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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Reflexões de um velho ranzinza: Férias

Tenho 61 anos. Trabalho há mais de 40. Não gosto de pensar muito do que fiz da minha vida.  Agora é início de ano. Férias. Época que muita gente tira férias.  Meu sobrinho tirou.  Antes de sair, quando nos encontramos para beber cerveja uma sexta dessas, ele me mostrou no celular fotos de redes sociais de amigos e conhecidos dele. Só foto boa. Pessoal na praia. Em piscina. Sempre com uma cerveja. Às vezes umas bebidas coloridas com gelo, canudos e rodelas de limão. Esse pessoal parece que vive bem. Eu também deveria tirar férias. Até vou tirar. Mas só no papel. Eu assino a papelada, mas continuo vindo trabalhar. Não registro no livro ponto.  Vou fazer o quê? Preciso do emprego. E com o que ganho não dá para ficar dez dias na praia. Então melhor fazer isso mesmo.  O patrão paga um dinheiro a mais por fora. E eu tenho um respiro nas contas.   24/02/2022. 

Diário da Peste (LXV) - Praça Fortunato Pimentel Devolvida

Nesta semana que passou, terminada neste sábado – 19 de fevereiro de 2022, foi entregue de volta à comunidade a Praça Fortunato Pimentel.  Eu a citei de passagem duas vezes no blogue. Uma foi em outubro de 2020 , ainda no primeiro ano da peste. Nessa crônica eu falava de minhas caminhadas, e de uma obra de saneamento que nunca parava, apesar da pandemia.  A outra foi há pouco mais de um ano, no início de fevereiro de 2021 , época em que a vacinação contra a peste engatinhava, mas também época em que as caturritas se banqueteavam com mangas deixadas baldias no condomínio em que moro.  Esta semana, a caminho de uma consulta, quando o carro do aplicativo passou pela praça, percebi, na verdade me surpreendi, com a ausência da cerca de arame, que eu costumava ver, cercando a praça.  Não sei se houve uma inauguração formal, daquelas com presença do prefeito. Fato foi que esta semana houve uma queima de foguetes na área, em uma manhã que não lembro qual foi. Achei o foguetório extemporâneo. N

Para Olívia, Dyva e Manoel, com amor

Sabes, Linda? Isso aconteceu esta semana. Talvez quarta, talvez quinta, já não lembro exatamente.  Foi naqueles momentos, talvez ainda madrugada, talvez primeiras horas da manhã. Momentos em que os sonhos são vívidos, e conseguimos nos lembrá-los ao acordarmos.  Era dia, e eu estava no final da Avenida Túlio de Rose, aqui perto. É um trajeto frequente em minhas caminhadas no intervalo do almoço. Eu estava atravessando a avenida, à altura do canteiro central, e na outra calçada estava a tia Olívia, acompanhada pela Clecy. A Clecy tinha trazido a tia. Olhei para o lado, e um pouco afastado estava o Manoel, sorrindo.  E eu pensei, “Manoel, tu por aqui?” Pensando agora, a frase não podia ser mais clichê. “Mas tu não estás morto?” Ele não falou nada. Apenas continuou sorrindo.  E que mais dizer, não? Sendo a tia Olívia, gêmea da dona Diva, a gente olha para uma e lembra da outra. É como se ela estivesse ali também.  Tia Olívia permanece viva? Se sim, são uns 91 anos por agora.  E isso é tud

Um palíndromo em 22 de fevereiro de 2022

Palíndromo é a "Palavra, grupo de palavras, verso ou número que se lê da mesma maneira da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda", o segundo o Dicionário Priberam online . O próprio Priberam dá o exemplo da palavra "sopapos". Pois o data de hoje, em algarismos, nos oferece um raro palíndromo. 22/02/2022. Ou, 2202\02\22. 22022022. 22/02/2022.

