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Mostrando postagens de janeiro, 2021

Diário - leituras - Havana (pós-Fidel)

Adquiri este livro na Feira do Livro de Porto Alegre de 2017. Fazia pouco tempo que eu havia sido apresentado ao autor, e soube que ele estava lançando este livro, e fiquei curioso.  Mas fiquei um pouco decepcionado. Não que seja propaganda enganosa, mas eu esperava mais sobre o quadro político de Cuba. E o que o livro realmente é? Um diário de viagem turística à Havana. Mais ainda, um livro que foi publicado originalmente em 2009, com base em uma viagem naquele ano, com pequenas notas de atualização de uma viagem realizada em 2016.  O livro não é ruim, pelo contrário. A prosa de Airton Ortiz é fluente e divertida. E o autor ainda tem um afeto amoroso por Havana.  E como guia de viagem é funcional.  Como fonte de informação sobre Cuba, me pareceu de acordo com a velha Trilogia Suja de Havana , de Pedro Juan Gutierrez, que li faz algum tempo.  Enfim, vou repetir, é um livro divertido, cuja leitura flui, escrito com afeto, desde Havana.  ORTIZ, Airton. Havana (pós-Fidel) . São Paulo: Ben

Convite Especial

Eu tinha recebido o convite por uma rede social. "Venha compartilhar comigo o lançamento de meu livro Contos Sem Nexo. Farei sessão de autógrafos no próximo dia 3 de dezembro, uma quinta-feira, dois dias após o meu aniversário de 60 anos. Venha celebrar comigo." Dos contatos que venho mantendo com João, sempre mais por redes sociais ou aplicativos de mensagens que frente a frente, ele costumava reclamar da vida, dos muitos momentos de solidão.  Reclamava que depois da aposentadoria, os encontros com os antigos colegas de trabalho tinham rareado muito. Eu costumava responder que em um país como o nosso, ele era uma espécie de privilegiado por ter conseguido se aposentar, inclusive mais jovem que a idade mínima estabelecida pela mais recente reforma das aposentadorias.  Sarcástico, ele dizia que era verdade. E que se depender desses políticos de agora, vão fazer reformas de cinco em cinco anos, para que em um futuro não muito distante não haja aposentados, e todos tenham que tr

Sobre redes sociais, Bettega, Carver e Sanco

Cara Bárbara,  Uma noite dessas, eu estava dedicando às redes sociais os cerca de quinze a trinta minutos que costumo dedicar a essa atividade.  Curiosamente passou pela minha linha de tempo um linque para uma entrevista do Amilcar Bettega. Sabes? Conheço o Amilcar Bettega por apenas um conto, O Voo da Trapezista, que a Cíntia Moscovich apresentou em uma aula, como um conto exemplar. Tenho um livro do Bettega na estante que aguarda o momento de ser lido. Chama-se Prosa Pequena.  Então, como eu dizendo, fui ler a entrevista com o Amilcar Bettega, onde ele rememora sua obra, comenta que ele já seja usado como literatura de referência para o vestibular. E cita Carver. Carver? Disparou alguma fagulha entre meus dois neurônios. Coloquei o nome no oráculo dos dias de hoje, e lá veio Raymond Carver.  Raymond Carver (1938-1988), escritor americano. Principalmente de contos. Mas também poeta e ensaísta. Associam os contos dele a minimalismo.  Acabei por adquirir um livro dele, em sebo virtual.

Plano de Negócios

Cansados dos bicos, se juntaram para montar um negócio. Uma loja de bebidas de conveniência. Projetaram faturamento de seis mil. Fizeram empréstimos, com aval de familiares. Parcelas de 1800.  Alugaram e ajeitaram o ponto.  O tal faturamento nunca passou de quatro mil. Lucro bruto de dois mil. Quando o movimento favorecia.    29/12/2020.

Canção do Confinamento

Minha praça tem palmeiras Onde grasna a caturrita De outras aves eu não sei Mas o seu grasnar me irrita Não importa se há cores Se há frescor se há odores O grasnar da caturrita É uma sessão de horrores Nos passeios de intervalo Aqui já não há cavalo Esse som sem confundir O grasnar em seu badalo  Não, não é uma periquita Nenhum bichinho discreto Não, não é nada secreto O grasnar da caturrita P.S. Se você não conhece, este poema crônico é uma paródia da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. A Canção do Exílio é um dos poemas fundadores da poesia brasileira.  07/01/2020. 

