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Mostrando postagens de julho, 2021

Reflexões de um velho ranzinza - Gente que atrapalha no transporte coletivo

Sou um velho com 61 anos, que aguarda ansiosamente a aposentadoria. São mais de 45 anos entre desemprego e empregos mal pagos. 45 anos para conseguir um apartamento apertado em um prédio ruim na periferia, uma lata velha do século passado como "carro", e perspectiva nenhuma de bem estar na tal aposentadoria. Sexta-feira e eu indo pro trabalho de lotação. Na boa. Claro que tem motivo. Eu tava queimado. E claro que tem que pagar mais que o ônibus. Faz parte.  Pelo menos é mais confortável e não vem ninguém de pé. Leva quase o mesmo tempo do bus. E me deixa mais pra lá no centro da cidade. Mesmo tempo do bus. Praticamente o mesmo caminho.  E assim vamos chegando no centro. Tenho que descer antes do ponto final pra não caminhar mais.  Afff... Claro, mais um monte de gente também vai descer nessa parada. Vários levantam.  Parou. O pessoal começa a descer.  "Moço, aqui é o ponto final?" A mulher na minha frente resolve perguntar ao motora.  "Não. É lá na Borges."

Diário da Peste (XXXIII) - Veranico de julho de 2021

O mês de julho vai terminando. O fim do início do segundo semestre deste segundo ano da peste.  E, se na primeira quinzena deste mês tivemos algo como uma antecipação de primavera, nesta segunda quinzena podemos dizer que tivemos um veranico de julho, em especial neste final de semana que recém passou.  Tanto no sábado como no domingo tivemos temperaturas máximas beirando os trinta graus, e à noite podíamos dormir com agradáveis quinze graus.  Cheguei a comentar com um amigo se ele não gostaria de ir para Tramandaí curtir um pouco de sol e mar. Ele disse que o fim de semana estava quente, mas não era para tanto.  Para completar este veranico, no domingo à noite a temperatura esquentou na rua em que moro.  Como já falei, o condomínio em que moro parece um trapézio que se alonga no sentido leste-oeste (ou vice-versa). Tem a face mais larga voltada para o norte, e a mais estreita voltada para o sul.  O que eu talvez não tenha dito é que a ruazinha que moro parece um vale entre duas parede

Registro atrasado de leituras - Yossef, o judeu errado

"Yossef, o judeu errado" é uma ficção criada por José Carlos Rolhano Laitano para aquele que a maioria dos cristãos brasileiros conhecem como São José, o carpinteiro, marido de Maria, pai adotivo de Jesus segundo a tradição católica.  Se há algo conhecido da tradição de São José, aqui Laitano trata de humanizar São José, partindo de seu nome hebraicizado. Os tipos de trabalho que um carpinteiro podia fazer na Palestina de dois milênios atrás. Os conflitos de seu noivado com Maria.  Um destaque interessante é a presença ostensiva da cidade de Séforis na narrativa. Séforis era uma cidade importante naquele tempo, e a cidade de Nazaré ficava em seus arredores. Mas curiosamente não há registro que Jesus tenha visitado a cidade.  Eu li em 2016. LAITANO, José Carlos Rolhano. Youssef, o judeu errado. Porto Alegre: wwlivros, 2016. 30/06/2021.

Socorro na angústia

Quinta-feira. Hoje tive uma tosse seca. Estranha.  Sexta-feira. Perdi o olfato. Dores na cabeça. Melhor me isolar no quarto. Vou combinar com a Liane para dormir no quarto das crianças. Muito estranho. Estou em regime de home office. Mal saio de casa.  Sexta-feira à noite. Dor de cabeça. Febre. Parece roteiro completo. Vou pedir pra Liane comprar o tal oxímetro. Estou tomando antigripal para tentar controlar a dor e a febre.  Sábado. Nem dormi direito, com a dor, a febre e o frio. A Liane tem insistido que eu me alimente e hidrate. Não tenho muita vontade de comer nem de beber com esse mal estar, e não sentindo o sabor de nada. Parece que o tempo não passa. Pelo menos, o oxímetro indica 96%.  Sábado à noite. A dor não passa, a febre não passa, os acessos de tosse chatos, a febre que não passa. Oximetria de 92%! Ai, meu Deus! Meu Deus, não me deixe nessa hora!  Sábado à noite, mais tarde. Haja dipirona. Haja líquido. Oximetria ainda em 92%. Pelo menos a Liane e as crianças estão bem.  D

