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Mostrando postagens de janeiro, 2023

O vazio de um vaso

Hoje eu me desfiz do vaso da orquídea . Ficou um espaço vazio na área de serviço.  Talvez eu não devesse pensar tanto em um vaso de flores cuja planta morreu, mas eu penso.  O vaso foi-me entregue na noite em que eu participava do lançamento de um livro, uma coletânea de crônicas por um coletivo de cronistas.  Noite de bebedeira, decepções, sustos, alegrias. De tudo um pouco.  Quando chegou, a planta veio com uma bela flor. Como dito, uma orquídea. Depois a flor caiu, mas a planta vinha se renovando. Renovando folhas, renovando brotos. E assim se passaram três anos.  Nesse verão, ela feneceu e morreu. Não sei se foi o calor excessivo. Ou se exagerei na quantidade de água. Foi uma pena.  Ontem fez cinco anos que minha irmã faleceu. Tinha setenta anos então. Tinha uma vida saudável até um ano antes.  Então, em sete meses, vieram as dores, a falta de diagnóstico, a peregrinação por consultas médicas e exames. E o diagnóstico. Câncer de pâncreas.  Feito o diagnóstico, vieram as esperanças

Uma lista feita em 16/01/2023 de várias leituras que ficaram para trás

Eu costumo fazer um registro daqueles livros que termino de ler. Muitas vezes dá certo. Às vezes eu me atrapalho.  Entre as vezes em que me atrapalhei, abaixo vai uma lista de leituras realizadas que ficaram órfãs de registro, com uma ou duas linhas, informando do que se trata o livro. 1. A microjornada do herói, de Jairo Back: um livro fisicamente pequeno, com diversos microcontos. Aqueles contos bem curtos, em que se diz pouco, e se deixa o leitor pensando, às vezes, muito. Por exemplo, para o microconto intitulado “Ansiedade”: -- Céus! Acabou o Rivotril!  2. A cor do outro, de Marcelo Spalding: um livro destinado ao público juvenil, decifrando o nosso racismo estrutural, sutil. Com o detalhe que é um livro que foi escrito antes do termo / conceito “racismo estrutural” entrar em uso corrente, como ocorre nesta primeira metade da terceira década do século XXI.  3. Quase memória, de Carlos Heitor Cony: o livro em que Carlos Heitor Cony faz uma homenagem a seu pai, recriando literariame

A orquídea morreu

E parece que a orquídea morreu mesmo .  Apesar de eu continuar a regá-la, e apesar de minhas orações em favor dela.  O que me fez pensar em tantas pessoas que partiram nos últimos dias, e sobre como elas nos influenciaram e influenciam. Ou não. E não necessariamente na ordem em que se foram.  Por exemplo, Roberto Dinamite. O eterno atacante do Vasco nos deixou no dia 8 desse mês, precocemente, aos 68, em decorrência de um câncer. Como não torço para o Vasco, minha principal lembrança de Dinamite foi nos jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Aquela que o Brasil ficou em terceiro lugar, sem ter perdido nenhuma partida. Ele foi convocado para a Copa seguinte, de 1982, mas não jogou. Ficou na reserva de Serginho. Eu achava Dinamite um atacante melhor. Assim como achava que o goleiro não poderia ser Valdir Peres, mas essa é outra história.  Outra que nos deixou foi Gina Lollobrigida. A atriz, de fato uma multi-artista, se foi dia 16, aos 95. Bom, 95 é uma idade

Diário – Leitura – Um piano dentro da noite

“Honra teu pai e tua mãe”. Está na Bíblia. Livro de Êxodo, capítulo 20, verso 12. Um dos Dez Mandamentos. É isso que Marcelo Villas-Bôas procura fazer em seu novo livro (publicado em 2021), onde traz uma mistura das histórias de sua família e de suas próprias memórias. Para tanto, além de suas memórias como já dito, ele deve ter se amparado em pesquisas, tanto junto a parentes, como em periódicos dos anos narrados no livro (desde a década de 1940 até este século XXI).  Também é uma história de como as pessoas lutam pela sobrevivência e buscam meios para melhorar de vida. Do pai, que tem sua trajetória de músico a advogado. Da mãe, de estudante de internato até administradora. E de Marcelo, desde o primeiro emprego, até jornalista, e, por que não? Escritor.  E também há um foco na cidade de Porto Alegre. E visões sobre como a família e a cidade passaram, entre outros eventos, pela Enchente de 1941, pela Campanha da Legalidade de 1961 e pelo Golpe de 1964. De Marcelo Villas-Bôas eu já ha

