Jussara Fösch partiu em 16 de abril de 2024


Viver traz perdas. Quanto mais vivemos, mais perdas vamos tendo. É um clichê, é um truísmo. Até que nós mesmos chegamos ao fim.

Tenho inventariado as pessoas que partem. Deixam-me .

Há pouco mais de um ano, se foi a Barbara Sanco.

Há poucos dias, se foi Jussara Fösch. 

Trabalhamos na mesma área em processamento de dados por mais de vinte anos. Nos últimos dez ou doze anos de trabalho, ficávamos praticamente um de frente para o outro. Muito chimarrão ela me ofereceu antes da pandemia condenar as cuias compartilhadas.

Era uma convivência em geral boa. Tivemos nossos atritos, mas mais nos ajudávamos que brigávamos. De fato, essa é uma das principais lembranças, a colaboração nos projetos que precisávamos desenvolver. 

E conversas. Muitas conversas. Entre colegas sempre se conversa sobre salários, sobre o sistema de promoções da empresa, sobre apadrinhamentos (ou não). Sobre outros colegas (ou não). Em todo grupo social há o ditado que, se você não comparece a uma reunião, pode se tornar o assunto dessa reunião. Isso valia em especial para happy hours. 

Deixamos a empresa em que trabalhávamos e nos aposentamos mais ou menos na mesma época. Ela deve ter saído cerca de um mês antes de mim. 

Caçula entre três, mais velhos que ela um irmão e uma irmã. 

Talvez se pudesse dizer que teve uma existência trágica em algum grau. Perdeu o pai em um atropelamento quando ainda era criança. Teve o filho assassinado em uma festa de adolescentes na maturidade, quando o rapaz tinha 17 anos. E agora morreu aos 58. Mas não consigo pensar assim dela, como uma existência trágica. Sim, sofreu a perda do pai, mas esse evento triste estava no passado. Sim, sofreu a imensurável perda do filho. Sabe lá a dor que carregava consigo por conta desse evento, mas seguiu adiante. Lutou até morrer em busca de justiça para o filho. E não se tornou uma pessoa amargurada, pelo contrário, mantinha um surpreendente bom humor, um estado de espírito relativamente leve e altivo.

Nas minhas lembranças, ela muito me apoiou na minha carreira de escritor de meia tigela. Dia 5 de abril esteve no lançamento de meu primeiro livro solo. Pudemos trocar abraços. A felicitei pelo aniversário dela ocorrido dia 30 de março, ela me felicitou pelo livro. Tiramos fotos juntos. 

Em 12 de abril ela teve um mal súbito. Passou quatro dias em uma UTI. Partiu em 16 de abril. 

Vai em paz, Jussara. Já sinto tua falta. Para sempre sentirei tua falta. 


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Jussara no centro, entre mim e o marido, Marco

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25, 28/04/2024. 

Comentários

  1. Lindas palavras Rodrigues... Com certeza, por dentro ela possuía várias feridas não cicatrizadas e mesmo assim conseguia ser uma pessoa agradabilíssima e mantinha sempre um sorriso cativante nos olhos. Para mim, uma perda irreparável!

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    1. Uma perda irreparável para todos nós que gostávamos dela, Marco.

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  2. Não te conheço, mas tenha meu sincero agradecimento pelas belas e verdadeiras palavras que descrevem a Kika. Era isso que ela era: uma pessoa que "via" as demais e as trazia para perto dela. Obrigada.

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  3. 👏👏👏👏👏👏

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