Diário – leituras – Saraminda


José Sarney foi governador do estado do Maranhão; senador pela ARENA, o partido que dava a sustentação política ao regime militar (1964-1985); presidente da república, tendo sido um vice cujo titular, Tancredo Neves, morreu antes de assumir o cargo. Por conta disso, muita gente acredita que ele se tornou membro da Academia Brasileira de Letras mais por conta de suas atividades políticas, que por suas habilidades literárias. Seu título talvez mais conhecido, chamado Marimbondos de Fogo, era, em geral, citado com sarcasmo. 

É uma boa questão se as pessoas que citavam José Sarney com sarcasmo como escritor, de fato leram o que ele escreveu em suas ficções. 

Este único livro de ficção que li dele, Saraminda, é muito bem escrito. 

Além de seus personagens principais: a própria Saraminda, mulher franco-guianense, negra, com olhos claros e auréolas dos seios douradas; Clément Tamba, garimpeiro também franco-guianense, que é basicamente o narrador da história; Cleto Bonfim, poderoso chefe de garimpo brasileiro; Jacques Kemper, francês encarregado de entregar um troller na região do garimpo, que não consegue voltar à sua França natal; o livro conta um pouco da história da região fronteiriça entre o Amapá e a Guiana Francesa. Fala de conflitos entre brasileiros e franceses. E fala de garimpos e o que o garimpo pode causar aos garimpeiros. 

A grande cidade em que o ouro é negociado não é Macapá, mas Caiena. Mesmo que o grande garimpeiro seja brasileiro e o garimpo se localize no Brasil. 

Como se trata de uma história ficcional, não podemos tomar o que é apresentado como História. Mas acredito que Sarney tenha realizado suas pesquisas para produzir este romance. Um romance sobre uma mulher linda e sedutora. Capaz de enlouquecer uma série de homens. Mas também é mais do que isso. 

Também me parece que consegui ver influências de Gabriel Garcia Marquez, nessa história de regiões remotas, acontecidas entre o final do século XIX e o início do XX, com erotismo e alguns momentos de realismo mágico. 

A minha edição é de 2000. Não me lembro em que circunstâncias adquiri o livro. Li agora, entre o final de 2023 e o início de 2024. Achei bom. Como romance histórico, ele envelhece bem. 


SARNEY, José. Saraminda. São Paulo: Siciliano, 2000. 


02, 14/06/2024.

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