Uma noite de boemia literária em 11 de janeiro de 2023

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Coisas da boemia: antes de chegar no Apolinário tive oportunidade de “fazer um aquecimento” em outro estabelecimento. No caso o Boteco Andradas, no centro da cidade.  Quando cheguei ao Apolinário, lá estavam posicionados para a oficina, o Rubem e o Marcel. Se bem que ambos deveriam estar ali desde as 18 h (nosso horário é às 20 h). E também, olhando a mesa, e seguindo o sentido horário, o Luciano, a Silvia e a Marcia. Novos colegas, e, por que não? amigos de copo e escrita. Ou escrita e copo, cada um decide como achar melhor.  E aí começamos com esse novo projeto, de escrever crônicas inspiradas em músicas instrumentais. A primeira música a nos inspirar foi Sertão Alagoano, de Hermeto Pascoal. Nessa primeira noite as crônicas foram variadas. Com o Rubem refletindo sobre a especulação imobiliária em Capão da Canoa. O Marcel estabelecendo propósitos para o ano. O Luciano escreveu, fascinado, sobre o filho pequeno. A Silvia fez uma crônica-poema (ou um poema-crônica? Ou um poema-crônico?)

Diário – Leitura – As Meninas

As Meninas é um livro que aborda a vida de três jovens mulheres, universitárias, que vivem em um internato na cidade de São Paulo, em um período que fica entre o final dos anos 1960 e início dos 1970. Foi publicado originalmente em 1973. As meninas são Lorena, a filha da burguesia do interior do estado; Lia, a menina baiana, filha de classe média que vem estudar em São Paulo; e Ana, a moça pobre que sonha em se casar com um homem rico.  No decorrer da história vemos que Lorena enfrenta dificuldades em um relacionamento amoroso; Lia se envolve com a política estudantil e com a luta armada contra o regime; e Ana tem muitas dificuldades à medida que se torna usuária de drogas.  Me pergunto como o livro foi recebido por público e crítica naquela segunda metade do século XX.  Apesar de sabermos que a trama é ambientada na cidade de São Paulo, no Brasil daquele tempo, o que temos são universos de três mulheres vistos por dentro (nas mentes das personagens) e por fora (quando um narrador desc

Tia Olívia (1930-2023)

Devia ser um sábado como quase qualquer outro. A única coisa menos comum foi que na manhã desse sábado eu resolvi ir a um laboratório realizar os exames que se tornam rotina na vida da gente depois dos quarenta, quando a gente tenta cuidar da saúde.  Do laboratório para casa, resolvi realizar a caminhada diária, recomendada pela médica, aproveitando a falta de pressa e a temperatura amena do início da manhã.  Passei a manhã entre leituras.  No início da tarde, saí para almoçar em um restaurante perto de casa.  Depois do almoço, nova caminhada, até um shopping próximo. Nos dias de verão é bom caminhar sob o ar condicionado do shopping.  De tantas caminhadas, um par de tênis está se entregando. Comprei um novo par de tênis.  Quando eu ia me encaminhando lentamente para a saída do shopping, uma mensagem do Emanuel me interceptou. Tia Olívia, tia-avó dele, tia da Linda havia falecido. Caiu sobre mim o sentimento de luto.  Tia Olívia, a irmã gêmea da Dona Dyva, minha falecida sogra.  Faz qu

Novas Voltas em Torno do Umbigo no Escrita Criativa

Depois de publicar uma meia dúzia de resenhas de livros publicados pela Editora Metamorfose aqui no blogue, o Marcelo Spalding, responsável pela editora e seu ecossistema (curso de formação de escritores e saites), fez uma breve entrevista comigo e publicou o resultado no saite Escrita Criativa .  Confere lá . 07/01/2023.

Um repentino fluxo de visitantes no início de 2023

Ontem, 4 de janeiro de 2023, quando olhei as estatísticas deste blogue, percebi um aumento vistoso de visitantes, isto é, “views” para as mais recentes publicações.  Das 10 ou 15 ou 20 “views” rotineiras por publicação, havia então 70 ou 90.  Fiquei me perguntando a razão.  Depois fui olhar o blogue do Emilio Pacheco  e ele havia citado este Novas Voltas em Torno do Umbigo lá. Eis o motivo razão para o repentino aumento de visitas.  Obrigado, Emilio!  05,06/01/2023. 

Diário – leituras – As Quatro Cartas

Terminei de ler o divertido livro de Sérgio Schaefer ali por agosto do ano passado (2022). Nesta novela acompanhamos as desventuras de um professor que é preso, acusado de enviar uma carta injuriosa ao presidente da federação. Esta é a primeira das quatro cartas.  Por conta disso, ele sofre com a violência policial e com a omissão judiciária. Isso enquanto precisa lidar também com o trabalho precarizado, e sem perspectivas de aposentadoria em qualquer futuro.  O país onde ocorrem a violência policial, a tortura, o abuso de autoridade não é nomeado. Precisa? O gênio do autor aparece no tom satírico, e portanto leve, com que essa história, que deveria ser trágica, é contada. É o humor com que rimos das tragédias que acontecem aos outros.  Além disso, como comenta Marcelo Spalding na apresentação do livro, o autor cria verbos, que são muito naturais. “O sol solava cálido. As pombas pombavam em grupo lá perto do chafariz que não chafarizava.” Ainda Spalding diz na apresentação, “verdade qu

