Diário – leituras – Uma mente inquieta


Os livros que compramos geram nossas histórias com eles. 

Por exemplo, este Uma mente inquieta, de Kay Redfield Jamison. Ele foi comprado na segunda metade da década de 1990, por conta de uma pessoa conhecida, que teve uma crise psiquiátrica, e foi diagnosticada como síndrome bipolar. O livro deveria ajudar a compreender a doença. O livro foi comprado com essa intenção e encostado na estante à espera de leitura. 

O tempo passou e a pessoa diagnosticada veio a falecer em decorrência de um câncer abdominal. 

Agora tenho convivido com outra pessoa que vive com o mesmo diagnóstico, embora em espectro mais leve. Achei que era hora de, afinal, ler o livro. 

É um livro de memórias e testemunho da autora. Ela descobre a síndrome na adolescência e mostra como viveu com isso. Se dá conta que deve ter herdado a síndrome do pai, que Jamison acha uma pessoa brilhante. Ele trabalhava para a Força Aérea. Mas depois que deixou a vida militar teve muitos problemas de adaptação na vida civil. 

Com a síndrome, Jamison informa que desfrutou os episódios de mania, e sofreu com os momentos depressivos, até o momento do tratamento com lítio, remédio que conseguiu estabilizar sua mente. O lítio, me parece, ainda é um tratamento padrão para a síndrome bipolar nos dias de hoje. A autora foi uma espécie de pioneira no uso do mineral usado como remédio. 

Também é uma história de superação, se chamarmos de superação o fato de uma pessoa com síndrome bipolar se formar em psicologia e trabalhar com terapias para pessoas que, em boa parte, sofrem com problemas parecidos com os dela. Eu poderia dizer que sofrem com os mesmos problemas que ela, mas cada ser humano é diferente, e sofre de maneira diferente com síndromes que as afastam dos, digamos, comportamentos padrão. Me chamou a atenção a compulsão de compras, em que ela comprava muitas coisas que depois se demonstravam inúteis, mas que pareciam essenciais quando ela estava em fase maníaca. Ela ainda fala de suas viagens e de seus amores. 

É um livro bom, mas acho que eu esperava mais. Talvez por que o livro estivesse esperando para ser lido por trinta anos. Ele dá o testemunho de uma pessoa com síndrome bipolar, mas não são as mesmas situações da pessoa com quem convivi e que foi o incentivo para eu comprar o livro. Também não são as situações da pessoa com síndrome bipolar com quem convivo hoje. 


JAMISON, Kay Redfield. Uma mente inquieta. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 


11, 17/06/2024.

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