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Mostrando postagens de maio, 2022

Uma semana difícil, 23 a 29 de maio de 2022

“Estamos tendo uma semana muito difícil….” Eis a frase que entrou no aplicativo de mensagens. Era sexta-feira, 27 de maio de 2022. Havia recém sido publicada a notícia do falecimento do jornalista David Coimbra. David Coimbra era um jornalista querido por seus colegas, aqui no Rio Grande do Sul. Como comunicador entrava em nossos lares, fosse pelo jornal, rádio ou TV. Faleceu relativamente jovem, 60 anos, depois de uma longa luta contra o câncer.  Então a pessoa comentou também do falecimento de Andrew Fletcher , baterista da banda Depeche Mode. Em uma coincidência infeliz, também aos 60 anos.  Aí foi a minha vez de lembrar do falecimento de Alan White , baterista do Yes. Também trabalhou com John Lennon e George Harrison.  A semana havia começado com a notícia do falecimento de Colin Cantwell . Eu não o conhecia antes da notícia de seu falecimento ser publicada. Estudou animação na Califórnia, e arquitetura na Escola de Frank Lloyd Wright. Ainda trabalhou na NASA. Mas o que o torna co

Diário – leituras – O centauro no jardim

Em uma colônia no norte do Rio Grande do Sul, um casal judeu, gera um filho que é um centauro. Sim, aquele ser mitológico, parte humano, parte cavalo.  O nome que lhe é dado é Guedali. E no livro O centauro no jardim, veremos o desenvolvimento de sua vida até a idade adulta.  A história se passa entre muitos cavalos.  Desde a cavalaria cossaca que promove pogrons no oeste da Rússia entre o final do século XIX e o início do XX, até o sul do Brasil com a lendária cavalaria Farroupilha.  Os pais de Guedali migram para o interior do Rio Grande do Sul para fugirem dos pogrons a que estavam sujeitos se permanecessem no leste da Europa. E ao norte do pampa nasce esse filho extraordinário. Que por sinal tem um irmão e uma irmã “normais”, digamos assim, isto é, humanos e não centauros.  Com o nascimento de Guedali, Moacyr Scliar insere seu nome no realismo fantástico. Outros seres místicos surgirão no decorrer da história.  Acho que já li algo sobre Guedali ser uma alegoria mesma do judaísmo, n

Diário – leituras – Pequenos grandes nós

Neste pequeno grande livro de histórias infanto-juvenis, a autora resolveu retratar seis crianças, vivendo em seis décadas diferentes.  De alguma maneira, em todas as histórias, o tema do que costumamos chamar de perda da inocência (você lembra quando se deu conta que o Papai Noel não era um velhinho que vinha voando em um trenó puxado por renas voadoras?). A autora estudou. A história de Rosa, nos anos 1960, é marcada pelo Golpe. A história de Tom, nos anos 1970, me levou para o tempo das ditaduras do Cone Sul, em especial a uruguaia (1973-1985). A de Amanda, nos anos 1980, me levou para o Brasil inflacionário daquela década. As histórias de Cecília e Miguel, entre os anos 1990 e a primeira década do século XXI, me soaram como um interlúdio. E o livro termina com Robson, um menino diferente (uso o adjetivo diferente para evitar spoiler), que aparece nos anos 2010.  Adulto que sou, li como adulto. Fiquei me perguntando se este livro poderia ser usado em escolas, e me parece que sim, em

Reflexões de um velho ranzinza – Resta um

Com 61 anos, e aguardando a aposentadoria, a vida não tem sido fácil.  Quando eu estava no primeiro grau, de fato no primário, eu tinha um colega chamado Marcelo.  Uma vez ele me convidou para ir na casa dele. Talvez tenha sido mais de uma, mas essa eu acho que me lembro melhor. Ele tinha um joguinho chamado de Resta Um. Eu não conhecia. Era um tabuleiro quadrado azul, com um monte de pecinhas brancas. A gente ia fazendo uma pular por cima da outra, mais ou menos como no jogo de damas. Aquela que foi pulada saía. Até que só sobrasse uma peça. A topizera, como a gurizada fala hoje, era deixar a peça que sobrava no centro do tabuleiro. Um brinquedo para se brincar sozinho.  Às vezes eu fico olhando para as cartelas dos comprimidos que eu tomo, e me lembrando daquele joguinho. “Uso contínuo” o doutor escreve na receita. Vou tomando. Tem um momento que resta um. Depois nenhum.  Quanto tempo me resta? 25/05/2022 

