Uma foto perdida em um livro
“Oi, Zé. Dentro de um dos livros veio uma foto.”
Bárbara me alcançou pelo aplicativo de mensagens. E me enviou uma cópia da foto.
Me perguntou se eu não sabia de quem era, para poder devolver.
Eu expliquei que não sabia de quem era a foto. Veio de bônus no livro, que por sua vez havia sido adquirido em um sebo.
No caso o livro era The Buenos Aires Affair, do argentino Manuel Puig, já registrado no blogue.
Ela ainda comentou que achava que pudessem se tratar de parentes meus.
Quando abri o livro e achei a foto, fiquei indiferente, uma foto como tantas outras que existem registrando um aniversário infantil.
Mas agora que Bárbara me chamou a atenção para a foto ela se tornou significativa.
Resolvi me deter mais na imagem.
Uma avó e um avô. Uma menina de talvez dois anos no colo da avó. Um menino aniversariante fazendo nove anos, como denuncia o bolo, acolhendo o braço da avó sobre seu ombro. Um aniversário. O sorriso franco da avó. O sorriso discreto do avô que não toca as crianças. A avó branca, o avô preto (será mesmo o avô, ou o segundo marido da avó?).
Pelas garrafas de guaraná Brahma, o aniversário deve ter sido pelos anos 1980. Digamos em 1985.
Estarão ainda vivos esses avós? As crianças se tornaram adultos?
Uma foto como tantas outras que existem registrando um aniversário infantil.
Fui procurar se eu tinha alguma foto de aniversário com meus avós.
Curiosamente de meus aniversários só sobraram fotos do meu primeiro ano de vida.
A foto semelhante que me apareceu, é de mim com meus pais e minha irmã. Todos parecem felizes, e eu, bebê, distraído para o lado.
De nós quatro na foto, sobrei eu.
As fotos fazem esse recorte da realidade. Congelam um momento. Como se parassem o tempo.
E depois nos acenam do passado que um dia registraram.
Mas, como tudo, acabarão se dissipando também no tempo.
Somos todos filhos de Chronos, e Chronos vai nos devorando.
Obrigado pela inspiração, Bárbara.
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Minha mãe, minha irmã, eu e meu pai
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26/06/2021, 10/05/2022.
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