Diário da Peste (XXVII) - Início do Inverno de 2021
Nas primeiras horas de ontem, 21 de junho de 2021, foi o solstício de inverno austral, isto é, o início do inverno. O que significa que de domingo para segunda passada, 20 para 21, foi a noite mais longa do ano.
Significa também que a partir de agora, irão aumentando as horas de luz, embora talvez demore um pouco para nos apercebermos. Talvez a partir da primavera. Nesses primeiros dias de inverno, serão segundos, depois alguns minutos. E vão se sucedendo, os dias e as estações.
O aplicativo de fotos no celular fica me relembrando constantemente o que acontecia nesse dia, ou nessa semana, no ano passado.
E no ano passado por esta época algumas flores cor de laranja da bisnagueira resistiam, e coloriam os meus dias de inverno. Este ano as flores da bisnagueira praticamente se restringiram ao verão.
Talvez a bisnagueira capte a nossa angústia, e se recolha.
É o segundo inverno sob o fardo da peste.
No primeiro nos angustiávamos com o que aconteceria. Nos perguntávamos quando a peste amainaria. E parecia que ela amainaria com a chegada da primavera. Uma esperança que se frustrou.
Neste segundo inverno, nós que nos preocupamos com isso, nos angustiamos com o ritmo lento da vacinação. Continuamos nos perguntando quando a peste passará.
A peste já causou 500 mil mortes. Meio milhão. Apesar de certamente subestimada, a marca foi atingida na véspera do início do inverno.
E como diz o humorista José Simão, no Egito as pragas vieram em sequência.
Aqui vêm concomitantemente.
Junto com o segundo inverno com o fardo da peste, vem o terceiro inverno sob o jugo do inominável; que mais inominável se tornou com o advento da peste.
Há muitos adjetivos para o inominável.
Grosseiro, mal educado, vil, debochado, desempático, incompassívo, indiferente, hipócrita, cínico, biltre, fanfarrão, tosco, ignorante, iletrado, rude, misógino, sociopata, negacionista, enganador, antissocial, repugnante, apologista da tortura.
Grosseiro, vil, tosco, rude.
Estou me repetindo. Melhor parar por aqui.
O tempo vai no seu próprio ritmo, mas nós vamos com nossas percepções.
Que este inverno passe rápido.
22/06/2021.
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