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Mostrando postagens de abril, 2021

Dividido

Quando duas meninas caçoaram dele durante sua caminhada("Moço careca! Moço careca!"), o homem se sentiu dividido. Não sabia se ficava chateado de ser chamado de careca, ou contente de ser chamado de moço.  26/04/2021. 

Uma lembrança numa camiseta

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  Caríssima, Como deves lembrar, visitei Buenos Aires em 2008. A única vez em que estive naquela cidade.  Minha impressão foi a de mais uma cidade de país subdesenvolvido, com sujeira e pedintes, embora com arquitetura bem preservada, e, claro, com o charme de uma Capital Federal.  Curiosamente o amigo que me acompanhava, também em sua primeira e única viagem à cidade, contou que se sentiu como se estivesse uma cidade europeia. Difícil avaliar já que nenhum de nós dois tinha estado em uma cidade europeia. Mas sinal que ele ficou com melhor impressão da cidade que eu.  Foi bom contar com a hospitalidade da maioria das pessoas com quem interagimos, embora eu possa lembrar de algumas pessoas com bastante animosidade em relação ao turista que eu era.  Foi bom passear para Avenida Florida, pela Plaza de Mayo e ver a Casa Rosada. Caminhar pela praça em frente ao Congresso. Ir ao inevitável (para turistas de primeira viagem) show de tango. Avenida 9 de Julio. E até o zoológico.  E as também i

Marluz Silva (+23/04/2021?)

  A notícia do falecimento de Marluz Silva me chegou ontem, dia 23 de abril de 2021, pela linha de tempo de uma rede social, da Flávia Silva, filha da Marluz.  Manter algum contato pelas redes sociais, tendo se afastado da comunidade evangélica da qual participava dá nisso. Sustos. Choques repentinos. Tristezas e lágrimas repentinas.  Deixei algumas palavras nas linhas de tempo da Flávia e do Lúcio, os filhos. Até o momento não obtive qualquer resposta, o que faz bastante sentido. Com um luto desses, é de se esperar que não se fique gastando tempo em redes sociais. Que Deus os console.  Me vieram lembranças de Marluz, que eu sempre via animada na igreja. Quase sempre sorrindo. Boas lembranças. Como faz uns vinte anos que rareei meu contato com a comunidade, e pelo menos uns cinco de afastamento total, o tempo passou para todos. Para mim e para a Marluz. Que idade ela teria? O que a levou? A peste? Hoje a gente só pensa na peste. Enfim, tudo são interrogações. Seguimos. Por enquanto.  2

Diário - Leituras - O Imperador de Todos os Males: Uma Biografia do Câncer

Como o subtítulo indica O Imperador de Todos os Males é uma "biografia" do câncer. Poderíamos de fato chamar de uma história do câncer, levando em consideração que hoje sabemos que o câncer não é apenas uma doença, mas, pelo menos, algumas.  Neste livro Mukherjee fala desde os primeiros registros de pessoas que podem ter tido câncer, na Antiguidade, até os avanços mais recentes no diagnóstico e tratamento da doença, com base em microbiologia e genética.  Mukherjee mistura algumas histórias pessoais, começando por uma paciente sua, passando por médicos pioneiros em diagnósticos e tratamentos. E, claro, revelando como foram sendo concebidos esses tratamentos. A famosa quimioterapia, por exemplo.  Me espantou o fato que os tratamentos de ponta para a doença, tenham sido desenvolvidos dos anos 1990 para cá. Ou seja, o tratamento para alguém em 1960 e 1990 não era tão diferente, quanto pode ter se tornado, desde então.  Essa história do câncer é muito centrada nos Estados Unidos.