Diário - leituras - Quase tudo: memórias

"Quase tudo" é o livro de memórias de Danuza Leão, como diz o título. Sua trajetória relembrada, desde a infância no interior do estado do Espírito Santo, até a vinda para a então Capital Federal.  A vocação precoce por se tornar modelo; o amor pela cidade de Paris; o casamento com o jornalista Samuel Wainer, com quem teve três filhos; os trabalhos que desenvolveu para além de modelo fotográfica e de modas.  E de relance aquela sociedade que eu recém havia lido, na biografia de Zózimo Barroso do Amaral, dos anos dourados e dos anos de decadência do Rio de Janeiro.  Uma coincidência acabou por me ligar à Danuza, lendo este livro. Ela também é a última sobrevivente de um núcleo familiar de quatro pessoas, ela, os pais e a irmã, todos falecidos quando o livro foi escrito.  Ela tinha 72 anos quando o livro foi publicado. Tem 87 atualmente. Segundo o livro, bem vividos. LEÃO, Danuza. Quase tudo: memórias. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.   27/10/2020.

Riscos

No parque, o bípede marombado usava focinheira.  Já o musculoso pitbull, tinha a boca livre. O quadrúpede parecia pacífico.  24/12/2020. 

Diário - leituras - Enquanto houver champanhe, há esperança: Uma biografia de Zózimo Barroso do Amaral

Como já diz o título, se trata de uma biografia de Zózimo Barroso do Amaral, jornalista que foi colunista social, no Rio de Janeiro, tendo trabalhado em O Globo e no Jornal do Brasil.  Segundo o autor, Zózimo ajudou a mudar um pouco o que era o colunismo social no período em que trabalhou, indo além das mundanidades da chamada alta sociedade (embora ainda falasse bastante nisso), como era costume. Comentando brevemente sobre bastidores de política e negócios, e do mundo dos esportes e da cultura. Muito bem escrito por Joaquim Ferreira dos Santos, o livro não trata apenas de Zózimo. Fala da família do biografado. Descreve como era o colunismo social antes de Zózimo.  E principalmente descreve certo Rio de Janeiro mítico, desde a Capital Federal da República Liberal (1946-1964), com seus cassinos, sua Elite Zona Sul, até sofrer a perda do Governo Federal para Brasília (1960), chegando a meados dos anos 1990. A obra ainda é ilustrada com fotos do biografado, e de muitas das pessoas que er

Lutos

Quanto mais tempo de vida, mais perdas, como me disse uma amiga, comentando um outro texto.  Na memória da família se dizia que “antigamente” as rádios só tocavam música clássica na Sexta-Feira da Paixão. Pode ser. Embora tenham me dito que o primeiro rádio entrou na casa da família em 1962 (eu ainda não existia). Antes disso, eventualmente era ouvido na casa de vizinhos considerados mais ricos. Isso na cidade de Rio Grande.  Depois, muito tempo depois, essa narrativa familiar encontrou eco com minha sogra. Restrições. O luto religioso na Semana Santa. O luto até por contraparentes, quando do falecimento de alguém.  Essas memórias familiares encontram algum respaldo histórico. Em sua tetralogia da Ditadura (eu li uma tetralogia. Na nova edição mais um livro foi adicionado. Virou uma pentalogia. Preciso reler) Elio Gaspari fala do poder político (além do espiritual) que a Igreja Católica exercia até o final da década de 1960, em uma população ainda maciçamente rural e católica.  Mas pas

Diário - leituras - Contos Contemporâneos, Oficina de Criação Literária Alcy Cheuiche 2011

Não sei se digo como piada ou com seriedade: parece que há mais escritores que leitores hoje em dia. Desde que resolvi me dedicar ás letras como escritor amador, parece que descubro cada vez mais candidatos a escritores.  Neste caso, li uma obra resultante de uma oficina de criação literária ministrada pelo escritor (opa!) e jornalista Alcy Cheuiche. Os autores são Andréia Ponsi, Carmen Macedo, João Vitor Haeberie Jaeger, Lindoia Cusinato, Luciano Lutz, Luiz Mario Pimenta Filho, Mara Cidade e Silvia Cestari.  Cada um dos alunos da oficina publicou três textos, contos e crônicas, curtos (uma, duas ou, no máximo, três páginas). As temáticas são principalmente urbanas, mas também há um autor que dedicou espaço ao nosso Pampa. Há personagens fictícios e há memorialística.  Gostei em especial das crônicas memorialísticas de Denise Bueno, que narram histórias de sua família com a da cidade.  Achei bem interessante ainda o conto "Passeio no brique", de Lindoia Cusinato, que assume c