Diário da Peste (XXXI) - Feliz aniversário, Willy

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No dia 15 de julho, foi comemorado o aniversário do amigo João Willy, que atualmente mora além mar. Em Portugal. 60 anos! Poderia se dizer que é oficialmente idoso, um velho. Com direito a vaga especial em shopping, e atendimento preferencial em lojas.  Por outro lado, talvez se pudesse dizer que chegou à idade da razão. Será mesmo? Tenho minhas dúvidas.  Aliás, A Idade da Razão é o título de um livro do filósofo Jean-Paul Sartre. Qual a relevância desse livro hoje? Quem se lembra ou lê Sartre atualmente? Mas, enfim, vou relembrar o que talvez já eu mesmo já tenha dito sobre o significado de 60 anos para os chineses. A pessoa que completa 60 anos já passou por todos os animais do horóscopo chinês, e por todos os elementos desse horóscopo. Um ciclo completo.  Talvez uma preparação para os próximos 60 anos. Por que não? Importante é que Willy está bem. Pelo menos foi o que pareceu.  Foi celebrada uma festa híbrida. Presencial para a família. Virtual para amigos e parentes que ficaram aqu

Diário - leituras - Valsa para Bruno Stein

Comprei este livro em algum balaio da 65ª Feira do Livro, isto é, na Feira do Livro de 2019, véspera do início da peste que tornou a Feira do Livro de 2020 uma abstração de telas de computadores.  Impresso em 1998, estava quase em estado de novo. Há umas poucas marcas que registram um longo período de armazenamento. Sem dúvida, devo ter sido o primeiro leitor desse exemplar.  A primeira edição de Valsa para Bruno Stein é de 1986, e minhas lembranças são que foi um livro que fez sucesso no final dos anos 1980 e início dos 1990, catapultando seu autor à relativa fama em geral, ou fama total nos meios literários. Talvez tenha até sido leitura obrigatória para o vestibular, mas posso estar enganado.  Valsa para Bruno Stein conta a história, como diz o título, de Bruno Stein, um gaúcho descendente de alemães, vivendo na cidade fictícia de Pau D'Arco, que imagino que seja calcada na Três de Maio natal do autor.  Bruno Stein é um ancião, que vive em algum distrito no interior do município

Último Recurso

Rudolf estava de volta ao consultório da dermatologista.  - Então, seu Rudolf, o que posso fazer pelo senhor? - Bah, doutora. A micose voltou com tudo.  - Nós tínhamos trocado para o antifúngico mais forte. O senhor está usando do modo como ensinei? - Sim. Duas vezes ao dia, após lavar a área como a senhora disse.  - O senhor está tomando o coquetel, conforme receitado? Não tomar o coquetel direito abre flanco para aumento da carga viral e abala a imunidade.  - Eu tenho tomado tudo direitinho.  - Vamos dar uma olhada ali na maca.  Rudolf senta na beira da maca. Baixa as calças e a cueca. As virilhas estão tomadas pela micose.  - E então, doutora? - Já estamos lhe dando o remédio mais forte que tem.  - E aí? - O rosto de Rudolf mostrou apreensão. - Vou lhe receitar dez gramas de pentobarbital. A apresentação é em forma líquida. Dose única. O senhor vai precisar tomar tudo de uma vez. Recomendo que o senhor esteja acompanhado de um familiar ou um amigo.  - Dez gramas me parece uma quanti

Diário da Peste (XXX) - Cepa América 2021: Brasil 0 x 1 Argentina

E a Argentina venceu a edição de 2021 da Copa América. Seu décimo quinto título da competição.  Golaço de DiMaria. Se bem que com uma arbitragem amiga. O juiz uruguaio fez vista grossa enquanto Neymar apanhava que nem boi ladrão. Em ao menos duas faltas no armador brasileiro poderia ter havido expulsão de jogadores argentinos.  Entre tantas curiosidades, esta edição do campeonato de seleções sul-americanas deveria ter ocorrido lá, na Argentina. Mas o governo argentino desistiu por conta da pandemia.  Já o governo brasileiro, mesmo com mais de 500 mil mortos por conta da peste, resolveu acolher a Cepa, digo, a Cova, quero dizer, a Copa.  E o Brasil perdeu o campeonato em pleno Maracanã! Mas dificilmente se encontrará algum brasileiro que tenha chorado por isso, à exceção do Neymar (também não sei se vibraríamos muito se a Seleção Canarinho tivesse vencido. Outra questão).  Que situação! Como diz o Juca Kfouri,os brasileiros não valorizam muito o torneio continental apesar das vitórias m

Diário da Peste (XXIX) - Primaverica de julho de 2021?

