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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Contraste

O pitiboy caminhava pela rua com seu shitzu.  23/02/2021.

Feliz 2020

Então passou o Carnaval.  Seguiu a data do Calendário Católico em um país que é cada vez menos católico. Mas o homem não se vestiu de mulher, nem a mulher de homem; o rico não se fez de pobre, nem o miserável se fingiu de nobre. As escolas de samba não desfilaram, nem os blocos puxaram multidões nas ruas.  É comum dizer que no Brasil o ano só começa depois do Carnaval. Eu não sei bem a quem se aplica isso, mas passemos.  Não nos enganemos. Como temíamos que acontecesse na Noite de Ano Novo, o ano não começou. Não estamos em 2021. Continuamos em 2020, com a peste que gerou uma crise sanitária e um cortejo fúnebre mundial.  Um cortejo fúnebre com caráter especial para o Brasil, já que quem deveria liderar o combate à peste, na prática agiu para propagá-la.  Continuamos no ano passado, pois.  Mas o ano nem foi de todo ruim.  Eu não fiquei doente. Até agora tenho sobrevivido.  Pessoas das minhas relações foram contaminados. Passaram por sofrimento, ficaram com sequelas, mas sobreviveram. 

Diário - leituras - Nova York

Li esse livro na sequência de Havana (pós-Fidel) , do mesmo autor. Ele também é uma espécie de guia de turismo misturado com diário de viagem.  Dentro da proposta, não há o que reclamar. O livro fala da cidade de Nova York, de norte a sul, de leste a oeste. Bairros, bares, restaurantes.  E a história da cidade e de muitos de seus prédios, digamos icônicos, como o Empire State ou o prédio da Chrysler. O autor descreve a cidade como um grande museu de arquitetura.  Meu problema foi que, como eu disse, o li logo depois da leitura do livro do mesmo autor sobre Havana. E a narrativa de Havana é muito mais quente, permeada pelas descrições de maior interação do autor com os havanenses. Assim, essa narrativa sobre Nova York me pareceu excessivamente fria. Acontece.  Mas é um bom livro. Quem resolver levá-lo em uma viagem à Big Apple haverá de achá-lo útil.  ORTIZ, Airton. Nova York. São Paulo: Benvirá, 2015.   14/01/2021. 

Diário - leituras - Os Supridores

Os Supridores, narrativa longa de José Falero (por não entrar aqui na discussão de novela ou romance), conta a história de Pedro e Marques, dois supridores, ou repositores, que trabalham em um supermercado na região central de Porto Alegre, e resolvem começar a traficar maconha para melhorar de vida. Li em alguma outra resenha que poderiam ser equiparados a Dom Quixote e Sancho Pança. Acho que contemporaneamente melhor compará-los a Walter White e Jesse Pinkman.  Dentro desse quadro, há um momento, o quarto capítulo, que poderíamos caracterizar como "marxismo para a periferia", em que Pedro explica a Marques como a sociedade se estrutura economicamente e porquê a tal meritocracia é uma falácia. Mas se Pedro se conscientiza de sua situação social, ele não está a fim de fazer a revolução. Ele só quer melhorar de vida. Diferentemente de seus pais ou avós, Pedro não quer apenas sobreviver.  José Falero estrutura sua história em um crescendo dos personagens e complicando a sua sit

A Balada Não Foi Divertida

Eu sou um cara tímido. Meio desengonçado e não muito alto. Um metro e sessenta e cinco. Com essa altura, o pessoal que estava fazendo a seleção do exército ano passado não fez questão que eu engajasse.  Esse sou eu. Mas me senti um cara sortudo quando conheci a Emilie e, sei lá, nossos santos bateram.  Me senti um cara com sorte porque não sou muito namorador. Sempre me senti passado pra trás pelos amigos.  Enfim. Sabe como é.  A Emilie é trilindinha. Bonitinha, queridinha. E pequeninha. Acho que não chega a um e cinquenta. Até fico alto perto dela.  Adoro ela. A gente tava se curtindo, tá ligado?  Até que teve uma noite que fomos numa balada. Nós dois, e mais uma galera.  Eu bebi, ela bebeu, todo mundo bebeu.  Teve uma hora que as gurias da turma fizeram uma rodinha, e eu comecei a achar que a Emilie tava olhando pra outro cara. E que o cara tava olhando pra ela.  Fui lá e puxei ela da roda. Ela não gostou. Perguntou o que era aquilo, pra quê aquilo.  Aí eu falei o que eu tava achando

Soneto desbalanceado de Carnaval

Era Carnaval  Mas havia silêncio Era Carnaval Mas não havia batucada Não havia escola de samba na avenida Nem desfile na televisão Não, não era possível ver a Mangueira entrando na avenida Lembrando a piada da quinta série No Carnaval da peste Passa o bloco dos negacionistas Tem o baile dos recalcitrantes No Carnaval da peste Todo dia é dia de cinzas Todo sábado é de enterrar os ossos 16/02/2021.

Querela

Era um final de semana de clássico.  A noite de sábado já ia alta quando Gabriel lançou uma provocação no grupo da antiga roda de happy hour da firma no aplicativo de mensagens. Desde o advento da peste não houve mais happy hours.   João, que já tinha tomado várias doses, revidou lançando impropérios, dizendo que gostava muito do Gabriel, mas que quando ele, Gabriel, agia assim, ele virava um pulha. E desejou a morte do técnico adversário, um arrogante desqualificado, segundo João.  Veio o domingo. O clássico acabou empatado.  Na segunda-feira, pela manhã, Luiza, a irmã de João entrou em contato com ele.  "João, está tudo bem?" "Sim. Disse ele. Por quê?" "Tu me enviou umas mensagens sábado de noite, xingando teu colega, e desejando a morte do técnico Raul." João arregalou os olhos. Respondeu em seguida.  "Ih! Esquece, destinatária errada."  29/01/2021. 