A magia das tecnologias incrementais

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O algoritmo do aplicativo de fotos me lembrou de “há 11 anos”.  Mas o aplicativo estava enganado. Não por má-fé, mas por ignorância.  As fotos eram de mais de 30 anos atrás. Foram digitalizadas em 2011, e essa data passou para o arquivo digital do antigo registro em película. À velha magia da fotografia, veio se juntar a nova magia do algoritmo. Magia do século XIX, a fotografia com filme atingiu seu auge nos anos 1990. Então, na década seguinte, a fotografia digital se tornou predominante.  Novembro de 1990. Uma viagem para Florianópolis. Emanuel recém havia completado 2 anos. Tínhamos um velho fusca 1969, que muita gente acreditava que não chegaria à capital do estado vizinho. Chegou e lá recebeu um choque de uma motorista nativa. Passou uma semana em uma concessionária Volkswagen. Coisa essa, estar em concessionária, que acho que fazia muito tempo que não acontecia com o carrinho.  Ao contrário de uma certa tradição gaúcha, não vou muito à Florianópolis. De fato só fui essa vez. Lin

Diário – leituras – Dois nós

Com a morte de sua mãe, Eloá, Camila se acha sozinha no mundo. Órfã em Porto Alegre. O pai ela não conheceu, havia morrido quando ela era bebê. Isso está nas primeiras páginas do livro Dois nós, de Carolina Panta (a autora grafa o nome sem maiúsculas, isto é, dois nós).  Em busca de suas raízes, ela acaba por se dirigir ao litoral norte gaúcho. Os locais não são nomeados, mas quem conhece a região os há de reconhecer.  A história é contada entre as recordações de Camila, como os trabalhos da mãe, os momentos de escola, o namoro. E também recupera aquilo que Camila não lembra, porque não participou dos eventos.  Escrito por uma mulher, o livro traz situações de opressão feminina. Em um exemplo, uma simples dança pode sujeitar uma mulher a rótulos pejorativos e todo nível de violência. Ou a carga que traz uma frase repetida ao longo da história, "às vezes, é melhor não resistir." (não tenho certeza que a frase seja exatamente assim, mas minha lembrança me remete nesse sentido).

Inquietação sobre o fim

Inquieto sobre o fim da novela que estava escrevendo, o obscuro escritor pensou muito. Foi ao final do arquivo do futuro livro e escreveu: "FIM". Olhou. Continuou pensando.  Não se sentiu satisfeito.  19/05/2022.

Invernico de maio, versão 2022

Maio, este mês de outono austral.  Em Porto Alegre, todo ano somos acostumados a celebrar um certo veranico em maio. Alguns dias no mês em que a temperatura sobe, e nos sentimos como se estivéssemos em um pequeno verão.  Neste ano, o veranico ainda não deu bem as caras.  Pelo contrário. Hoje, segunda-feira, dia 16, a cidade amanheceu com 10 ºC. Uma temperatura que costumamos ter no inverno porto-alegrense. A meteorologia ainda prevê um ciclone para os próximos dias, terça e quarta. Será? O certo é que hoje amanheceu frio; no final da manhã começou um vento forte; e no meio da tarde o tempo nublou. Não que o veranico não possa vir.  Mas parece que estamos mais para um invernico, um inverninho antecipado, que para um verão atrasado.  16, 17/05/2022. 

