Cara Maria – XVI – Um tour por alguns escritores de Porto Alegre


Cara Maria,


Viajei em teu texto sobre Porto Alegre.

Pensei em te copiar, mais ou menos como fiz quando escreveste sobre a Rua Duque de Caxias, mas depois desisti. Pensar que esses textos da Duque, o teu e o meu, já têm mais de dois anos... Nunca morei no centro da cidade, mas trabalhei ali por 42 anos. Na minha infância o centro era uma espécie de jornada mágica, uma viagem para onde minha mãe me levava, acompanhando-a a resolver algum problema, em geral alguma conta a pagar, ou algum artigo a comprar. Às vezes consultas médicas ou dentárias, dela e minhas. Quando comecei a trabalhar, o centro se tornou uma espécie de território meu. Ainda mais que nos meus primeiros quatro empregos minhas atividades eram total ou parcialmente as atividades de um office-boy, caminhando pelas ruas centrais, para lá e para cá. 

Mas como eu te disse, desisti de desenvolver essas ideais. 

Mais ou menos na mesma época em que escreveste tua crônica homenageando o mais recente aniversário de Porto Alegre, saíram relatos na Parêntese sobre um caminho dos escritores do bairro Petrópolis. Como está escrito lá, “Era a quarta edição das Caminhadas Literárias de Petrópolis, organizada pelo movimento @salvedyonélio, que busca preservar a memória do escritor e psiquiatra quaraiense Dyonélio Machado”. A caminhada passou pela rua Souza Doca, onde viveu o autor de Os Ratos, em uma casa que está em ruínas. Continuou pela rua Felipe de Oliveira, na casa onde viveu Erico Verissimo e onde ainda vive Luis Fernando Verissimo, inclusive por isso, em boas condições de conservação. Na esquina da Borges do Canto com a Ferreira Vianna o passeio registrou a presença de um prédio recém construído, faz uns dez anos, sobre o terreno onde ficava a casa do escritor Cyro Martins. O prédio construído sobre o terreno onde ficava o residência de Cyro Martins me lembrou a demolição da casa de Caio Fernando Abreu há pouco tempo.  Lembro que na época um amigo nosso, comentou que entendia quem havia comprado o imóvel da família de Caio F. Sim, fácil entender a necessidade de pessoas de classe média fazer renda vendendo um imóvel valorizado, fácil entender um empresário querer lucrar com a venda de apartamentos de um prédio onde antes havia uma simples casa, difícil ficar feliz com a maneira como isso destruiu uma casa que poderia fazer parte da memória cultural da cidade. A caminhada terminou na Rua Rivera na casa onde viveu Josué Guimarães. Felizmente a família que habita a residência atualmente, a recuperou após comprar a edificação bastante deteriorada. 

Eis Porto Alegre, uma cidade com escritores talentosos, mas que tem dificuldades de cultivar a memória deles. E assim seguimos. Quantos significados diferentes vêm à nossa mente quando repetimos que “Porto Alegre é demais”?


15, 16/04/2024.

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