O Banquete das Caturritas

O condomínio onde moro parece um trapézio estendido no sentido leste-oeste (ou oeste-leste, se o(a) leitor(a) preferir), com o lado mais largo voltado para o norte, e o mais estreito para o sul.  Como tenho dito, minhas caminhadas no intervalo do home office começaram com giros ao redor do condomínio.  Já falei de sol, e de tempo nublado. Houve dias quentes, dias frios, dias amenos, e mais dias quentes.  Já falei de automóveis abandonados, e de uma praça que está sendo transformada em um piscinão para contenção do afloramento do lençol freático e eventualidades pluviais.  Ao longo desse período que vai se encaminhando para um ano de confinamento, fui aumentando os trajetos, para lutar contra a monotonia.  Para minha felicidade há outras praças. Como já disse, praças onde grasna a caturrita .  Os dias de janeiro trouxeram o florescer das extremosas novamente. E como essa planta exótica trazida da Ásia abundou por Porto Alegre, as ruas por onde passo estão vestidas em tons de cor de rosa

Em memória, Valderino Menchick

A notícia chegou pelo emeio. Em 5 de fevereiro de 2021, sexta-feira. A mensagem informava que o velório do irmão Valderino Menchick teria lugar na Igreja Batista Central de Porto Alegre, entre as 11 e as 15 horas. Mais não informava.  Talvez o Jornal Batista tivesse escrito, "Promovido à glória o irmão Valderino Menchick". Ou talvez ainda escreverá na próxima edição.  O fato de haver dois dias entre a data do emeio e a data do velório indica que o falecimento não deve ter ocorrido em virtude de covid-19, a peste que nos assola por esses dias, e que tem ceifado em especial a vida dos mais idosos.  Deve ter falecido de causas naturais outras. Câncer? AVC? Ou simplesmente o coração cansou e parou? Não sei que idade tinha Valderino Menchick. Certamente mais de oitenta, talvez mais de noventa.  Eu convivi com ele no final dos anos 1980 e durante toda a década de 1990, até por volta do início dos anos 2000, na Igreja Batista Central de Porto Alegre. Ele era diácono e uma das lidera

Diário - leituras - Ecos e Sussuros

"Ecos e Sussuros" é, se não estou enganado, o segundo livro solo de contos de Maria Avelina Gastal. Eu havia lido dela o anterior, "Nós" , livro que achei de imensa qualidade.  A mesma qualidade aparece na nova obra, são 32 contos, em que, conforme a analogia de Cortázar com a luta de boxe, somos derrotados por nocaute na maioria.  Contos são histórias breves. Eu costumo ler um, respirar, pensar, ler o próximo, em um processo, em que leio no máximo três contos a cada vez que pego um livro com essas histórias curtas. No caso do livro de Maria Avelina isso acabou sendo impossível, tantas foram as vezes em que parei na primeira leitura. Isso levou a uma demora a mais para a conclusão do livro.  São cenas da vida de classe média, ou menos. Classe média ou menos.  Como as mulheres recordando suas vidas na cafeteria em Três Marias, ou a ambiguidade dos relacionamentos familiares em Performance, ou em O Filho.  As ausências se tornam presença em Naquela Segunda-Feira (que

Solução

Sou a caçula de quatro irmãos. Dois guris, minha irmã mais velha e eu. Além de caçula, sou a menor dos quatro. Dezoito anos. Quase um metro e meio, uns quarenta e cinco kilos.  Namoro um menino faz umas quatro semanas. Ele é maior que eu. Aliás, nem precisa muito, né?  Sábado passado nos desentendemos na balada. Na saída ele me deu uns tapas.  Nem doeu tanto, pior foi a humilhação.  Falei pros meus irmãos. Eles intimaram ele. Se acontecesse de novo, ele ia ficar sem dentes.  30/12/2020, 04/02/2021. 

Seriam 96 anos hoje

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  Feliz aniversário, mamãe! Dona Nadir Rosalina dos Passos Rodrigues (1925-1995).

Primeira semana de fevereiro de 2021

O dia em que escrevo é 1º de fevereiro de 2021.  É o início do segundo mês de 2021.  Com isso se completam os doze meses do ano em que estou em quarentena, trabalhando em "home office". O "aniversário" do confinamento será na segunda quinzena de março próximo, mas estou em casa já por doze meses, de março de 2020 a fevereiro de 2021.  A primeira semana de fevereiro é muito significativa para mim.  Dia primeiro é véspera de feriado (Senhora dos Navegantes, Iemanjá) em Porto Alegre.  Dia 2, além do feriado municipal, é aniversário de um grande amigo. Quando estávamos morando próximos um do outro era comum estarmos juntos nesse dia. Isso lá pelos anos 1980.  Dia 3 é aniversário de mamãe. Seriam 96 anos em 2021, conforme aqueles aniversários imaginários. E eu estaria com ela. Ela nos deixou em 1995.  Dia 4 fará 31 anos que meu pai faleceu. 31 anos! Parece que foi ontem, para repetir o chavão! Enfim, naquele 1990 eu estive com minha mãe no seu aniversário, depois corri d