Diário da Peste (XLVII) - Tecnologia do Capeta



No dia 5 de outubro de 2021, quando acessei meu computador para iniciar minha jornada de trabalho me dei conta que o sistema operacional do meu computador tinha sido atualizado. Aquele sistema operacional das janelas. Ou seja, o sistema operacional tinha se atualizado sem me avisar,  nem pedir permissão. E de repente as configurações da minha área de trabalho não existiam mais. Nem mesmo o software para acesso remoto, fundamental para o teletrabalho, estava facilmente disponível. Sendo que com o "home office", você não tem a preparação psicológica para o trabalho que um deslocamento te dá. Você acorda, faz as necessidades mais básicas, põe o café na cafeteira, e liga o computador. E de repente, "what the hell?" (sim, como bons informatas temos que praguejar em inglês). Pânico! Contacta o chefe. Contacta o grupo do aplicativo de mensagens (que felizmente funcionava). Contacta o suporte. Felizmente todos colaboram, mas a jornada só vai começar 45 minutos após o que deveria ter sido o início da jornada. 

Informatas tendem a achar que o usuário é, digamos, limitado. Deve ser por isso que conduzem atualizações de software sem ninguém pedir, e sem avisar. Inclusive não costuma haver um meio fácil de tentarmos pessoalmente controlar essas atualizações. Mas sabemos que é para o nosso bem. Uma boa intenção. Mais uma para encher o inferno. 

Após a jornada de trabalho ainda tive de procurar os meus documentos e fotos que a atualização escondeu. Obviamente as configurações de navegação de internet foram todas perdidas. As acessos às redes sociais tiveram que ser todos restabelecidos. O diabo pensaria em algo assim aos condenados a ficar sob seu tacão. 

Se esse foi o susto e o estresse do dia, vou falar mais duas tecnologias do capeta. 

Teclados virtuais. Me é impossível digitar direito com teclados virtuais. Estou falando daqueles do robozinho. Os teclados virtuais da maçã não conheço, não posso falar. 

Começa pela falta de padronização. O fabricante xis mostra o teclado de um jeito; o fabricante ípsilon de outro. Não importa se se trata de um telefone ou de um tablet. Você quer teclar o "o", e tecla o "i". Quer teclar a barra de espaço e tecla o "b". Quer teclar volta ("back space"), e tecla "enter". Ou será que é só comigo? E olha que não tenho dedos grandes! Provavelmente o diabo deve mandar os condenados ao inferno ficarem digitando inutilidades em teclado virtuais. 

Para finalizar este texto há as páginas que recarregam enquanto você está lendo. Que tal? Sim, porque para pagar o pessoal da redação, o veículo de comunicação precisa encher as bordas das páginas de notícias de reclames. São elas que pagam. A publicidade. E lá está você lendo por dois, três minutos. E, do nada, a página recarrega. Para trocar o modelo do carro anunciado, ou o nome do banco onde você não sabia que precisava abrir uma conta. Uma outra versão disso são aqueles momentos em que um vídeo de margarina se abre no meio da notícia que você estava lendo. E você aguarda, e aguarda. E avança mais um pouco. E se a notícia for longa, o ciclo se repete duas, três, quatro vezes. O diabo teria imaginado uma coisa assim. Os condenados ao inferno devem ser obrigados a ler textos em páginas que recarregam ou cuja leitura é interrompida por um vídeo de anúncio de margarina. 

Todas essas tecnologias, como sabemos, têm boas intenções por trás. 

E sabemos o lugar cheio de boas intenções. 

Fico imaginando essas situações em quadros de Hieronymus Bosch!


05, 06/10/2021. 


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