Diário – leituras – relendo Memória de minhas putas tristes e fazendo uma breve comparação com A casa das belas adormecidas


Memória de minhas putas tristes sobre amor e sexo: “O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança.” 

Sobre envelhecer: “Acontece que a gente não sente por dentro, mas de fora todo mundo vê.”

Eu havia lido Memória de minhas putas tristes há três anos. Gostei bastante do livro. Foi então que eu soube que García Marquez teria sido influenciado pelo escritor japonês Yasunari Kawabata, com seu livro A casa das belas adormecidas. Li o livro de Kawabata recentemente e também gostei. Foi pela recente leitura de Kawabata que resolvi reler o colombiano. 

Assim, esse texto é algo como uma pequena comparação entre os livros, além de um marco para essa mais recente leitura. 

Clima: o ambiente do livro de Kawabata é invernal. Não consegui identificar exatamente onde se passam as noites do velho Eguchi, personagem protagonista da história. É possível que seja Honshu, onde fica Tóquio, que é bastante fria no inverno. Mas na minha cabeça a história se passa em Hokkaido, cuja cidade mais famosa é Sapporo (onde, inclusive, se produz uma famosa cerveja homônima). Lá estão noites frias aquecidas por chá, cobertores elétricos e corpos nus sedados. 

Já o livro de García Marquez é solar. Fico pensando no calor equatorial de uma cidadezinha no Caribe Colombiano, só aliviado pelas tempestades que chegam do oceano. Um local quente, em que senti falta da presença de turistas. Mas talvez o início ou a metade do século XX não fizesse da cidade alvo de turistas. 

Movimento: no livro de Kawabata a narrativa me parece lenta. O protagonista reflete sobre sua vida, revisita suas lembranças. Aguarda o tempo passar, talvez como se à espera da morte, até que chegue a próxima noite para estar com uma das jovens daquele peculiar bordel japonês. 

Já o nonagenário de García Marquez parece agitado. Planeja o aniversário de noventa anos, tendo em vista uma orgia com uma virgem. Está sempre para lá e para cá, em especial vai ao jornal, para o qual escreve crônicas. E no contato com a cafetina Rosa Cabarcas. E de volta para a casa decadente em que mora. 

Sentimentos: o livro de Kawabata me transmitiu tristeza, tédio. A vida perto do fim, ou, a vida cuja melhor parte já passou, enquanto se aguarda o fim. 

Já García Marquez me transmitiu alegria. A alegria de ainda estar vivo e se permitindo, mesmo aos noventa anos. Como se o fim estivesse logo ali, mas isso, o fim, no fim não importasse. 

E esse foi o meu comentário comparativo desses livros. Gostei de ambos. Um inspirou o outro, mas é impressionante como eles são diferentes. 


19, 22/07/2024. 

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