Tia Olívia (1930-2023)


Devia ser um sábado como quase qualquer outro. A única coisa menos comum foi que na manhã desse sábado eu resolvi ir a um laboratório realizar os exames que se tornam rotina na vida da gente depois dos quarenta, quando a gente tenta cuidar da saúde. 

Do laboratório para casa, resolvi realizar a caminhada diária, recomendada pela médica, aproveitando a falta de pressa e a temperatura amena do início da manhã. 

Passei a manhã entre leituras. 

No início da tarde, saí para almoçar em um restaurante perto de casa. 

Depois do almoço, nova caminhada, até um shopping próximo. Nos dias de verão é bom caminhar sob o ar condicionado do shopping. 

De tantas caminhadas, um par de tênis está se entregando. Comprei um novo par de tênis. 

Quando eu ia me encaminhando lentamente para a saída do shopping, uma mensagem do Emanuel me interceptou. Tia Olívia, tia-avó dele, tia da Linda havia falecido. Caiu sobre mim o sentimento de luto. 

Tia Olívia, a irmã gêmea da Dona Dyva, minha falecida sogra. 

Faz quase um ano que escrevi sobre um sonho que a envolvia

Olívia estava naquele lugar de pessoas que são queridas, mas são algo distantes. Não sabemos bem como estão, mas pensamos que estão bem. Sabemos que são velhinhas, mas estão bem. 

Então, um dia, nos sobrevêm esse tipo de notícia. 

Talvez uma das primeiras visitas que fiz com Linda a seus parentes na área rural de Cachoeira do Sul e arredores tenha sido à casa da Tia Olívia. 

Éramos recém-casados e chegamos na época da colheita do arroz. Linda havia me prevenido para um lugar sem água encanada, nem luz elétrica. Mas a Linda estava enganada. Quando chegamos lá, a luz elétrica havia chegado bem antes. Ou seja, havia eletricidade. E por conta disso, havia motor elétrico no poço, que puxava água para a caixa d'água instalada na casa, e, portanto, havia água encanada. A hospitalidade foi menos rústica, mas tão divertida como poderia ser em qualquer circunstância. 

Poucos anos depois, voltamos. Mais ou menos na mesma época. Época de colheita de arroz. Final de março ou início de abril. O Emanuel bebê. Da entrada da propriedade, junto à estrada vicinal, até a casa da tia Olívia ganhamos carona numa espécie de caçamba puxada por um trator. Não tinha amortecedor, sacudia pra caramba, mas nos poupou uns três quilômetros de caminhada com bebê e bagagem. 

Depois os encontros ficaram mais esporádicos. 

Devo tê-la visto no velório e enterro do meu sogro, Manoel. 

E depois, numa dessas expedições que se faz em dias como Finados, para limpar e arrumar túmulos de entes queridos. 

Sendo gêmea de minha sogra, talvez fosse um caso de estudo da ciência. As duas compartilhando a mesma carga genética, desenvolveram Alzheimer. Mas tia Olívia bem depois da dona Dyva. 

Pelas minhas contas, estava com 92 anos. 

Estou aqui, sob o impacto da notícia. 

Que descanse em paz. 


07,10/01/2023. 

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