Fenecendo


Caríssima,


Me parece que a orquídea que me deste em 31 de outubro de 2019 está morrendo. 

Não sei o motivo. Será que as orquídeas têm um tempo de vida pré-determinado?

Eu continuo regando como sempre fiz. E ela recebe luz indireta na área de serviço. Será que é por conta do calor absurdo dos últimos dias?

Lembras quando me deste? Uma noite de lançamento do livro de uma das tantas coletâneas que participei. 

Tempos já de dias americanizados. E naquele dia muita gente comemorava Halloween. 

Tempos que tu estavas magoada comigo. Com toda razão. Decepção de uma vida. 

Noite em que fiquei aguardando nosso filho, mas ele não apareceu. Ele estava em preparativos para o intercâmbio dele. Era a expectativa de uma vida. Era esperança de mudar de vida. A esperança dele também virou decepção. Mas só meses depois. 

Noite em que bebi demais. Era uma época de redescobertas e as bebedeiras eram frequentes. Mas naquela noite quase desmaiei. Quase.

Enfim, estou triste. Não queria que a orquídea morresse. 

Hoje pela manhã, no trabalho, recebi a notícia do falecimento do Jorge Ponsi. Ex-colega. Trabalhei com ele uns anos. Nesse aspecto ele foi um pouco de mentor para as atividades que eu viria a desenvolver na época. 

Depois ele passou em um concurso em Santa Catarina e mudou-se para Florianópolis. Se estabeleceu por lá e a família aumentou. Coragem ter família grande nesses tempos.

Eu recebia alguma notícia dele por redes sociais de internet. 

Como ando sem paciência para acessar essas redes, eu estava sem notícias. Até hoje pela manhã. 

E aqui estou eu, a 500 km de distância, triste e impotente diante da morte de meu ex-colega. 

Triste coincidência que a percepção do estado da orquídea e a notícia do falecimento tenham chegado quase no mesmo momento. 

Me dá a impressão que estamos condenados a ver os seres ao nosso redor fenecerem e perecerem.

Até que nós também pereçamos. 

Seria uma orquídea um ser?

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13, 17/12/2022.

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