Around nine that night

  Eu e minha memória auditiva.  Estava trabalhando escutando uma lista aleatória da músicas, oferecidas pelo aplicativo. Fui surpreendido por 'Round Midnight, de Baden Powell (que era um músico brasileiro apesar desse nome inglês. Se bem que há um Baden Powell, fundador do escotismo. Provavelmente o nome do brasileiro é em homenagem ao inglês. Divago).  'Round Midnight, e seu forte som de contrabaixo, me levou para uma noite, num pub na Cidade Baixa.  Era a abertura de uma exposição da Mirella. Eu estava lá porque sou amigo do Guerra, marido da Mirella. Além de mim, familiares dela, amigos, colegas. Outro amigo do Guerra, o José estava conosco lá. Foi fotografar o evento.  Entre um hambúrguer e vários chopes, chopes de distintas variedades como se tornou comum, começou a apresentação de um dueto de jazz. Um guitarrista, e uma moça tocando um contrabaixo. Jazz! Apesar do ambiente legal, da boa música, comida e bebida, pensei em Carlinha.  Estou sempre lembrando dela. Quer dizer,

Diário - Leituras - O encontro marcado

  "O encontro marcado" narra a história de Eduardo Marciano, desde sua infância até a idade adulta.  Como talvez se pudesse pensar, a história de Marciano tem paralelos com a vida de Fernando Sabino. Mas como não poderia deixar de ser, há diferenças, para confirmarmos que literatura não é apenas a vida colorizada.  Para mim, o que mais valeu foi o livro mostrar um pouco da vida daquela classe média, que viveu no Rio de Janeiro, então Capital Federal, no final da ditadura do Estado Novo e nos primeiros anos da república liberal burguesa (República Liberal Burguesa! Baita nome para o regime que vigorou no Brasil entre 1946 e 1964). Como Eduardo Marciano, Fernando Sabino foi um mineiro que migrou para o Rio de Janeiro naqueles anos 1940.  Razoável. A edição que leio é de 1980 para um livro publicado originalmente em 1956.  Fernando Sabino era um escritor importante até os anos 1990. Falecido em 2004, qual sua relevância hoje? SABINO, Fernando. O encontro marcado. Rio de Janeiro

Adeus, Seu Vavá

Caro Senhor Vilmar, Nós nunca fomos íntimos. Convivíamos. Os cumprimentos formais de bom dia, boa tarde, boa noite, quando nos víamos.  Ou as inevitáveis reclamações de parte a parte, afinal o senhor era o síndico, e eu um condômino.  Levando em consideração que o senhor já era um veterano quando lhe conheci, não diria que o senhor ainda tinha uma vida inteira pela frente, como diz o chavão. Mas certamente alguns anos, pela vitalidade que o senhor demonstrava. Quantos? Dez? Quinze? Vinte?  Nunca saberemos.  Fiquei chocado ao saber da notícia do seu passamento. Não sei quando foi, assim como confessei acima que não sabia de sua idade. Recebi a notícia no domingo, 11 de abril, 2021. Se pudesse haver humor nisso, diria que foi em 11 de quatorzembro de 2020.  O senhor, seu Vavá, mais uma vítima da covid-19.  Foi por causa da nova cepa de vírus? Foi por causa das UTI's superlotadas desses dias? Quanto contribuíram para isso as ações e omissões de nossos governantes? Que adianta agora? S

Tarde de Domingo

A menininha com maria chiquinha nos cabelos vinha pedalando em sua bicicleta com rodinhas, vigiada com olhos cuidadosos pelos pais.  Ao passar por um senhor idoso, sentado sozinho no banco da praça, ela olhou para ele e disse "oi".  O vovô sem netos respondeu "oi". E sorriu.  12/04/2021.

Yom HáShoá

A notícia saiu no Correio do Povo em 8 de abril, passado, reproduzindo despacho da France Press. A manchete dizia "Israel recorda o Dia do Holocausto", e o primeiro parágrafo da notícia dizia que "A vida parou em Israel por dois minutos nesta quinta-feira (8), às 10h (5h de Brasília), e as sirenes tocaram para recordar o Dia do Holocausto em memória dos seis milhões de judeus exterminados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial." Há um Dia Internacional de Lembrança do Holocausto, 27 de janeiro, estabelecido pela ONU em 2005, tendo como base o dia em que o exército soviético liberou o complexo de campos de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau.  E há o feriado israelense, o Yom HáShoá, celebrado segundo o calendário hebraico, em 27 de nissan. Por conta do uso do calendário hebraico, esse feriado varia para o calendário cristão ocidental, podendo cair em abril ou em maio. É um fator de união nacional para a população judaica daquele país, cerca de 7

