Diário – leituras – História de Mayta


Na edição de agosto de 2019 da revista Piauí, havia excertos dos Diários do economista Celso Furtado. Ele manteve um diário por longo tempo, por vezes, com interrupções. Os excertos publicados na revista davam muita ênfase às articulações políticas que puseram fim ao ciclo militar, originado no Golpe de 1964, e, por fim, levaram à eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1985.

Curiosamente, entre as reuniões com representantes da sociedade civil, e conchavos entre membros do Congresso Nacional, Celso Furtado cita o livro de Mario Vargas Llosa, então recém publicado, "História de Mayta", e o refere como escandaloso. 

Por conta da referência de Celso Furtado, e por gostar dos livros de Vargas Llosa, fui ler o tal livro. 

"História de Mayta" trata de um homem, inconformado com a miséria de seu país, o Peru, que se torna um militante marxista trotskista, isso depois de ter sido coroinha, ter renunciado à fé católica, ter sido membro da APRA, e do Partido Comunista Peruano (stalinista). 

Ao se encontrar com um militar de baixa patente em uma festa, descobre que este está preparando um levante na região serrana de Jauja, o que pode se tornar o estopim para uma revolução proletária no Peru. Então, o militante e teórico, se vê na perspectiva de participar desta revolução, que, se fosse bem sucedida, ocorreria ainda antes do sucesso de Fidel, Chê e Camilo em Cuba. 

No livro, Vargas Llosa conduz uma espécie de experimento, em que há um romancista (um alter ego do próprio Vargas Llosa) fazendo uma pesquisa sobre quem seria Mayta, como ele se tornou militante de esquerda, e como chegou ao levante. Brincando com essa metanarrativa, Llosa conduz a história. 

O livro, obviamente, lembra "Conversa no Catedral" do próprio Vargas Llosa, mas também "Pessach", do brasileiro Carlos Heitor Cony, com os problemas da política, em ambos os países, Peru e Brasil. 

Mas neste livro, até pela metalinguagem, de um escritor relatando uma pesquisa para um romance sobre um militante de esquerda, a coisa toda deriva um pouco para a farsa, de modo que o leitor pode ficar com um sorriso amarelo no rosto, apesar dos momentos trágicos trazidos pelo livro. 

Mas é um bom livro. É difícil um livro ruim escrito por Vargas Llosa. 


LLOSA, Mario Vargas. História de Mayta. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora, 1985. 


25/12/2019, 21/02/2022.


P.S. Eis um texto escrito e esquecido de ser publicado. Só me dei conta quando fui procurá-lo no blogue e não encontrei. Ei-lo agora, publicado. 


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