Diário – leituras – História de Mayta

Na edição de agosto de 2019 da revista Piauí, havia excertos dos Diários do economista Celso Furtado. Ele manteve um diário por longo tempo, por vezes, com interrupções. Os excertos publicados na revista davam muita ênfase às articulações políticas que puseram fim ao ciclo militar, originado no Golpe de 1964, e, por fim, levaram à eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1985. Curiosamente, entre as reuniões com representantes da sociedade civil, e conchavos entre membros do Congresso Nacional, Celso Furtado cita o livro de Mario Vargas Llosa, então recém publicado, "História de Mayta", e o refere como escandaloso.  Por conta da referência de Celso Furtado, e por gostar dos livros de Vargas Llosa, fui ler o tal livro.  "História de Mayta" trata de um homem, inconformado com a miséria de seu país, o Peru, que se torna um militante marxista trotskista, isso depois de ter sido coroinha, ter renunciado à fé católica, ter sido membro da APRA, e do Partido Comuni

Fronteiriço

Eu tenho um amigo (Será borderline? Será mesmo um amigo?) Difícil de entender Às vezes de conviver Tem momentos de demonstrar estima e afeto Em outros me deixa sem teto Me xinga,  "Carlos, tu és imbecil, um fudido" E cá, quando me mostro ofendido Me diz,  "Cara, não entendeste nada!" "Era só uma piada!"   17/02/2022.

Revisitando Moacyr Scliar

Faz poucos dias escrevi uma crônica rememorando meus dias de estudante secundarista, caminhando pela Rua Duque de Caxias . Para quem não conhece Porto Alegre, uma rua no ponto mais alto do centro histórico da cidade. Onde estão localizados a sede do Governo do Estado e a Catedral Metropolitana.  Nesse texto comentei que eu subia e descia a Duque, acompanhado pelos personagens de Moacyr Scliar que também andavam por aqueles caminhos.  Resolvi reler livros de Scliar para ver se minha lembrança era correta, e também para desmisturar os dois livros que se fundiram na minha memória. Estes são O ciclo das águas e Os deuses de Raquel.  Da minha formação como leitor de Scliar ainda constam A Guerra do Bonfim, sobre os meninos judeus porto-alegrenses, que contavam piadas e riam, e se davam tapinhas costas enquanto riam e rolavam pelo chão de tanto rir. E brincavam de guerra depois de ver filmes de guerra nos cinemas da Osvaldo Aranha, enquanto a guerra acontecia na Europa e judeus eram extermin

Imobilidade

 – Tenho acompanhado teu blogue.  – Legal.  Era João que falava comigo. Estávamos em um café em um shopping na zona norte.  Eram dias de nova cepa da peste, mas, cinquentões e vacinados, inclusive com doses de reforço, nos pusemos a correr algum risco.   – Fiquei especialmente impressionado com a crônica dos novos golpes de celular . Era uma crônica, não era?  – Eu reputo como uma crônica. Alguém pode querer chamar de artigo, ou, talvez, até de notícia.   – Aquele texto alimentou minha paranoia. Eu sou um pouco. Não tanto quanto nossa amiga Liliane, mas sou.  E aí João mencionou nossa amiga. Paranoica, ou tecnofóbica, ou paranoica e tecnofóbica. Liliane não baixava aplicativo de bancos no celular dela. O máximo que se permitia era fazer operações nos caixas automáticos, não sem antes olhar para trás, para conferir não havia ninguém próximo. Também costumava limpar a tela sensível ao toque, e teclar os botões dos terminais aleatoriamente, cada vez que terminava uma operação nesses caixa

Diário da Peste (LXIV) - Primeiros dias de fevereiro de 2022

Neste início de fevereiro começou o ano lunar chinês. Este será o Ano do Tigre, conforme a tradição chinesa.  Para glória da China, também neste ano Pequim está recebendo os Jogos Olímpicos de Inverno. Com isso se torna a primeira cidade do mundo a sediar Jogos Olímpicos de Verão, ocorrido em 2008, e de Inverno, agora.  Escrevo na segunda-feira. Na semana passada tivemos nova onda de calor. Não tão sufocante quanto a da terceira semana de janeiro, com suas sensações térmicas de quase 50 ºC, mas quase. Foram sensações térmicas de mais de 40 ºC. A meteorologia prometia uma frente fria que traria alívio na quinta, dia 3. Não aconteceu. Na sexta, com alerta laranja de possibilidade de tempestade. Não aconteceu. A frente fria e a chuva afinal chegaram no sábado. Mas a chuva de sábado não serviu nem para tempestade de verão. Em todo caso, veio o alívio.  Neste terceiro mês de verão, as extremosas tornam cor-de-rosa as ruas de Porto Alegre.  Como eu disse anteriormente, meu filho foi contamin

