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Mostrando postagens de novembro, 2021

Duque

Às vésperas do dia em que se comemora a Proclamação da República no Brasil, Avelina publicou uma crônica chamada "A rua onde nunca morei" . Uma crônica memorialística celebrando as suas lembranças da rua que está na acrópole do centro da cidade de Porto Alegre.  A rua em que ela nunca morou, mas palmilhou, sendo levada pela mãe na infância, depois, junto com as colegas como estudante secundarista, por fim, como profissional, trabalhando na Praça que está no centro político do Rio Grande do Sul.  A crônica de Avelina disparou na minha cabeça a canção Credo, de Milton Nascimento e Fernando Brant (“Caminhando pela noite de nossa cidade / Acendendo a esperança e apagando a escuridão / Vamos, caminhando pelas ruas de nossa cidade / Viver derramando a juventude pelos corações (….)”). Eu conheci a música no álbum Clube da Esquina 2. Um dos primeiros álbuns que adquiri.  Essa rua em que nunca morei também já foi minha.  Aliás, nunca morei na região central da cidade.  Mas entre 1982

Carta à mãe em novembro de 2021

Oi, mãe.  Hoje é 23 de novembro de 2021. Há pouco tempo era 19 de novembro. Para o Brasil, Dia da Bandeira. Para mim, data da tua morte. Que na minha cabeça nunca ficou claro se foi mesmo dia 19 de novembro de 1995, ou talvez dia 18. Sei que foi por dias assim. Eram dias quentes de novembro de 1995. Era primavera, mas se fosse verão não faria diferença.  A morte depois de alguns dias de agonia. Solitária no hospital. De um câncer originário de mama, mas que já distribuíra metástases inclusive para o teu cérebro.  O final do processo que começou com um nódulo no seio, que decidiste não tratar, porque afinal, “já não tinhas motivo para continuar a viver depois de enterrar mãe, pai e marido”. Deves ter dito isso lá para 1991, pouco tempo depois do falecimento do pai.  Disseste isso, e estávamos ainda ali. Eu, minha irmã, e teu neto. Todos teus. Todos saídos de ti. Não teres motivo para viver me doeu.  Por que escrevo tudo isso agora?  Bem, como eu disse, há pouco foi mais um aniversário d

Disparo

O joão-de-barro não pareceu temer quando o caçador lhe fez mira. Continuou pulando sobre o gramado. Eventualmente parava, depois continuava.  Em determinado momento virou a cabeça e pareceu ficar encarando quem lhe cercava.  O apanhador enquadrou o passarinho e, em uma fração de segundos, disparou.  O bicho deu mais um passo. E continuou com seus pulinhos.  O olheiro vislumbrou a tela de cristal líquido. Não gostou do resultado. Apagou.  24/11/2021.

Diário da Peste (LIV) - Lançamento da Safra Sede 2021: Outros Presentes

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Nesta quinta-feira, 18 de novembro, foi dia de lançamento do livro Outros Presentes, coletânea de crônicas da Oficina Literária Santa Sede. Como a cada ano um livro é lançado, ele é chamado de safra.  O lançamento aconteceu no Shopping Olaria, usando as instalações da Livraria Bamboletras e do Bar e Restaurante Torre de Pizza.  Este ano houve uma peculiaridade: a publicação de um livro relativo à realização da oficina literária na cidade de Canela. Dois dos oficineiros de Canela estiveram no lançamento de Porto Alegre, Fernando Gomes e Silvia Rolim. O livro de Canela se chama Não olhe para trás.  Os autores da Safra 2021 em Porto Alegre (teremos oficina em Canela anualmente daqui para a frente?) são Eugênia Câmara, Marcel Souza, Fernanda Quadros, Viviane Intini, Greta Guimarães, Noara Lisboa, Camila Mossi, Patrícia Neumann e Regina Lydia.  Pude rever o Rubem e a Vanessa. Esperava encontrar o Gian e o Tiago. Talvez a Avelina. Talvez o Ed. Mas não os encontrei. Quem sabe no lançamento do

Crônica publicada na revista Paranhana Literário

E uma crônica que escrevi foi publicada na Paranhana Literário . A Paranhana Literário  é uma revista literária (sim, como está no título) bimestral que publica artigos, reportagens, entrevistas, crônicas, poemas, contos. Faz uma grande curadoria.  Sua equipe incansável, liderada pelo Doralino Souza, divulga e incentiva a escrita e a leitura. A edição deste bimestre, novembro e dezembro de 2021, tem 86 páginas.  Minha crônica O fotógrafo e o Guardinha na Esquina está na página 46.  Antes e depois muito conteúdo, como, por exemplo, a Carta Resposta Sobre as Estrelas Desertas, da iluminada Michele Iost, na página 42.  Agradeço à equipe da revista, em especial ao Doralino, pela publicação.  22/11/2021. 

