Depois da catástrofe de maio de 2024 – II
Neste início de junho, as chuvas e o frio de maio parece que ficaram para trás.
São dias de certo calor, que pode haver gente que chame de veranico de junho. Me parece mais uma primaverica, pois, se esquenta ao meio-dia, à noite a temperatura cai.
É tempo de limpeza, reconstrução e reflexão.
Voltou ao vocabulário da cidade o “abobado da enchente”. Recebi duas explicações para essa expressão. A primeira que ouvi foi que, na enchente de 1941, muitas pessoas que tiveram contato com as águas acabaram se contaminando com doenças que geraram problemas neurológicos.
A outra tese, que me parece mais simples, é mais palatável para mim. Abobados da enchente seriam as pessoas que viveram a chegada das águas invadindo tudo, e ficaram chocadas com as perdas emocionais e patrimoniais. Muitas vezes, perdas de toda uma vida.
Quando tenho caminhado ou passado de ônibus pelos lugares que foram inundados e que agora secaram, eu me sinto esse abobado da enchente, o que se chocou com tudo. É espantoso.
Como a água inundou quase toda a Avenida Cairu, chegando até a esquina da Ceará? Marcas de um metro e vinte nas paredes dos prédios. Espantoso!
Dias depois da água refluir, as pilhas de lixo pelas ruas do Quarto Distrito. Restos de vidas familiares, restos de pequenos negócios. Rastros do que a água destruiu. As cenas no São Geraldo remetem à de uma cidade bombardeada.
No centro, marcas nos prédios de até um metro e noventa.
Como foi possível? É inacreditável!
Sexta-feira, dia 7, passei pela Praça da Alfândega. Homens, com auxílio de caminhões-tanque, banhavam a praça. Para desmanchar a poeira do lodo seco. Uma descontaminação.
Um exorcismo…
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08, 10/06/2024.
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