Eu costumo dizer que Porto Alegre tem temperaturas amenas.  Com isso quero dizer que, mesmo que tenhamos alguns dias de temperaturas mais extremas, a cidade até que nem é tão fria. Se bem que tem alguns dias de verão, que vou te dizer. Mas estamos falando agora de inverno.  O início do inverno, o solstício, a noite mais longa do ano, traz em si uma espécie de redenção. Mesmo com os dias frios, sabemos a partir de então as horas de luz irão aumentando. Lentamente, mas mas sem vacilação.  E depois de umas duas semanas de frio mais intenso, temos passado aí uns dez dias bem agradáveis nesse início de de julho de 2021.  Não dá para falar em veranico, pois a temperatura, em geral, mal passa de vinte graus. E à noite cai novamente, sendo que ao amanhecer já está próxima dos dez.  Mas têm sido finais de manhãs e inícios de tarde muito agradáveis. Plenos de sol. Um sol que não torra.  Bom para quem pode caminhar e aproveitar.  Quem tem condições de tomar seu chimarrão e comer suas bergamotas s

Diário - séries - O Método Kominsky

Cansado de telas, vez por outra acabo assistindo alguma coisa sob recomendação.  Foi o que aconteceu quando assisti "O Primeiro Homem" .  Foi assim com "O Método Kominsky", recomendação de uma pessoa que está entrando para a maturidade, leia-se quarenta anos. Apesar de relativamente jovem pra mim, a pessoa é fã da série. Disse que já viu e reviu.  Bem, O Método Kominsky é uma série basicamente sobre velhice. Nela acompanhamos Sandy Kominsky (Michael Douglas), o Kominsky do título. Ele é um "coaching" de atores, e tem um estúdio em Los Angeles onde treina aspirantes ao estrelato, usando o tal método.  Basicamente acompanhando Sandy, vemos Norman Newlander (Alan Arkin), dono de uma empresa agenciadora de atores, e agente e melhor amigo de Sandy. Ao longo dos capítulos da série veremos algumas vezes os dois reunidos em um restaurante. Sandy bebendo Jack Daniel's misturado com o  refrigerante Dr. Pepper's Diet. Norman bebendo o que me parece um dry mar

Reflexões de um velho ranzinza - Coisas do supermercado que atrapalham

Sou um velho com 61 anos, que aguarda ansiosamente a aposentadoria. São mais de 45 anos entre desemprego e empregos mal pagos. 45 anos para conseguir um apartamento apertado em um prédio ruim na periferia, uma lata velha do século passado como "carro", e perspectiva nenhuma de bem estar na tal aposentadoria.  E olha eu no caixa do supermercado de novo.  Acho que dessa vez não vai ter stress. Só tem um rapaz na minha frente, com um pacote de pão de sanduíche.  Diz para a caixa que vai pagar com débito. Tudo bem.  Tira o cartão, pega a conta mas não vai embora. Que diabos? Puta merda! Recarga de celular!  Pra quê recarga de celular na caixa do supermercado? Até eu que sou velho sei fazer recarga pelo aplicativo.  O tal digita o número dele. A caixa digita alguma coisa. Aí a caixa diz que não deu.  Ele vai tentar de novo. Digita de novo. Não dá novamente. E eu aqui, olhando e esperando.  Tenta mais uma vez. A caixa avisa que não deu de novo. Deve ter algum problema na operadora.

R.I.P. Paulo Pompeia

O obituário da Folha de São Paulo informou que Paulo Augusto Cruz, também conhecido como Paulo Pompeia, faleceu dia 30 de junho passado.  Você não sabe quem era Paulo Pompeia? Nem eu! Mas o obituário disse. Ele foi um artista que começou a trabalhar como palhaço ainda na infância. Foi ator teatral e também trabalhou em diversas emissoras de televisão. Foi presidente do sindicato dos artistas em São Paulo.  Repete-se com ele a máxima que quando um homem morre, morre um universo (ou algo assim).  Mas o que me chamou a atenção mesmo é que Paulo Pompeia é o menino negro que estampou por muito tempo a caixa de um produto que era vendido como “cigarros de chocolate”. E a manchete do obituário enfatiza isso. Seu retrato esteve nas caixas desses “cigarros” desde 1959.  Bons tempos aqueles da minha infância e juventude onde se vendia às crianças um simulacro de um produto que era vendido como charmoso, mas cujo maior efeito eram os danos à saúde.  Bons tempos aqueles em que a gente, recém entr

Uma Tristeza

Eis nosso dia a dia Passar contando feridos e mortos Da peste pandemia  01/07/2021.