Diário – leituras – Mugre Rosa


Faz alguns dias terminei de ler o livro Mugre Rosa, de Fernanda Trías. Nesta história ficcional, uma mulher (não lembro o seu nome, não tenho certeza se é nomeada na história) vive em uma cidade, que passa a ser afetada pelo fenômeno de uma névoa vermelha, que mata os peixes, espanta os pássaros, e pode matar ou deixar doentes os seres humanos. A cidade também não é nomeada, mas podemos imaginar que seja Montevidéu, banhada pelo Rio da Prata. A névoa cancela as chuvas, e faz com a cidade seja esvaziada. 

Não sei se é coincidência ou não, mas o livro foi lançado em 2020, ano do surgimento da covid-19. 

Além disso, não sei se a autora estudou um fenômeno ocorrido no final da década de 1970, na praia do Hermenegildo, no extremo sul do Brasil, que passou à memória de quem vivia naquela época como “maré vermelha”. Na época, começaram a surgir peixes e mariscos mortos em grande quantidade na praia. Depois a mortandade passou a afetar mamíferos como leões e elefantes marinhos. E até animais domésticos como gatos. 

Como no caso do Hermenegildo, o leitor de Trías vai ficar se perguntando se a névoa tem causas naturais, ou se surgiu a partir de alguma forma de poluição ambiental. 

Eu pude projetar essas coisas nesta história. 

Por outro lado há toda uma solidão na protagonista da história. Ela tem uma relação conturbada com a mãe, incapaz de demonstrar afeto. Sente falta da mulher que foi sua babá. O relacionamento com o marido/namorado também não é muito pacífica. E, sem ter sido mãe biológica, se tornou uma espécie de baby sitter de um menino, filho de uma família aparentemente abastada. Aparentemente esse menino tem alguma síndrome genética que lhe causa algum retardo intelectual e uma fome inextinguível. Além disso, Max, o namorado, agora vive internado, pelo jeito de maneira compulsória, em um hospital da cidade, contaminado pela doença gerada pela névoa. 

Não me lembro como descobri o livro. Provavelmente fazendo pesquisas de livros naquela livraria online que quer se tornar monopólio mundial. E adquirir o livro está relacionado a meu, digamos, amor pelo Uruguai e por Montevidéu. O adquiri lá em minha viagem mais recente, em outubro de 2022. Pior que só depois de adquirir o livro em uma livraria de rua de Montevidéu, descobri que ele já tinha tradução ao português. E a edição em português é mais barata que o preço que paguei lá. A propósito, o título em português é Gosma Rosa. 

Se gostei? Diria que sim. Diria também que a névoa da história acabou por envolver o meu cérebro enquanto eu lia o livro. Ficava imaginando um lugar, talvez Montevidéu, onde todos os dias fossem como alguns amanheceres de inverno de Porto Alegre. Envoltos em neblina. 


TRÍAS, Fernanda. Mugre Rosa. Montevideo: Penguin Random House, 2022. 


02, 04/01/2022. 

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