Tempos de saudades

Dia 22 de janeiro passado (2022) fez quatro anos do falecimento de minha irmã, Maria Lúcia. Foi num sábado.  Mas nesse sábado eu estava em uma festa de aniversário. De fato, na festa de aniversário de um bebê.  Sinal que a vida continua. E que se há saudades, há também novas lembranças.  Quatro anos em um sábado. Um falecimento em um domingo. Em 2018. Uma madrugada em função.  Talvez eu preferisse ficar encerrado em casa, curtindo a saudade.  Mas a gente continua vivo e continua tendo motivos para encontrar outras pessoas. Outros amigos. Ainda bem.  Depois do final de janeiro, vem o início de fevereiro, com a sua sucessão de efemérides.  Dia 2 de fevereiro, dia de aniversário do Claudio, além de Feriado da Senhora dos Navegantes. Claudio está bem. Ainda bem.  Dia 3 de fevereiro, aniversário de mamãe. Seriam 97 anos. Agora também aniversário do colega escritor Carlos Leão, 59 anos. Vivo e escrevendo. Ainda bem.  Dia 4 de fevereiro, aniversário de falecimento de papai. 32 anos de saudade

Um sábado de janeiro

Eu já havia bebido duas doses do Old Number Seven, em casa, antes de sair.  Chamei um carro pelo aplicativo. Passei na casa do Emanuel para pegá-lo, e nos dirigimos à festa de aniversário do filho do meu amigo Guerreiro.  Era um dia quente de verão em Porto Alegre. Temperatura de quase 40 graus, e sensação térmica se encaminhando para 50.  Havia medição de temperatura na entrada do salão de eventos. Medida inútil quando se sabe que alguém pode estar infectado sem necessariamente ter febre. Papinho para tentar tranquilizar convidados, ou dizer que faziam alguma coisa para o controle da peste.  No forno em que se encontrava a cidade, havia piscina de bolinhas e cama elástica do pátio, mas quase todo mundo ficou dentro do salão, por conta do forno, isto é, por causa do ar condicionado.  Quando cheguei, fui recebido com um puxão de orelhas, pois estava algo atrasado. Dispensei os comentários.  Tive que aguardar enquanto rearranjavam as mesas, gerando espaço.  Antes mesmo de sentar, peguei

Diário – leituras – Poesia Projetada

Adquirido em 2021, com o autógrafo da autora, o livro Poesia Projetada é resultado de um, hummm, projeto da escritora e poeta Ana Mello, durante o primeiro ano do confinamento imposto pela covid-19.  Encerrada em casa, a poeta começou a projetar poemas curtos, os poetrix (poetrixes?), uma variação do haicai, na empena de um prédio vizinho ao dela. O projetor foi um dispositivo que ela havia comprado antes do advento da peste para usar quando dava aulas. Foi um sucesso nas redes sociais, e gerou repercussão no noticiário.  A poeta foi criando e projetando. Além de seus poemas, projetou textos de outros poetas. Iluminou a região.  O livro é um grande registro do projeto (opa!). O registro de uma travessia. Uma travessia em que muitos de nós ficamos parados. Esperando o tempo passar. Esperando que a peste fosse embora.  São dezenas de poemas nesse registro. Um dos iniciais, se chama justamente quarentena. quarentena a janela é o limite antes privacidade agora – desejo de liberdade   Um ou

Diário da Peste (LXIII): Ômicron, ómicron, ómicron!

E assim terminou o primeiro mês do ano de 2022.  Pensávamos que, por conta das vacinas, a peste estava indo embora. Mas ela parece o mar. A maré vaza, e a gente pensa que ela se vai. Mas ela reflui, e volta a nos atingir.  Agora estamos às voltas com uma cepa apelidada de ómicron (ou ômicron, se você preferir). A nova cepa mais contagiosa.  Há duas semanas só sabíamos que ela estava por aí, mas não chegava a gerar lotação de enfermarias e UTIs.  Esse tempo passou.  Já estamos tendo enfermarias e UTIs lotadas novamente. O número de mortes começou a crescer novamente. 640 sábado passado, 29 de janeiro. Um mês atrás eram menos de 200.  Meu filho acabou contaminado. Seu diagnóstico foi na terça-feira, 25. Isso me fez tomar a iniciativa de me submeter a um teste, apesar de eu não apresentar nenhum sintoma. Meu primeiro teste de diagnóstico desde o advento da peste, em 2020. O teste, realizado em uma farmácia, deu negativo.  O filho está se recuperando.  A peste não vai embora.  E, pelo cont