Um sábado de janeiro


Eu já havia bebido duas doses do Old Number Seven, em casa, antes de sair. 

Chamei um carro pelo aplicativo. Passei na casa do Emanuel para pegá-lo, e nos dirigimos à festa de aniversário do filho do meu amigo Guerreiro. 

Era um dia quente de verão em Porto Alegre. Temperatura de quase 40 graus, e sensação térmica se encaminhando para 50. 

Havia medição de temperatura na entrada do salão de eventos. Medida inútil quando se sabe que alguém pode estar infectado sem necessariamente ter febre. Papinho para tentar tranquilizar convidados, ou dizer que faziam alguma coisa para o controle da peste. 

No forno em que se encontrava a cidade, havia piscina de bolinhas e cama elástica do pátio, mas quase todo mundo ficou dentro do salão, por conta do forno, isto é, por causa do ar condicionado. 

Quando cheguei, fui recebido com um puxão de orelhas, pois estava algo atrasado. Dispensei os comentários. 

Tive que aguardar enquanto rearranjavam as mesas, gerando espaço. 

Antes mesmo de sentar, peguei o primeiro chope na serpentina que estava na entrada do salão. 

Quando um garçom passou oferecendo cachorrinho-quente, peguei logo dois. Eu estava com fome. 

De fato, o chope terminou antes dos cachorrinhos. Tive que pegar mais um. 

Os papos na mesa variaram de alguma pendência no trabalho, às últimas viagens de quem conseguiu viajar em meio à pandemia. 

Peguei mais um cachorrinho, e, em seguida, mais um chope. O Emanuel me disse para tomar cuidado. Tive vontade de mandar ele longe. 

Quando eu estava pelo quarto ou quinto chope, o Guerreiro afinal deu o ar de sua graça à nossa mesa. 

A princípio o abracei e desejei felicidades. Ele fez algum comentário sobre o que eu já tinha bebido. Aí mandei ele longe. Todos na mesa me olharam meio de lado. 

Eu devia estar pelo sexto ou sétimo cachorrinho, quando a mãe do Guerreiro veio falar conosco na mesa. 

Algo alterado, e levantando a voz, falei para ela que o Guerreiro era muito falador, fofoqueiro. Ela me olhou um pouco feio. Insisti no meu ponto de vista. Inclusive acho que levantei um pouco a voz. Ela se afastou. O pessoal da mesa, me olhou de lado de novo. 

Tive que levantar para ir ao banheiro e tive alguma dificuldade para levantar. Emanuel me perguntou se eu precisava de ajuda. Eu dispensei. Depois de estabilizar, fui. Enquanto urinava, encostava a cabeça na parede. 

Voltei à mesa. Peguei mais dois cachorrinhos, e outro chope. 

Emanuel me perguntou se estava tudo bem. Eu disse que sim. 

Por fim, chegou a hora do fim da festa. 

Na hora de me despedir, tive a impressão que o Guerreiro estava rindo de mim. 

Não lembro direito como consegui chamar o aplicativo para voltar. O Emanuel ficou quase grudado em mim. Acho que ele parecia preocupado. 

O aplicativo informava que o carro chegaria em oito minutos. Devo ter praguejado alto. O Emanuel olhou pra mim parecendo espantado. O Cândido também. Parecia que mesmo pessoas que eu não conhecia passavam me olhando com olhar de reprovação. 

Cheguei à calçada e me senti enjoado. 

Devo ter vomitado no meio-fio. 

O que digo a partir daqui foi o que me contaram. 

Disseram que boa parte do que eu havia comido e bebido na festa tinha voltado para o meio-fio. 

O Emanuel me disse que ele e o motorista do aplicativo me colocaram no carro. 

O Emanuel disse que o motorista avisou que se eu vomitasse no carro, ele ia querer indenização para limpar o carro, e porque ele não ia poder pegar mais passageiros até o carro ser limpo. 

Quando chegamos na minha casa, o Emanuel pediu para seguir em frente. Ia ser impossível me fazer subir as escadas do jeito que eu estava. 

O Emanuel me disse que o motorista concordou em entrar no pátio do condomínio em que ele morava. O motorista também ajudou o Emanuel a me carregar para dentro do apartamento, que é no térreo.

Me deixaram no sofá da sala. 

Foi onde acordei no alvorecer de domingo. Com dor de cabeça e enjoado. 


23/01/2022, 03/02/2022. 

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