Diário - leituras - Essa Gente


"Essa Gente" é o mais recente livro de Chico Buarque, ultimamente talvez mais escritor que compositor. 

Mais ou menos em forma de diário (há inseridos no livro correspondências, bilhetes, telefonemas, e até uma notificação judicial) o livro conta a vida do escritor Manuel Duarte, entre o final de 2018 e até meados do ano passado (2019). 

Manuel Duarte já chegou a ser um escritor de sucesso, principalmente por conta de seu romance histórico "O Eunuco do Paço Real". Também nasceu em berço privilegiado, filho de um juiz. 

Mas neste final de 2018, passa por situação difícil. Os tempos de sucesso como escritor são idos. Ele está em bloqueio criativo, sem conseguir concluir um livro prometido a seu editor. 

Talvez para esse bloqueio criativo contribua o fato dele ter abandonado sua mulher, Maria Clara, uma tradutora que revisava seus livros, e ter sido abandonado pela amante, Rosane, que o trocou por um empresário do agronegócio. 

Em meio às suas dificuldades financeiras, o escritor fica caminhando para lá e para cá, no circuito da zona sul carioca, entre Flamengo, Ipanema e Leblon. 

Possivelmente "essa gente" sejam os empresários que exploram; os colegas do colégio particular filho que bulem com o menino "filho de comunista"; favelados que votam em políticos conservadores; todos narrados no livro. 

Mas mesmo em meio a tudo isso, lá pelas tantas o personagem Duarte deixa escapar essa pérola: "Apesar de tudo, assim como venero a mulher incauta que  me deu à luz, estarei condenado a amar e cantar a cidade onde nasci" (página 48). 

As andanças e desventuras de Manuel Duarte me pareceram um pouco uma atualização de minhas memórias do filme "Rio Babilônia", de Neville d'Almeida (1982). Será que serei só eu a fazer essa comparação?

A decepção ficou por conta do final, que achei anti-climático. Mas até ali foi um livro divertido. 


BUARQUE, Chico. Essa Gente. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 


24/01/2020.


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