Diário - leituras - Clube do Rock

Acompanhando, mais ou menos, a carreira desses dois escritores, resolvi ler esta breve novela juvenil, escrita em conjunto.  Se trata de uma narrativa longa de dois adolescentes, Cássia e Nando, às voltas com suas adolescências. A vida na escola de ensino médio, os relacionamentos, e, para temperar tudo, uma banda e um festival de rock na escola.  A maior parte da narrativa se desenvolve sob a peculiar troca de cartas entre os protagonistas. Peculiar porque no século XXI, em que o correio eletrônico já é considerado obsoleto por muitos, o que se dirá de cartas, meio que talvez venha desde a Antiguidade sendo usado para troca de mensagens.  Mas, por motivos que a narrativa explica, é esse o meio usado, e, pelo qual os personagens vão expondo seus problemas, e procurando a maneira de superá-los.  Permeia ainda esta história, os trechos de canções de rock brasileiro dos anos 1980 e 1990. Eu que estou a caminho da dita "melhor idade" achei ótimo. Mas o que será que pensa dessas m

Precipitação

A conversa entre os amigos por videoconferência estava começando.  "E aí, João, o que se conta de novo?" "Tudo bem, Ricardo? Tomei a vacina..." "Bah! Parabéns! Menos risco. Mas vem cá, a tua faixa etária não era para daqui a um mês e meio?" "Tomei a vacina contra gripe. Tu me atalhou." "Ah!" 01/04/2021.

Alfredos

Ontem, 7 de abril de 2021, faleceu o professor, escritor e crítico literário Alfredo Bosi, aos 84 anos. Mais uma vítima da covid-19.  Faleceu no dia em que se comemora o Dia do Jornalista no Brasil.  O professor se chamava Alfredo. Um dos obituários revela que ele deixa dois filhos, isto é, uma filha, Viviana, e um filho, José Alfredo.  José Alfredo, o Comendador, é um personagem da telenovela Império, que a TV Globo vai reprisando por agora, também por conta da pandemia.  Alfredo sou eu, por conta de meus pais, de alguns amigos ao longo da vida, e até por uma amante.  Comendador me tornei ao participar na oficina de criação literária Santa Sede.  Talvez se torne um meu heterônimo.  08/04/2021.

Percepções

Porto Alegre é uma cidade de temperaturas amenas. Quero dizer, Porto Alegre não é muito fria no inverno. Sim, pode ser sufocante em certos dias do verão. Mas agora estamos no outono, e o outono vem justamente amenizar os calores do verão.  Percebo que é outono pelo sol batendo à minha mesa de trabalho em casa, no final da manhã.  Após um ano de teletrabalho, a percepção do sol entrando ou não pela janela vai marcando o passar dos dias.  O sol bate em minha mesa no início do outono. O sol vai à minha cama em pleno inverno.  O privilégio de morar no sul, voltado para o norte.  A bisnagueira no pátio do condomínio ainda tem flores, mas menos que no outono passado (o auge da floração foi no verão mesmo).  E pensar que pela janela da internet podemos ver a floração das cerejeiras na primavera boreal.  Neste outono, como em outros outonos, o dia amanhece fresco, e no início da tarde o sol nos aquece quase como se fosse verão. Só para refrescar no início da noite. Em outros tempos, sairíamos

Arcaico

As duas amigas, Lídia e Helena, tinham resolvido fazer um happy hour. Helena era vendedora, Lídia trabalhava no suporte administrativo da loja.  Resolveram beber confraternizar porque não sabiam como seriam as coisas dali por diante. As notícias diziam que o novo vírus oriundo da China já estava no Brasil. O governador determinou que as aulas da rede estadual fossem canceladas a partir da próxima segunda-feira, e recomendou que quem pudesse, aderisse ao "home office".  Foram a um bar na mesma Assis Brasil da loja de departamentos em que trabalhavam. Desses bares moderninhos e acolhedores, onde mulheres podem ir com menos medo de serem assediadas. O garçom informou que a partir de segunda, o bar só venderia produtos para levar e faria tele-entregas.  Nas poucas quadras entre a loja e o bar vieram conversando sobre o perigo que se apresentava.  Sentaram em uma mesa com vista para a avenida. Quando o garçom tomou os pedidos, Helena pediu caipirosca de morango, e Lídia de kiwi. A