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Auto-Escritor

"Amanhã tenho que passar na editora". São mais ou menos essas as palavras de Paulo, personagem de Carlos Heitor Cony, no livro "Pessach, A Travessia". Um escritor tendo um escritor como personagem é quase metalinguagem.  Mas frase veio recorrentemente à minha mente neste final de 2018.  Um motivo era que a Editora Metamorfose me pediu para retirar os volumes a que teria direito, por conta da antologia "Palavras de Quinta", publicada num sistema de compartilhamento de custos.  Quase simultaneamente, tinham acabado os volumes que eu tinha comigo, de outra antologia em que participei, a "Santa Sede 7, Crônicas de Botequim" (2016) , e entrei em contato com a Editora Buqui, para adquirir mais, já que os autores participantes da antologia podem comprá-los com um bom desconto.  E, de repente, no meio dessas necessidades, acabei realmente por me sentir um escritor. Alguém que já teve textos publicados em livro. Foram três antologias até agora. A

25 de julho de 2024

Em 25 de julho de 2024 será comemorado o aniversário de 200 anos da imigração alemã para o Brasil. Não à toa, dia 25 de julho é feriado municipal em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, primeiro sítio para os imigrantes, que se espalharam dali para boa parte do estado, em especial para o noroeste. Outros municípios gaúchos também têm a data como feriado.  Os imigrantes alemães também chegaram em grande número a Santa Catarina. E há descendentes espalhados por outros estados da federação.  Quando eu penso em alemães penso em um povo que demorou mais que outros europeus a ter um país para chamar de seu. Também penso em cultura refinada de músicos eruditos e filósofos sistemáticos. Infelizmente penso também em Segunda Guerra Mundial e genocídio. Coisas da história.  Uma curiosidade: o idioma alemão é o principal na Alemanha, na Áustria, em Liechtenstein e em parte da Suíça.  Por aqui, os imigrantes alemães ficaram com fama de trabalhadores, talvez até demais. Com uma ética do trabalho prov

Shannen Doherty (1971-2024)

Sábado passado, 13 de julho, faleceu a atriz Shannen Doherty . Ela ficou em nossa memória por interpretar a personagem Brenda Walsh nos quatro primeiros anos da série Barrados no Baile, originalmente Beverly Hills 90210, uma série televisiva de temática adolescente dos anos 1990. O programa era exibido na TV nas tardes de sábado. No Brasil, para essa série, Shannen Doherty era dublada por Marisa Leal. A voz ainda ressoa na minha cabeça. Não lembro de praticamente nenhum episódio, mas ficou a lembrança da atriz com sua beleza e, bem, a voz de Marisa Leal.  Morreu cedo, em decorrência de um câncer. Uma pena.  19, 22/07/2024. 

Diário – leituras – relendo Memória de minhas putas tristes e fazendo uma breve comparação com A casa das belas adormecidas

Memória de minhas putas tristes sobre amor e sexo: “O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança.”  Sobre envelhecer: “Acontece que a gente não sente por dentro, mas de fora todo mundo vê.” Eu havia lido Memória de minhas putas tristes há três anos . Gostei bastante do livro. Foi então que eu soube que García Marquez teria sido influenciado pelo escritor japonês Yasunari Kawabata, com seu livro A casa das belas adormecidas. Li o livro de Kawabata recentemente  e também gostei. Foi pela recente leitura de Kawabata que resolvi reler o colombiano.  Assim, esse texto é algo como uma pequena comparação entre os livros, além de um marco para essa mais recente leitura.  Clima: o ambiente do livro de Kawabata é invernal. Não consegui identificar exatamente onde se passam as noites do velho Eguchi, personagem protagonista da história. É possível que seja Honshu, onde fica Tóquio, que é bastante fria no inverno. Mas na minha cabeça a história se passa em Hokkaido, cuja cidade

