Diário da Peste (XXVI) - Bananas



Todos conhecem a banana. A maioria a aprecia. Tem sabor e textura agradáveis quando madura. Cerca de 75% de sua composição é água. 

Tento me lembrar de uma crônica do Moacyr Scliar falando sobre a decepção de alguns comensais, quando, após uma refeição em um restaurante chique, ele pediu como sobremesa uma simples banana.

Quem se lembra que uma das coisas procuradas pelos alemães orientais quando da queda do Muro de Berlim eram bananas? 

Originária da Ásia, é cultivada em praticamente todas as regiões tropicais do planeta. E importada por países ditos desenvolvidos. 

Foi por esse motivo que houve um golpe na Guatemala em 1954, contra um presidente que pretendia fazer um reforma agrária no país. A reforma podia afetar os interesses de uma companhia estadunidense, grande produtora… De bananas. Eis, em grande parte, a origem da expressão "república de bananas" ou "república bananeira". 

Palavra cheia de significados conotativos, pode significar tanto que algo está barato, “a preço de banana”, quanto algo muito caro, “isso custa uma banana!”.

E se alguém é chamado de banana, é porque esse alguém é considerado, troncho, sonso, pateta, enfim, um, ou uma, banana. 

Eis o motivo da ampla repercussão de o vice-presidente da república ter chamado Eduardo de Bananinha, em lugar no nome patriarcal. 

Mas há exceções. Uma dançarina de um programa televisivo de auditório acabou ganhando esse mesmo sobrenome, Bananinha, porque fazia (faz ainda?) amplo consumo da fruta. 

Mandar uma banana para alguém é um gesto ofensivo. Como fez o personagem Marco Aurélio, interpretado por Reginaldo Farias, mandando uma banana para o Brasil no final da telenovela Vale Tudo (1988). 

Eu sou um grande consumidor de bananas. 

Faz algum tempo compro preferencialmente bananas orgânicas, que já vem embaladas e pesadas no supermercado (a piada na firma era que, “se essas bananas são orgânicas, as demais são sintéticas?”). 

Pois nesses dias de confinamento, em uma ocasião comprei dois pacotes dessas bananas. Pouco mais de um quilo e meio. Um pacote com frutas maduras e outro com frutas verdes. 

Eu pensei que consumiria um, e, ao seu final, o outro também estaria maduro. Ainda mais que eram frutas orgânicas. 

Grande engano. Um cacho foi consumido, o outro permaneceu verde. 

Tive que comprar outro cacho, e depois outro, e depois outro. 

Ao fim, as bananas só amadureceram com quase três semanas. Sendo que antes suas ligações com o cacho ficaram pretas. 

Enfim. Como pude errar tanto em meu juízo sobre a fruta? 

Fui um banana? 


15/06/2021. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Jussara Fösch partiu em 16 de abril de 2024

Poemas de Abbas Kiarostami na Piauí de Junho/2018

16 de outubro de 2024