Diário da Peste (XXXVI) - Vou sentir falta de Paulo José



Falta pouco mais de um mês para que tenhamos oficiosamente um ano e meio de peste. Um ano e meio de vidas afetadas pela pandemia. 

Curiosamente estou escrevendo outra crônica extraordinária, porque as publico na terça-feira à noite. E novamente estou escrevendo para publicar na quinta-feira à noite. 

Assim fui olhar o que escrevi na quinta-feira passada. E fora o aspecto que o dia 4 de agosto será um dia para sempre especial para mim, foi possível notar a rotina que está estabelecida mesmo em meio à pandemia. 

Pois quarta-feira foi dia de trabalho em home office, como havia sido na semana anterior. Sem nada de extraordinário acontecendo no trabalho. 

E quarta também foi dia de terapia, como na semana anterior. Sem que a consulta pudesse se tornar visceral, como algumas vezes acontece. 

E na peste, o Diário do Confinamento de Edgar Aristimunho chegou à sua 510ª entrada (quinhentésima décima?). Falou de T.S. Marcon, evocando o outro T.S., aquele dos homens ocos. 

E novamente Maria Avelina publicou crônica em seu saite. Crônica que começou se dizendo a respeito de nada, mas que abordou muita coisa. 

E tomara Aristimunho e Avelina tenham noção de como me felicitam com sua generosidade. 

Vamos seguindo vivendo, seguindo adiante com esses pequenos contentamentos, enquanto o país passa por essa crise sanitária sem fim e por um governo nefasto. 

Novamente vejo o programa de Tio Rei em uma rede social. A maneira de ver notícias com algum filtro. Como eu já disse, para mim Tio Rei se tornou um sábio, nestes tempos de liderança toscas. 

Mais ou menos no final da noite sou surpreendido pela notícia do falecimento do ator (e diretor, roteirista, cenógrafo….) Paulo José. 

Talvez eu não devesse me surpreender, pois Paulo José tinha 84 anos, e devia fazer quase vinte anos sofria de mal de Parkinson. Eu não sabia que ele também era portador de enfisema pulmonar, o que foi noticiado agora nos seus necrológios. 

Eu não era um fã ardente de Paulo José. Mas lembro de flashes na infância do seriado Shazam (Paulo José) e Xerife (Flavio Migliaccio), com a camicleta (que na minha memória seria a camucleta. Fui conferir online). E fui assistir no cinema o filme O Palhaço, estrelado por ele e por Selton Mello, dirigido por Selton Mello. Talvez seu último grande trabalho no cinema, e certamente uma homenagem de Selton a Paulo. E poso lembrar ainda de sua participação em Saneamento Básico, filme de Jorge Furtado. 

Como eu disse, eu não sou ou fui um fã ardente, mas fica na minha memória a figura de um homem boa praça, bonachão. Talvez porque eu não tenha visto nada em que o ator se apresentasse como vilão. Ou não, quando nos tornamos adultos esses maniqueísmos costumam ficar para trás. 

Bom, sempre teremos seus filmes. Quem sabe em algum momento de minha vida eu ainda possa assistir a Todas as Mulheres do Mundo. 

Os obituários falam em falecimento em decorrência de uma pneumonia, contra a qual lutava faz uns vinte dias. O enfisema, provocado provavelmente pelo tabaco, deve ter sido fundamental para esse desfecho. Embora 84 anos possam indicar uma vida longa. Longa, produtiva, próspera. 

Um desses obituários inclusive reproduz um depoimento de próprio punho de Paulo José sobre sua convivência com o Parkinson. Um testemunho belo, franco e sem autocomiseração.

Que descanse em paz. 

Vou sentir sua falta. 

P.S. O corretor ortográfico do editor de texto me adverte que quinhentésima, apesar do chute intuitivo, está errada. O correto é quingentésima. Fica a dica para, quem sabe, eu comentar a quingentésima décima sétima entrada do Diário do Confinamento do Ed. 


11, 12/8/2021.

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