Apocalipse do século XXI


Costumo ler os colunistas do jornal Folha de São Paulo. Uma de que sou fã é Fernanda Torres. De fato só lamento que ela escreva quinzenalmente, às quintas-feiras. Eu gostaria que seus textos fossem semanais. 

Semana passada ela escreveu, com pompa e circunstância, um texto falando do apocalipse que estamos vivendo. Estamos vivendo? Sim, estamos vivendo. 

Vivemos um tempo de incremento da fé religiosa em detrimento do livre pensar; um tempo de radicalismos e falta de diálogo; um tempo de precarização da vida em geral e do mundo do trabalho em especial, e isso, precarização do mundo do trabalho, especialmente no chamado Ocidente e seus satélites, como, por exemplo, o Brasil. De quebra são tempos de nova Guerra Fria (ou nem tão fria assim, em que esse mesmo Ocidente trava uma guerra por procuração contra a Rússia através da Ucrânia). E mais de quebra temos a crise climática, cujo efeito mais palpável para nós, gaúchos, foram as enchentes de maio passado. 

Da quinta-feira para o domingo, de Fernanda Torres para Antonio Prata e Ricardo Araújo Pereira: fiquei surpreso que os dois colunistas dominicais da Folha de São Paulo, que tentam pautar seus textos pelo humor, tenham centrado suas atenções no desempenho desastroso do presidente Joe Biden no debate contra o candidato republicano Donald Trump. Desempenho desastroso segundo a maioria das pessoas que pararam para prestar atenção ao debate. Como não posso votar nos Estados Unidos não me preocupei com isso. Mas o país da América do Norte se arrisca a ter novamente Trump como presidente. Afinal, além do desempenho desastroso de Biden, pesquisas tem indicado que Trump tem tido vantagem nos tais estados pêndulos, o que pode lhe assegurar a eleição (o sistema eleitoral dos Estados Unidos não é como o brasileiro ou o francês, em que, para a eleição presidencial, cada voto conta. Dessa forma, por exemplo, no Brasil, mesmo em Santa Catarina que deu quase 80% dos votos para o inominável, os outros 20% ajudaram o candidato que foi eleito. Nos Estados Unidos cada estado elege um número determinado de delegados, quem vence no estado leva todos os votos; assim, em geral, os democratas sempre vencem no estado de Nova York e os republicanos sempre vencem no Texas. Nos estados pêndulo ora vence um partido, ora outro. No momento alguns desses estados são Arizona, Geórgia e Michigan). Se Trump for novamente eleito, será como ter na Casa Branca alguém mais ou menos equivalente a Bolsonaro, Orban ou Putin. 

Para todos nós que tínhamos 10 anos de idade ou mais em 1989, e vimos a queda do Muro de Berlim; os acordos de paz na Irlanda do Norte; e as promessas de Oslo, tudo parece uma regressão e tanto. 

Fernanda Torres começou seu texto com um pergunta retórica de um especialista em informática – “estamos perdidos?” (“are we doomed?” – “estamos condenados?”, diria eu). Do jeito que a coisa vai, nas atuais circunstâncias, parece que sim. Estamos perdidos, estamos condenados. 


01, 02/07/2024. 

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