Diário – leituras – Aqui Dentro

Esse foi o segundo livrinho da Editora Venas Abiertas que li. O primeiro havia sido Para diminuir a febre de sentir, de Dalva Soares .  Li o livro Aqui Dentro já faz algum tempo, mas estava enrolado para registrar.  Aqui Dentro é uma coleção de crônicas muito literárias da Nathallia Protazio. São crônicas tão longas e tão literárias que fiquei muitas vezes com o sentimento que lia contos.  Em especial Aldeia Esquina Democrática, onde depois de expor a Esquina Democrática de Porto Alegre (para quem não sabe, é a esquina da Rua dos Andradas com a Avenida Borges de Medeiros no Centro da cidade), ela passa a narrar uma crise que se forma. “Não precisa bater, ele é autista, não vai fazer nada”. Como não se emocionar com a narrativa de Nathallia para a situação? Eu me emocionei.  Também as situações complicadas, extremamente complicadas, que uma mulher tem de enfrentar por conta de relacionamentos, que ela narra em Incisiva.  Ou a dúvida que a afronta (a dúvida a afronta ou afronta uma perso

Diário – leituras – Mugre Rosa

Faz alguns dias terminei de ler o livro Mugre Rosa, de Fernanda Trías. Nesta história ficcional, uma mulher (não lembro o seu nome, não tenho certeza se é nomeada na história) vive em uma cidade, que passa a ser afetada pelo fenômeno de uma névoa vermelha, que mata os peixes, espanta os pássaros, e pode matar ou deixar doentes os seres humanos. A cidade também não é nomeada, mas podemos imaginar que seja Montevidéu, banhada pelo Rio da Prata. A névoa cancela as chuvas, e faz com a cidade seja esvaziada.  Não sei se é coincidência ou não, mas o livro foi lançado em 2020, ano do surgimento da covid-19.  Além disso, não sei se a autora estudou um fenômeno ocorrido no final da década de 1970, na praia do Hermenegildo, no extremo sul do Brasil, que passou à memória de quem vivia naquela época como “maré vermelha”. Na época, começaram a surgir peixes e mariscos mortos em grande quantidade na praia. Depois a mortandade passou a afetar mamíferos como leões e elefantes marinhos. E até animais d

“Idosa é furtada pela segunda vez na rodoviária”

“Idosa é furtada pela segunda vez na rodoviária” “Foi a segunda vez em um ano que ela passou pelo dissabor” A Crônica, 25 de outubro de 2022 – Parece que o autor resolveu nos aproveitar para além daquele livro do ano passado. – Hein? – Nada. Digamos que é um exercício de metalinguagem.  – Hein? – Nada, nada.  – Divagações falaciosas? – Não. Digamos que são reflexões. Alguém pode achar que é brincadeira – Ok. Melhor deixar assim então.  – Mudando de assunto, faz algum tempo que eu queria falar nisso, mas nunca havia oportunidade. Soubeste que a sogra do professor foi roubada na rodoviária? – Sim, sim. Quem da turma naquela época não soube? Muitos comentaram. Mas não ficou claro para mim se foi tecnicamente roubo ou furto.  – Acho que foi furto. Mas que importa a definição técnica? O triste é que a senhora foi vítima.  Esse tipo de larápio parece que tem um “modus operandi”. Em geral ataca a vítima no início da manhã, na área de desembarque. Foi assim que um desses ladrões tentou passar

2022 ainda não tinha terminado (II)

Ontem, dia 30 eu publiquei um comentário breve , dizendo que me enganei em pensar que encerraria o ano de 2022 no blogue com uma crônica publicada no dia 27. A tal crônica de balanço do ano .  Então, no dia 29 surgiram dois fatos que achei relevantes colocar como anotação por aqui.  Um o encontro o colega blogueiro Emilio Pacheco.  Outro, algo inescapável, o falecimento, ou a coroação final, de Pelé.  Pois bem.  Na tarde de 30 de dezembro vi as notícias do falecimento de Vivienne Westwood. E a notícia do falecimento nos faz observar um pouco mais as pessoas que partem. No caso de Westwood, foi possível ler sobre sua rebeldia contra a monarquia, seu engajamento no início do punk britânico, seu ativismo. E pensar que, em tese, ela seria uma estilista, uma fashionista. Ela era bem mais que isso. Também coincidiu de eu estar lendo as memórias do Bono, do U2, e ele estar por Londres tentando cavar o primeiro contrato para a banda, mais ou menos na mesma época em que Westwood estava se engaj