Experiência Chocante

110 volts.  Sobrevivi.  Como um beliscão misturado com um comichão.  Não sei como seria a 220.  17/11/2021. 

Diário da Peste (LIII) - Fim da Peste?

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A multiplicidade de cartazes anunciando shows sobre os tapumes de um terreno onde já funcionou um posto de combustíveis na Avenida Assis Brasil dá uma sensação de janeiro de 2020.  São anunciados Nei Lisboa, João Bosco, e outros. Me chama a atenção em especial o anúncio do espetáculo Abba Experience.  Os covers musicais para aqueles de nós que não fomos contemporâneos, ou não pudemos assistir a shows das bandas originais. Queen, Abba, Beatles, Bee Gees. Acrescente os que você gosta e sente saudades.  Os shows nas nossas casas de espetáculos mais populares (populares nesse caso não quer dizer necessariamente baratas), o público de volta aos estádios de futebol, as escolas retomando aulas presenciais. Tudo isso acontecendo sem que haja acréscimos de vulto nas internações hospitalares, ou superlotação das UTIs.  É. A vacinação está funcionando.  Para muita gente é como se a peste já tivesse ido embora.  Ela ainda está por aí, mas já não assusta como outrora. Como assustava em março passad

Tabu

Ao, talvez, perceber ruídos vindos do outro quarto, rapidamente aumentou o som da televisão.  Adulto, ficou chocado quando percebeu que os pais voltaram a transar.  28/10/2021. 

Marília Mendonça (1995-2021)

No final da tarde de sexta-feira, 5 de novembro, eu estava prestes a encerrar minha jornada de trabalho, e deveria ir para uma consulta, quando surgiram as manchetes sobre um acidente aéreo envolvendo a cantora Marília Mendonça. Contudo a notícia era boa, porque informava que a cantora estava bem, apesar do acidente.  Era bom saber que a cantora estava bem, porque a foto divulgada do avião mostrava um aparelho bastante avariado.  Tive minha consulta, e depois encontrei meu filho.  Lá pelas tantas, o aparelho de TV do estabelecimento em que estávamos começou a mostrar imagens de Marília Mendonça. E meu filho comentou sobre a morte dela.  Eu olhei para ele e meu mundo meio caiu. Como assim?  Mas era isso que a TV mostrava. Imagens de arquivo com a cantora, que faleceu no acidente. Conforme o estado do avião, talvez tenha falecido instantaneamente.  Eu não costumava ouvir Marília Mendonça, mas sei que ela fazia, ainda faz, imenso sucesso entre as pessoas que gostam de música sertaneja, ou

Diário - cinema - Duna (2021)

E depois de quase dois anos, eis que volto a uma sessão de cinema, para a nova versão do filme Duna, ficção científica baseada nos livros de Frank Herbert, escritos na década de 1960.  E a volta foi em grande estilo, na única sala imax de Porto Alegre, no Shopping Bourbon Wallig.  Durante a compra dos ingressos, fui surpreendido com o pedido de comprovação de vacinação. Tive que fazer um acesso ao ConecteSUS, pois não ando com o comprovante. Demorou alguns minutos a mais, mas nada que fizesse perder o filme.  A sala não estava muito cheia, então o distanciamento foi tranquilo. Não devia haver mais de 30 pessoas onde caberiam mais de 100.  O filme me pareceu uma grande miscelânea de referências.  Apesar de se dar em um futuro para mais de 8.000 anos, tendo a humanidade colonizado muitos planetas, este universo é regido à maneira feudal, com casas de nobres devendo fidelidade a um imperador.  Nesse contexto, o duque Leto Atreides (Oscar Isaac) deve substituir o barão Vladimir Harkonnen,

Talento

O artista quase anônimo muitas vezes se sentia com síndrome do impostor.  Para resolver isso, periodicamente visitava o supermercado para repor seu estoque de determinada marca de chocolates.  Com o estoque em casa, do qual moderadamente consumia pequenos pedaços, o artista se tranquilizava.  Dizia para si mesmo, e podia dizer aos outros, que era um artista com Talento.  01/11/2021.

