias de Danuza Leão, “Quase tudo” , ainda no primeiro ano da peste. E, sim, boa parte da leitura foi antes de dormir, na cama. Sei. Possivelmente o título vá chamar cliques, mas fazer o quê? Como eu disse, li o livro no primeiro ano da peste, e publiquei o comentário uns meses depois, como, às vezes, é do meu feitio.  Costumo ler obituários sim, mas nesse caso não foi necessário. O falecimento de Danuza estourou em manchetes. Sim, afinal ela foi uma grande dama da sociedade carioca, embora partindo de uma família de classe média.  Muito jovem foi ser modelo em Paris. E empilhou atividades. Jurada de programa de televisão. Hostess de casa noturna badalada. Jorna

Início da Ronda

Bia convidou-nos a um espetáculo no Theatro São Pedro. Quer dizer, na concha acústica ao lado do prédio principal. Nos consultamos entre nós, e após hesitações, e reticências, acabamos concordando, que sim, que poderia ser uma boa assistir ao tal espetáculo com Bia. Bella ainda queria visitar sua mãe. Eu achei que não convinha, que deixasse para o dia seguinte. Provavelmente aconteceria desencontro. Mas ela não atendeu ao meu apelo, dizia que o desejo de rever a mãe era inadiável. E se foi.  Fiquei em casa dando tempo ao tempo. Comprei medicamentos, e coisas básicas que nos faltavam no mercado.  O tempo passou, e chegou o momento de se preparar para sair.  Para complicar mais as coisas, Bia mandou mensagem dizendo onde estaria sentada, e que a bateria de seu celular estava no fim. Em instantes as telecomunicações com ela estariam cortadas.  O espetáculo deveria iniciar às dezoito horas. Havíamos marcado quinze minutos antes, na frente do teatro. Mas aquela mensagem de Bia mudou o combi

Outra Ronda

“Fuimos cerrando uno a uno cuatro bares / Montevideo, ya hacía rato, amanecía….” Desde que a conheci, a canção de Jorge Drexler, “Pongamos que hablo de Martinez”, se tornou uma espécie de hino boêmio. Drexler a compôs homenageando o amigo Joaquin Sabina.  Já escrevi uma outra crônica usando este início da letra do uruguaio, quando saímos de bares, ao fecharem (os bares). Me aconteceu de novo, semana passada. Após a oficina literária, na quarta-feira, quando o bar em que a oficina é realizada, o Alameda República, fechou, fomos para um outro.  O bar seguinte foi o Antiquário. Quem direcionou foi o Altino. Fomos o Altino, eu, a Carol, e o Gian, que não participa dessa oficina (participou de várias outras). Gian esteve nos visitando para combinar com o Rubem e o Tiago detalhes de uma outra publicação.  O Antiquário fica na Lima e Silva. É pequeno. Aconchegante. Com uma decoração de vários itens antigos, que nos remetem a um antiquário mesmo. Além disso, várias referências ao Rio da Prata.

Reflexões de um velho ranzinza – Fiat Palio

Com 61 anos, e aguardando a aposentadoria, a vida não tem sido fácil.  No início da noite passada, eu estava voltando pra casa no busão.  Numa sinaleira, um palio velho vermelho, com pintura queimada, tinha um adesivo no para-choque: "Não me inveje. Trabalhe." Um palio velho não muito melhor que o meu.  Como diz uma conhecida minha, autoestima é tudo. 15/05/2022 

Dr. Sergio Faviero, urologista

Minha primeira consulta com o Dr. Sergio Faviero aconteceu porque a empresa trocou o fornecedor do plano de saúde.  À primeira vista, me pareceu uma figura sinistra, com seus óculos escuros degradês em uma sala artificialmente iluminada.  Que idade teria? Alguma coisa ao redor de sessenta anos talvez. Ou, entre uns 58 e uns 64.  Nessa idade ainda tinha cabelos. Cabelos encaracolados, que mantinha curtos e aparados. Eu desconfio que pintava.  Na primeira consulta me perguntou se eu já era seu paciente. E na primeira vez, eu obviamente ainda não era. O curioso é que as consultas se sucederam, duas, três, cinco… dez? Não sei. Mas era comum que continuasse me perguntando se eu já era seu paciente. Sim. Cada vez mais eu era seu paciente.  Moderno, costumava usar um laptop para imprimir requisições de exames e atestados de comparecimento. Ou talvez nem tanto. O modelo que ele usava, extremamente compacto, devia ser do início deste século.  Depois do meu estranhamento inicial, ele se tornou p

Início de junho de 2022

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Começou junho de 2022.  Como costumo fazer, eu estava caminhando. Em alguns momentos fotografando minha jornada.  Era um dia ensolarado, depois de um maio algo invernal.  Ao registrar pela enésima vez o laguinho artificial do Parque Germânia, um quero-quero entrou no quadro à minha revelia.  Dizem que Rubem Braga costumava falar de sabiás em suas crônicas. E há quem diga que Rubem Braga tudo fazia para citar sabiás em suas crônicas.  Talvez, aqui pelo pago, ele devesse falar em quero-queros.  Já devo ter falado em quero-queros em minhas crônicas. Certamente já falei das caturritas. Talvez devesse falar dos pardais, dos joões-de-barro e das pombas-rolas. Mas o fato é que vejo muitos poucos sabiás. Uma vez, um viajante me falou que na Irlanda os pássaros são mais coloridos. E eu fiquei me perguntando por que será que os pássaros da Irlanda são mais coloridos.  E não achei resposta para essa questão. Junho é o último mês do outono austral e o primeiro do inverno. Maio não teve veranico es

Mãe deseja mudar o sobrenome ‘fálico’ do filho, mas o pai é completamente contra

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Mãe deseja mudar o sobrenome ‘fálico’ do filho, mas o pai é completamente contra Metro World News, 29/04/2022 - por Mariana Lienemann Ah, a quinta série! Aquele lugar do qual, como disse o cronista esportivo Everaldo Marques, podemos sair, mas, às vezes, não sai de nós. Aquele momento entre o fim da infância e o início da adolescência, em que somos desejo desorientado e plena dubiedade. E nem sabíamos disso. Claro, falo da minha experiência como menino/adolescente homem cis hétero. Pelo menos é o que me parece ainda hoje. Momento das piadinhas sem graça. Lembra a dos tomates atravessando a rua? Ploft! Ploft! Ou o jingle cujos versos dizem, "joguei o alho pra cima, o alho não caiu", e no refrão se ordena ao tal alho voador que caia. Imagine. Eu já era um adulto jovem, quando ouvia no rádio as desventuras do Papaéu, personagem criado pelo radialista Eron Dalmolin. Piadas de humor negro que bem poderiam ser da quinta série. Mais tarde ainda ouvi Papaéu dizendo seu nome completo,

Reflexões de um velho ranzinza – Malefícios do consumo de cervejas

Com 61 anos, e aguardando a aposentadoria, a vida não tem sido fácil.  Noite passada eu estava tomando umas cervejas.  Eu devia estar na quarta garrafa. A tampinha caiu no chão. Não sei porquê quando eu abri, pelo jeito, a garrafa estava sob pressão. Começou a sair espuma como se eu tivesse abrido uma champanhe sacudida. Fiquei transtornado, gritando palavrão sozinho.  Pior. Quando fui juntar a tampinha, dei um mal jeito na coluna.  25/05/2022