Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018
Desde o ano passado que não houve artigo da revista Piauí que me tenha chamado a atenção.
Contudo na edição 141, de junho de 2018, fui surpreendido por uma seleção de poemas de Abbas Kiarostami.
Nas minhas ideias, eu pensava que Abbas Kiarostami era somente um cineasta iraniano. E confesso que não assisti a nenhum de seus filmes.
Agora a revista Piauí publicou um conjunto de poemas de Kiarostami, que achei muito bons. Os poemas de Kiarostami são influenciados na forma pelo "Haikai", ou "Haiku". Estritamente parece que Kiarostami não segue a forma estrita do haikai - três versos, dezessete sílabas, uma estrofe com cinco, uma com sete, outra com cinco -, mas se inspira na concisão, e na apresentação de poemas sem títulos.
A tradução, ou recriação, para o português é de Pedro Fonseca, e a promessa é que saia um livro em agosto próximo, como o nome provisório de "Nuvens de Algodão".
Abaixo alguns dos que mais chamaram a atenção:
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Na tua ausência
converso
contigo,
na tua presença
converso comigo.
Hesitante
estou numa encruzilhada,
o único caminho que conheço
é o caminho de volta.
O aroma das nozes
a fragrância do jasmim
o aroma da chuva sobre a terra.
Aos olhos dos pássaros
o ocidente
é onde o sol se põe
e o oriente
onde o sol nasce,
apenas isso.
Uma mulher de cabelos brancos
observa as flores da cerejeira:
Haveria chegado a primavera da minha velhice?
A abelha
permanece indecisa
entre milhares de flores de cereja
Brotou
floresceu
murchou
caiu
nem sequer uma pessoa a viu
A aranha
deixa os seus afazeres
por um instante
ante o espetáculo do alvorecer
Uma monja
acaricia
um tecido de seda:
Será adequado a um hábito?
Perdoai e esquecei
as minhas culpas
mas não de modo
que eu as esqueça completamente.
Belos!
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