A Cafeteira



– Oi! Tu tem uma cafeteira para me dar?

Era Linus me chamando pelo aplicativo de mensagens. 

– Não. Só tenho a minha. – Respondi.

– Ah tá! Mas eu tinha de perguntar.

Depois de emprego de carteira assinada e do trabalho de motorista de aplicativo (Tem aplicativo para tudo hoje!), ele resolveu se estabelecer como “microempreendedor individual”, fazendo todo tipo de pequeno trabalho passível de ser feito em um escritório com computador e internet. Faz uns dois anos que somos um rolo um do outro. 

Depois dessa pequena comunicação, encerrei meu turno de trabalho e fui almoçar. 

Após o almoço, fui passar um café. Coloquei pó e água na máquina e voltei aos meus afazeres. 

Uns minutos depois senti um cheiro de fio queimado. 

Fui à cozinha e a cafeteira estava em aparente curto. O plugue derretendo na tomada. Desliguei o disjuntor. Minha cafeteira foi para o beleléu. 

Resolvi enviar uma mensagem a Linus. 

– Tá bom! Eu te compro uma cafeteira! Que olho o teu, hein?

– Kkkkkk... – veio a mensagem do outro lado. – Que é isso, Alberto?

Aí contei o que me aconteceu. 

– Kkkkk… – foi a resposta.

Encerrado o meu dia de trabalho, fui a uma loja de eletrodomésticos perto de casa. Comprei as duas cafeteiras. Como gosto do serviço completo, passei em um mercadinho e comprei filtro e café em pó. 

Quando cheguei em casa, enviei uma foto da caixa para Linus. 

– Tu é rápido! – Foi o que ele me respondeu.

Dois dias depois, um sábado nos encontramos, e antes de trocarmos abraços e carícias, entreguei a cafeteira e os suprimentos para ele. Ele sorriu, agradeceu, me abraçou e me beijou. 

Passamos uma tarde alegre, e ainda jantamos juntos antes de retornarmos aos nossos lares. 

Na segunda-feira, de manhã, Linus me enviou nova mensagem. 

– Alberto, tu nem sabe o que aconteceu.

– O quê? –

– Primeira vez que vou usar a cafeteira, o café começou a ser passado, e fiquei ouvindo um chiado. Quando parou de passar, eu fui me servir e vi que o fundo da jarra tinha trincado.

– Sério? – Era difícil acreditar em tanta zica junta.

– Uhum.

– Bom, eu comprei na quinta. Vamos trocar na loja.

No fim dos nossos trabalhos, Linus me pegou em casa e fomos na loja. Só que a loja se recusou a trocar a cafeteira. Alegou que o problema era com o fabricante e que deveríamos procurar a assistência técnica. 

Frustrados fomos embora. 

Linus não queria ficar com a cafeteira. Queria que eu resolvesse a parada. 

Eu falei que não fazia sentido. Ele que iria usar a máquina. 

E assim retornamos aos nossos lares. 

No dia seguinte, Linus em enviou uma mensagem de áudio.

– Pô, Alberto. Tu sabe que eu detesto ir atrás dessas coisas. A assistência técnica fica mais perto da tua casa! – O tom da voz era de irritação.

– Mas, Bombom, é tu que vai usar. Além disso, tu que tem carro e liberdade para entrar e sair da tua atividade no momento que tu quiser.

– Essa merda vai ficar jogada aqui!

– Ok. Que fique a merda jogada aí e depois seja jogada no lixo.

E mais não nos falamos naquela manhã.

Vez por outra Linus me lembra de seu espectro de bipolaridade. E fico pensando se é por isso que temos um rolo e não um namoro. Uma vez, em outra briguinha, eu falei que se ele fosse mulher ia dizer que ele tinha se alterado porque estava na TPM. Ele não gostou. Naquela vez demoramos um pouco para voltarmos a nos falar. 

Ah, o amor!… 


04, 05/05/2022.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

Sessão de Autógrafos - A Voz dos Novos Tempos

Feliz aniversário, Avelina!