Diário - leituras - Fala, Belmonte! Memórias do Cronista Esportivo

Hoje aposentado, João Carlos Belmonte foi jornalista, repórter, comentarista esportivo. Trabalhou em todas as grandes redes de comunicação de Porto Alegre, no jornalismo impresso, radiofônico e televisivo, entre o final dos anos 1960 e o início dos 1990.  Para nós que acompanhamos sua carreira nos diversos veículos em que ele trabalhou, eis um pouco de suas memórias.  Um pouco, porque mais de trinta anos de trabalho não se resumem em 120 páginas.  São pequenos e fragmentários relatos sobre coberturas esportivas, em especial o campeonato mundial do Grêmio, no Japão, em 1983.  E muitas lembranças de grandes atletas com quem o repórter conviveu ao longo dos anos. Começando por Pelé, que ilustra a capa. Mas também Maradona, Puskas. Lembranças de jogadores que se tornaram famosos a partir do sul, como Tesourinha, Falcão, Renato Portaluppi.  Lembranças de colegas, como Armindo Ranzolin, Flavio Alcaraz Gomes, Lauro Quadros. E outros. E outros.  Lembranças de coberturas de Copas do Mundo.  Uma

Diário da Peste (LII) - Sessão de Autógrafos de Ménage Atroz na 67ª Feira do Livro de Porto Alegre

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Sábado, 30 de outubro, foi o lançamento e a sessão de autógrafos do livro de poesias Ménage Atroz, do qual sou autora, junto com a Barbara Sanco e a Claudia Lobato, na 67ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre.  O livro é composto de 207 poemas em forma de poetrix, divididos em 69 títulos. As autoras se desafiaram durante a composição do livro. Uma lançava um título e um poema, e as outras tinham que correr atrás.  E assim se formou este livro. Foi concluído em 2018, mas ajustes e a peste retardaram o lançamento para este ano da graça de 2021.  A sessão foi às 19h .  Uma coisa anticlimática foi que as autoras tiveram que ficar separadas em baias, isoladas por divisórias. Ainda uma providência relacionada às medidas de prevenção sanitária por conta da peste.  Apesar das restrições sanitárias, apesar do pequeno espaço da Feira este ano, e do pequeno espaço da praça de autógrafos da Feira, foi bom. Foi bem bom.  Por volta de 19h30min a sessão terminou. Nesse horário a Feira também fech

Um passarinho em 30 de outubro de 2021

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Diário da Peste (LI) - 67ª Feira do Livro de Porto Alegre, Primeiras Impressões

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E a Feira do Livro de Porto Alegre retornou à Praça da Alfândega (que é o seu lugar), após a ausência em 2020.  A 66ª edição da Feira foi transformada em um evento virtual, com diversas "lives" de lançamentos. Um simulacro de livro gigante no centro da Praça foi a mais marcante presença física da edição do ano passado.  Eu estive lá no sábado passado, 30. O primeiro final de semana da Feira neste ano.  Tive novamente uma sessão de autógrafos, mas isso é assunto para outra crônica.  Minha impressão é que a 67ª Feira do Livro parece uma miniatura das feiras dos tempos pré-covid. As barracas se espalham apenas pela Avenida Sete de Setembro e Sepúlveda. Pela Sepúlveda nem chegam à Rua da Praia. E em sentido contrário também não chegam à Rua Siqueira Campos. Bem menos barracas do que os frequentadores habituais da Feira costumam encontrar.  Nesse sábado havia bastante gente entre as barracas. Talvez até demais.  Embora a maioria das pessoas estivesse usando máscaras, era difícil m

Diário da Peste (L) - Nossa nova normalidade

E os saites de notícias  informaram que as fatalidades por conta da covid-19 no Brasil, nesse domingo das bruxas, 31 de outubro de 2021, foram de 314. O que significa um voo transoceânico caindo por dia. A título de comparação, o tristemente famoso acidente do voo AF447  fez 228 vítimas e gerou tremenda comoção.  Temos mais de 300 vítimas por dia, e vamos vivendo como se nada, ou quase nada, estivesse acontecendo.  As escolas públicas estaduais do Rio Grande do Sul estão agendadas para retornar no próximo dia 8.  Bares e restaurantes estão tendo sua lotação liberada ou aumentada.  O público já pode retornar aos estádios de futebol.  E os embrutecidos de sempre gostam de andar sem máscara em ambientes fechados. Se repreendidos, costumam alegar esquecimento ou distração.  Enfim, temos mais de 115 milhões de pessoas com esquema vacinal completo. Mais de 150 milhões com, pelo menos, uma dose aplicada.  Os números melhoram.  Mas ainda temos cerca de 300 famílias enlutadas por dia.  É muito.