Dezembro é foda! As crianças têm a responsabilidade de sustentar a magia do Natal!


“Então, é Natal / E o que você fez?”

E estamos novamente naquela época do ano, em que ouvimos a versão da Simone para a canção de John Lennon. Nas lojas de departamentos, nos shoppings, nos supermercados. 

Pode ser que o som ambiente esteja tocando também Jingle Bell Rock, que eu sempre achei que era de Frank Sinatra, mas, na verdade, pesquisei, é de Bobby Helms. 

Neste ano da graça de 2022 me senti especialmente tocado por duas crônicas, digamos, de Natal. 

A primeira foi de Manuela Cantuária, publicada na internet tão cedo como 28 de novembro. Essa crônica tem um título autoexplicativo, “As crianças têm uma única responsabilidade: sustentar a magia do Natal”, onde ela comenta que não há mais crianças nas celebrações da família dela. As crianças que havia, se tornaram adultos, mas não, ainda (ela inclusive se pergunta por esse “ainda”), pais e mães. A crônica termina com um tom otimista, uma atitude natural para uma pessoa nos seus trinta e poucos anos. 

A outra foi uma crônica da Tati Bernardi, publicada em 15 de dezembro passado, chamada “Dezembro é foda”. Nessa crônica Bernardi repassa lembranças que vem desde a infância até a idade adulta para o mês de dezembro. “Foda” nesse título quer dizer difícil (é preciso esclarecer. Foda, palavra polissêmica, pode significar algo muito bom ou algo muito ruim dependendo do contexto). Em dezembro, em geral para a família, ou segundo essa crônica, é difícil manter a sanidade mental. Em todo caso, a crônica se fecha com desejos de boas festas de final de ano. 

Fico pensando. E dando razão para Cantuária. 

Natais felizes foram os da minha infância. Ou os da infância de meu filho. Os Natais da infância do meu filho ainda tiveram como bônus a existência dos primos dele. 

Natais como um há muito tempo, no bairro Chácara das Pedras, meu primeiro lar. Na véspera desse dia de Natal, eu estava na casa de um vizinho. Eu tinha no máximo sete anos de idade. A família que morava ali tinha quatro filhos, dois jovens no final da adolescência, cujos nomes esqueci, e duas crianças, o Maurício e a Cristina, com quem eu brincava. No início da noite a campainha da casa tocou. Na minha lembrança todos acorreram à porta, e havia ali, depositado naquela varanda, um saco de presentes. Como se Papai Noel tivesse largado os presentes e ido embora. Não recebi nenhum presente dos que estavam naquele saco, mas o encantamento da situação nunca me deixou. 

Ou depois, na Vila Cefer. Eu deveria ter uns onze ou doze anos. Fui tomar o costumeiro banho para me arrumar para a passagem da meia-noite. Depois que saí do banho, havia no meio da sala uma bicicleta vermelha. A única bicicleta que tive na vida. 

Por conta daquela cena na Chácara das Pedras, eu repeti tantos Natais quanto foi possível o ritual de largar um saco de presentes na porta de casa, enquanto meu filho era criança. 

E, bom, meu filho teve três bicicletas ao longo de sua infância. 

Como meu filho se tornou um adulto, e também não se tornou pai, não há mais crianças no meu entorno. O Natal perdeu um tanto da magia. 

A gente pode colaborar com um projeto caritativo aqui e ali, que trarão alegrias a outras crianças, mas não é a mesma coisa. 

Natal se tornou algo indiferente. Ou estressante. Época de correrias de compras, lojas cheias, e muita gente enfezada. 

E aos cinquenta e tantos, ao contrário da Cantuária, eu não tenho irmãos jovens adultos para surpreender. Fases da vida. 

Mas não se baseie em mim. 

Acredito que para a maioria das pessoas, ainda é uma época de alegrias e renovação de esperanças.

Talvez eu deva pensar mais em Jesus que em Papai Noel.

Chego ao final desse texto e vejo que falei muito mais na crônica de Manuela Cantuária do que na de Tati Bernardi. Mas tudo bem, vai ficar assim.

Feliz Natal! 


P.S. Se alguém bater no paywall da Folha de São Paulo, eles podem ser encontrados em blogues. Por exemplo, aqui Manuela Cantuária, e aqui Tati Bernardi.


17/12/2022.

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