Artigo sobre Poetrix e Haicai no Escrita Criativa

No final do ano passado, fui entrevistado, pela Cinthia Dalla Valle, do Escrita Criativa sobre Poetrix e Haicai.  Agora saiu o artigo. É bem completo.  Minha colaboração não é tão extensa como a do Mario Ulbrich, mas está lá. Além do Mário, há colaborações do poeta Goulart Gomes, criador do Poetrix, e da escritora Ana Mello, acho que primeira divulgadora aqui no sul.  Neste ano da graça de 2021, é possível que saia uma coletânea de Poetrix minha, da Bárbara Sanco e da Claudia Almeida.  Confira o artigo da Cinthia:  - https://www.escritacriativa.com.br/?apid=8845&dt=-1&tipo=140&titulo=Poetrix+e+Haicai+%96+semelhan%E7as+e+diferen%E7as&utm_campaign=EC+dez+20&utm_content=Poetrix+e+Haicai+%E2%80%93+semelhan%C3%A7as+e+diferen%C3%A7as+%281%29&utm_medium=email&utm_source=EmailMarketing&utm_term=EC+dez+20&wd=  08/01/2020. 

Vertigem

Quando cheguei ao bar, ele já estava lá. Na Ladeira, em uma mesa em uma espécie de quiosque. Eu pedi ao garçom um chope. Ele já tomava uísque, “cowboy”. Estava magro. Desfigurado. Excessivamente magro. Quando foi meu coordenador na birô de digitação nos anos 1990, era um cara boa pinta, cabelos cor de trigo maduro. Usava jaqueta de couro, muita gente pensava que ele era policial civil por causa disso. Tinha uma brasília branca. Embora, eu tivesse pedido um chope, tentei fazer ver a ele que ele estava bebendo demais. Nem se alimentava mais. Bebia direto. Ele me respondeu. - Cara, não sei por que tu fica me falando isso. Olha só, tu também tá bebendo. Eu já tô afastado da empresa por conta do estrago do trago.   - Mas, Dudu, dá para sair disso. A vida é mais que um copo. - Pode ser, Zé. Mas eu já vejo toda a escuridão no fim do túnel. 13/12/2020.

Fim de semana na serra

Naqueles dias, já fazia três meses que a peste estava entre nós.  O teletrabalho tinha se instalado, para quem podia, como era o meu caso, mas muita gente tinha sido demitida. Muitos também foram colocados em licenças com redução de salários.  Era um inverno sem dias muito frios.  Eu e o crush estávamos completando um ano de relacionamento. Tínhamos nos conhecido por um aplicativo. Eu, um homem a caminho dos cinquenta, ela também, mas bem mais atrás. Vindos de relacionamentos fracassados, ambos vivíamos sozinhos, cada qual em sua casa. Pessoas de meia idade, eu tinha diabetes, e ela teve asma e bronquite, embora sua crise mais recente tivesse sido no final da adolescência.  Por conta desse aniversário de namoro, decidimos passar um final de semana na serra, na região produtora de vinhos.  Reservei um hotel bacana, e na manhã de sábado partimos.  Eu havia levantado com uma leve coriza, mas a sensação foi dissipando.  A estrada que leva da capital à serra é sempre bonita, ladeada pela ve

Diário - leituras - Essa Gente

"Essa Gente" é o mais recente livro de Chico Buarque, ultimamente talvez mais escritor que compositor.  Mais ou menos em forma de diário (há inseridos no livro correspondências, bilhetes, telefonemas, e até uma notificação judicial) o livro conta a vida do escritor Manuel Duarte, entre o final de 2018 e até meados do ano passado (2019).  Manuel Duarte já chegou a ser um escritor de sucesso, principalmente por conta de seu romance histórico "O Eunuco do Paço Real". Também nasceu em berço privilegiado, filho de um juiz.  Mas neste final de 2018, passa por situação difícil. Os tempos de sucesso como escritor são idos. Ele está em bloqueio criativo, sem conseguir concluir um livro prometido a seu editor.  Talvez para esse bloqueio criativo contribua o fato dele ter abandonado sua mulher, Maria Clara, uma tradutora que revisava seus livros, e ter sido abandonado pela amante, Rosane, que o trocou por um empresário do agronegócio.  Em meio às suas dificuldades financeiras,

Os números do blogue em 2020

Em 2020, o blogue teve o maior número de postagens em toda a sua existência. Superou os números da empolgação dos anos iniciais, em 2011 e 2012. Foram 137, contra 121 e 120.  Também foi o ano da postagem número 1000, curiosamente, em uma postagem com título "Balanço 2020" . Sinal que no balanço do blogue, a coisa não foi tão ruim assim, comparando com o ano de 2020 em si. O ano da peste.  Espero em 2021 manter a disciplina, uma crônica às terças, um miniconto ou uma mininarrativa às quintas.  Que 2021 seja melhor. Ele não precisa de muito para tanto.  29/12/2020.