Depois da catástrofe de maio de 2024 – IV


Quarta-feira, 10 de julho, estive no centro de Porto Alegre para resolver dessas questões do dia a dia. Tomar cafezinho com gerente de banco – ainda é possível fazer isso em banco físico; imprimir documentos – sim, sou do tipo que imprime coisas; almoçar com amigos. 

Quando caminho pelo centro de Porto Alegre, algumas vezes, ainda posso me dar ao luxo de flanar, caminhar com pouca preocupação sobre o destino, ou o tempo da caminhada. 

Quarta-feira foi um dia típico de inverno porto-alegrense, quando o dia de inverno porto-alegrense parece típico: baixa temperatura – pouco acima de dez graus na máxima; céu nublado, em alguns momentos com uma garoa fina. Felizmente sem vento. 

O almoço foi com um amigo, o colega escritor e blogueiro Emilio Pacheco. Almoçamos no Boteco Andradas, em frente a Casa de Cultura Mário Quintana. Nisso já houve uma quebra de padrão, pois em todas as outras ocasiões em que almoçamos juntos, o local foi a praça de alimentação do Rua da Praia Shopping. A praça de alimentação do Rua da Praia Shopping ainda está interditada por conta da enchente. 

Após o almoço, o Emilio tinha outros compromissos e eu fui caminhar pela centro sob o frio e a garoa. Me sentia inspirado pelos registros do fotógrafo Fernando Oliveira, que tem registrado flagrantes de Porto Alegre durante e após a catástrofe.

Me repito quando falo que gosto da Praça da Alfândega, lugar onde ficava localizado o meu trabalho. Por ali andei. Por ali fotografei muito. Não que eu seja um grande fotógrafo. Em relação à fotografia sou um amador nos dois sentidos mais óbvios da palavra. Gosto de apreciar os prédios monumentais da Praça, o MARGS, o Memorial e sua torre do relógio, relógio parado há tanto tempo, e o agora chamado Farol Santander. De fato, nem me ressinto das presenças desarmônicas dos prédios do Banrisul e da Caixa Federal. 

Se a Praça da Alfândega já parece limpa, e já não cheira a lodo, ainda é triste ver a vegetação morta ao redor desses prédios. Essa vegetação foi afogada pela água com lama, e sua aparência é de como se tivesse sido queimada. 

Além das plantas mortas e das marcas que a água deixou nas paredes, outra coisa que indica que Porto Alegre ainda não recuperou totalmente seus ares de normalidade é o ruído dos geradores. São alguns, perceptíveis por seu barulho característico, quando caminhamos pela Sete de Setembro em direção à Ponta do Gasômetro. Barulho e, provavelmente no caso dos menos regulados, pelo cheiro do diesel consumido. 

Ainda caminhei pela Rua da Praia. Depois da enchente continuam as obras de “revitalização” da área central. Uso aspas porque o antigo revestimento do chamado calçadão da Rua da Praia está sendo substituído por blocos de concreto que me parecem horrendos. Não sei como ficará a arte final, mas por enquanto acho a nova aparência péssima em relação à que havia antes.

No trecho entre a Marechal Floriano e a Doutor Flores, a aparência da Rua da Praia parecia com o que era nos últimos cinquenta anos. Para diferenciar apenas algumas coisas inacabadas. Um buraco ou um bueiro à espera da finalização das tais obras de revitalização.

Quando cheguei à subida da Rua da Praia, me protegendo da garoa sob uma marquise, aguardei a condução que me levaria de volta para casa. 

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12, 15/07/2024. 

Comentários

  1. Muito bem! Torço pela reabertura da praça de alimentação do Rua da Praia Shopping, até porque é o destino das caminhadas que faço do Menino Deus até o centro.

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