Depois da catástrofe de maio de 2024 – IV

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Quarta-feira, 10 de julho, estive no centro de Porto Alegre para resolver dessas questões do dia a dia. Tomar cafezinho com gerente de banco – ainda é possível fazer isso em banco físico; imprimir documentos – sim, sou do tipo que imprime coisas; almoçar com amigos.  Quando caminho pelo centro de Porto Alegre, algumas vezes, ainda posso me dar ao luxo de flanar, caminhar com pouca preocupação sobre o destino, ou o tempo da caminhada.  Quarta-feira foi um dia típico de inverno porto-alegrense, quando o dia de inverno porto-alegrense parece típico: baixa temperatura – pouco acima de dez graus na máxima; céu nublado, em alguns momentos com uma garoa fina. Felizmente sem vento.  O almoço foi com um amigo, o colega escritor e blogueiro Emilio Pacheco . Almoçamos no Boteco Andradas, em frente a Casa de Cultura Mário Quintana. Nisso já houve uma quebra de padrão, pois em todas as outras ocasiões em que almoçamos juntos, o local foi a praça de alimentação do Rua da Praia Shopping. A praça de a

Segunda semana de julho de 2024

Vale dizer que estou considerando a primeira semana aquela iniciada na segunda-feira, 1º de julho.  Nesta segunda semana estamos vivendo sob baixas temperaturas decorrentes da entrada de uma massa polar vinda do sul. Parece inverno. Não casualmente é inverno. Os termômetros mostram temperaturas de um dígito durante a noite e a madrugada, e durante o dia essas temperaturas dificilmente vão acima de dez graus.  É um frio que achamos desconfortável, mas nada como o recente inverno boreal, onde, no leste da Europa, russos e ucranianos continuavam se matando, após dois anos. Nada como parte da população de Gaza que teve que enfrentar o inverno em tendas, pois tiveram suas habitações destruídas, isso quando não pereceram junto com as residências. No hemisfério norte agora é verão, mas essas situações do inverno passado continuam acontecendo.  Acho que está frio em Porto Alegre, mas sempre acho que há lugares mais frios. Começando por outros municípios do Rio Grande do Sul, como os da região

Jeverson Garníze (1961[?]-2024)

Na vida é assim. Tem um tempo que você fica próximo de uma pessoa. A pessoa é quase parente, tipo casado com a irmã da sua esposa. Se frequentam casas, fazem celebrações de aniversário juntas e coisas do tipo.  Depois tem um tempo em que as coisas mudam. Os filhos crescem. A pessoa se separa. Você se separa. A convivência some.  Você fica sabendo de notícias que vêm como telegramas. “Jeverson casou de novo”. “Jeverson pegou covid; foi internado, entubado; ficou entre a vida e a morte na UTI; perdeu muito peso; ficou com sequelas”. “Jeverson tem tido dificuldades até para subir dois andares de escada”.   Hoje a notícia chegou pelo aplicativo de mensagens, também como se fosse um telegrama. “Jeverson faleceu”. E eu perplexo. Sempre vêm os questionamentos automáticos. Como? Quando? Em que circunstância? Nada. Perguntei por velório e sepultamento. Nada. Já tinham acontecido.  Choque. Perplexidade. Tristeza. Eis os sentimentos que explodem dentro da nossa cabeça e fazem com que nos sintamos

Diário – filmes – Godzilla Minus One

E eis-me levado de volta às minhas primeiras recordações de filmes na TV durante a infância. Eu devia ter uns seis anos de idade, quando vi o primeiro filme de Godzilla, na primeira televisão, em preto e branco, que entrou na nossa casa. Isso lá pela primeira metade da década de 1970. Obviamente não lembro praticamente nada dos filmes da décadas anteriores – 1950 ou 1960 – que as emissoras transmitiam.  Pelo que entendi esse Godzilla Minus One (Japão, 2023) é também uma celebração dos setenta anos do primeiro filme com o dinossauro atômico.  Com direção e roteiro de Takashi Yamazaki, e estrelado por Ryunosuke Kamiki (Shikishima) e Minami Hamabe (Noriko), além de ser um filme de monstro, também é um tremendo dramalhão, eu diria bem em um estilo japonês, em que os personagens sofrem, choram, mas, mesmo assim, tentam se conter ao máximo. A propósito, para quem espera muito do monstro, o filme se concentra mais nos dramas dos humanos que no bichão radioativo.  No final da Segunda Guerra, S