Reflexões de um velho ranzinza – Gente que atrapalha na caixa do supermercado



Sou um velho com 61 anos, que aguarda ansiosamente a aposentadoria. São mais de 45 anos entre desemprego e empregos mal pagos. 45 anos para conseguir um apartamento apertado em um prédio ruim na periferia, uma lata velha do século passado como "carro", e perspectiva nenhuma de bem estar na tal aposentadoria. 

Dia desses, como quase todo mundo, eu estava no supermercado. 

Tenho os sentimentos misturados sobre supermercados. Acho um saco ir. Mas às vezes acho tipo um passeio. Principalmente nos grandes, que têm eletrodomésticos e variedade de trago.

E tem a parte mais chata, a fila. Pode ser que tenha gente que goste, mas eu não gosto de entrar em fila. 

Hoje vim neste grande aqui. Agora estou com meu cesto na fila. 

Na minha frente uma moça, com um carrinho pequeno. Baixinha. Cabelo curto. Pele clara. Trinta e poucos anos. 

Chega a vez dela, ela olha pro carrinho, olha para a caixa, olha pra dentro do supermercado. 

Afinal começa a tirar as coisas do carrinho. 

Devagar. Ela deve ter todo o tempo do mundo, mesmo já não tendo vinte anos. 

A caixa vai passando as coisas rápido. Em seguida termina de registrar tudo. 

Já estou um pouco surdo, mas acho que a caixa pergunta pela forma de pagamento. 

A moça olha para a caixa, como se não soubesse o que fazer. 

Murmura alguma coisa, e só então tira a carteira da bolsa. 

Não abre a carteira. Olha pra dentro do mercado. Murmura outra coisa. Caminha pra dentro do mercado. Afff!

Volta caminhando com uma garrafinha de água. Uma sede incontrolável de última hora pelo jeito.

A caixa registra a água. 

A moça abre a garrafa e toma um gole. 

Afinal abre a bolsa, e tira um cartão. 

Coloca o cartão na máquina e paga. Em seguida a caixa alcança a nota. A moça pega a nota e finalmente vai embora.

Vade retro, ô tranca rua! 


23/06/2021.

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