Cara doutora, eis meu momento com o diabetes


Cara doutora,

Pensando que os maus números a respeito da minha glicemia que haviam se apresentado no final de 2023 se repetiriam neste início de 2024, comecei a tentar me preparar para, talvez, o pior. 

O pior, na minha cabeça, talvez fosse começar a ter que me injetar insulina. 

Primeiro caí no conto do smartwatch que podia medir a glicemia do sangue. Consultei a internet, em especial uma dessas novas inteligências artificiais generativas, e ela me afirmou que tais dispositivos poderiam funcionar para essa medição, com seus escâneres de luz, nas veias do pulso. Comprei o relógio esperto. Na primeira medição que fiz com ele, recebi uma medição de uns 120 mg/dL, ou seja, glicemia de uma pessoa saudável. Ah sim, o relógio mede a glicemia em milimol por litro, então tive que fazer conversões. Medi mais algumas vezes, e as marcações eram semelhantes, sempre ao redor de 120 mg/dL. Fiquei desconfiado, e resolvi fazer uma medição com o glicosímetro. Como eu esperava, o glicosímetro encontrou um número bem maior, acima de 200 mg/dL. Smartwatch não lê glicemia corretamente. Pelo menos ainda não. Não o modelo que eu havia comprado. 

Bom, e agora os algoritmos das redes sociais descobriram que sou portador de diabetes tipo 2. 

Assim começaram a pipocar na minha tela, soluções para reverter o diabetes, em geral com suplementos que possuem algum componente, por exemplo, óleo de abacate, que quase magicamente sumiria com as altas taxas de glicemia no sangue e com os riscos associados a essas taxas. As propagandas desses suplementos mágicos são sempre feitas através de longuíssimos vídeos (cerca de 45 minutos cada), com uma cantilena sobre estudos em universidades estrangeiras, desconhecidos por aqui, e um novo componente que normalizou quase milagrosamente o diabetes de pessoas que estavam em condições terríveis, desesperadoras. A narração monocórdia também denuncia a ganância da indústria farmacêutica que lucra vendendo remédios que os portadores de diabetes precisarão tomar, em geral, por toda a vida deles. Por fim, dizem que o milagroso suplemento está sendo vendido por um preço módico, e só pode ser adquirido pelo dono do saite onde o produto está sendo vendido. Ainda assustam o espectador dizendo que a produção do suplemento é limitada, e o instam a comprar um volume significativo do produto, um estoque para três ou mesmo seis meses de tratamento. Não sei, mas me parece que se fosse assim, se essas substâncias funcionassem, elas estariam sendo amplamente divulgadas, e já não haveria portadores de diabetes 2. 

Como lhe disse também, comecei a assistir os vídeos do Dr. Guilherme Marquezine. Ele não me colocou em contradição com a senhora, mas me fez entender um pouco mais a doença, e os principais remédios usados para controlá-la. A senhora já havia me falado da maneira como funciona a dapaglifozina e o Dr. Marquezine reforçou isso, o que me encorajou a pedir que esse remédio fosse incluído entre os que uso para controle de glicemia. 

Nesse sentido, acho que as mais recentes medições são encorajadoras. 

Desde que voltei a medir a glicemia em jejum, por exemplo, a partir do início de abril, as medições haviam ficado entre 181 mg/dL na melhor medição e 267 mg/dL na pior. No primeiro dia após usar o combinado empaglifozina + linagliptina, a glicemia em jejum caiu para 153 mg/dL. Até agora a melhor medição em jejum foi de 122 mg/dL. Após esse novo remédio, mesmo as medições pós-prandiais (é pós-prandiais que se chama?) nunca mais ultrapassaram 200 mg/dL. Têm ficado em torno de pouco mais de 170 mg/dL nessas condições. Antes do novo remédio eram comuns medições pós-prandiais de mais de 270 mg/dL, umas poucas vezes acima de 300 mg/dL. 

Fiquei tão animado com a empaglifozina + linagliptina que até devaneei que poderia reduzir a dosagem da gliclazida. Como eu lhe disse na consulta, depois dos vídeos do Dr. Marquezine, fiquei com medo que o uso da gliclazida leve ao colapso final do meu pâncreas. Mas diminuir a gliclazida é só um devaneio no momento. 

Agora aguardo as possíveis infecções oportunistas pelo aumento da glicose na urina, causado pela empaglifozina. Sejam as infecções urinárias bacterianas, sejam as infecções fúngicas na glande ou no prepúcio. 

Mas há que se ter controle das nossas ansiedades em relação à nossa situação médica. 

Como lhe disse, fiquei animado. 

Se tudo der certo, nos encontraremos novamente por junho ou julho, com novos exames e reavaliaremos a situação. 

Obrigado até aqui.


27, 28/04/2024.

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