Reflexões de um velho ranzinza - Mijar

Sou um velho com 61 anos, que aguarda ansiosamente a aposentadoria. São mais de 45 anos entre desemprego e empregos mal pagos. 45 anos para conseguir um apartamento apertado em um prédio ruim na periferia, uma lata velha do século passado como "carro", e perspectiva nenhuma de bem-estar na tal aposentadoria. Mijar. Ou urinar como diz quem quer ser menos bagaceiro.  Acho que não tenho nenhum problema sério de próstata. Com a minha idade, eu ainda mijo forte.  Coisas de louco da vida. Eu mijo sentado no vaso. Começou quando eu estava com uma mulher. E agora mesmo sozinho eu ainda faço isso. Acho que suja menos, porque quando a gente mija de pé espalha respingo pra tudo que é lado. Assim fica menos sujo.  Num final de tarde, no bar, quando falei isso pro meu sobrinho ele riu. Me chamou de bicha, de metrossexual. Até de esquerdista. Eu ri junto e dei de ombros.  Acho que com a minha idade e sem grandes dificuldades de mijar, eu deveria estar contente. Fico chateado, e acho estran

Uma foto perdida em um livro

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“Oi, Zé. Dentro de um dos livros veio uma foto.” Bárbara me alcançou pelo aplicativo de mensagens. E me enviou uma cópia da foto.  Me perguntou se eu não sabia de quem era, para poder devolver.  Eu expliquei que não sabia de quem era a foto. Veio de bônus no livro, que por sua vez havia sido adquirido em um sebo.  No caso o livro era The Buenos Aires Affair, do argentino Manuel Puig, já registrado no blogue .  Ela ainda comentou que achava que pudessem se tratar de parentes meus.  Quando abri o livro e achei a foto, fiquei indiferente, uma foto como tantas outras que existem registrando um aniversário infantil.  Mas agora que Bárbara me chamou a atenção para a foto ela se tornou significativa.  Resolvi me deter mais na imagem.  Uma avó e um avô. Uma menina de talvez dois anos no colo da avó. Um menino aniversariante fazendo nove anos, como denuncia o bolo, acolhendo o braço da avó sobre seu ombro. Um aniversário. O sorriso franco da avó. O sorriso discreto do avô que não toca as crianç

A Cafeteira

– Oi! Tu tem uma cafeteira para me dar? Era Linus me chamando pelo aplicativo de mensagens.  – Não. Só tenho a minha. – Respondi. – Ah tá! Mas eu tinha de perguntar. Depois de emprego de carteira assinada e do trabalho de motorista de aplicativo (Tem aplicativo para tudo hoje!), ele resolveu se estabelecer como “microempreendedor individual”, fazendo todo tipo de pequeno trabalho passível de ser feito em um escritório com computador e internet. Faz uns dois anos que somos um rolo um do outro.  Depois dessa pequena comunicação, encerrei meu turno de trabalho e fui almoçar.  Após o almoço, fui passar um café. Coloquei pó e água na máquina e voltei aos meus afazeres.  Uns minutos depois senti um cheiro de fio queimado.  Fui à cozinha e a cafeteira estava em aparente curto. O plugue derretendo na tomada. Desliguei o disjuntor. Minha cafeteira foi para o beleléu.  Resolvi enviar uma mensagem a Linus.  – Tá bom! Eu te compro uma cafeteira! Que olho o teu, hein? – Kkkkkk... – veio a mensagem

Uma terça-feira de outono de 2022

Ontem choveu o dia inteiro. Hoje amanheceu chovendo. E a meteorologia informa que deve seguir chovendo até amanhã.  Semana passada tivemos uma quarta-feira de verão em pleno outono.  A Índia enfrenta uma das piores ondas de calor dos últimos muitos anos.  Talvez seja a crise climática mostrando a sua cara. E assim a vida segue.  Por volta do meio-dia a chuva deu uma estiada. E eu aproveitei o intervalo do trabalho para sair. Me vesti, peguei o guarda-chuva e fui. Precisava sacar um dinheiro para não ficar a zero. De quebra já aproveitaria para fazer uma pequena compra no hipermercado, onde fica o caixa automático.  No início da peste eu lembro de muitas mensagens em redes sociais incentivando a que fizéssemos compras nos pequenos comércios de bairro. Eu até tentei. Comecei a fazer compras em um mercadinho próximo de casa. Como recompensa, recebi preços mais altos, caras emburradas, e gestos bruscos e grosseiros no caixa. Desisti.  O tal hipermercado fica mais longe, mas não tão mais lo