Diário da Peste (XLVIII) - Resfriado



Em 1966, o jornalista Gay Talese deveria ter feito uma entrevista com o cantor Frank Sinatra, para a revista Esquire. O projeto não deu muito certo, pois o cantor não quis dar entrevista, e, de quebra, estava resfriado. Bom, apesar disso tudo, Gay Talese ficou bastante tempo buscando essa entrevista, e entrevistou muita gente ao redor de Sinatra. Disso surgiu um perfil do cantor que acabou publicado. O perfil começa assim: "Sinatra estava doente. Padecia de uma doença tão comum que a maioria das pessoas a considera banal. Mas quando acontece com Sinatra, ela o mergulha num estado de angústia, de profunda depressão, pânico e até fúria. Frank Sinatra está resfriado", segundo a reprodução do Correio do Povo.

E por que eu relato tudo isso? Bem, nos últimos dias eu estive resfriado. 

Provavelmente peguei da Linda, quando a acompanhei ao atendimento médico justamente porque ela estava com sintomas de resfriado. Ela deve ter pego de seus colegas de trabalho, alguns dos quais precisaram se afastar por conta dos sintomas, e, claro, por conta do mal estar que sentiam. 

Ela passou praticamente um dia dentro do hospital. Nesses tempos da peste, a peste parece sempre a primeira hipótese para o tipo de sintoma. No caso dela, rinite, uma tosse que arranhava a garganta, e  garganta inflamada. 

Dois dias depois da consulta saiu o resultado do exame de agente patológico. “Vírus indeterminado”. A única coisa certa foi que o teste deu negativo para covid-19. 

Dois dias depois também, eu comecei a sentir dores musculares. Era uma sexta-feira e falei para alguém que me sentia moído. Mas achava que era por conta do cansaço acumulado da semana. 

Qual o quê. No sábado as dores no corpo continuavam e a garganta inflamou. O resfriado me pegou. De volta aos analgésicos e antigripais. 

A última vez que eu tinha tido sintomas de resfriado havia sido em fevereiro de 2020, mais ou menos na época do advento da peste. Os sintomas foram bem mais leves naquele final de verão. 

Hoje, segunda-feira, sinto menos dores do corpo e a garganta menos inflamada. Acho que é sinal que o resfriado está indo embora. 

É como são as coisas. 

Li em algum lugar que o uso generalizado de máscara e o incremento na vacinação tinham diminuído em 99% os casos de sarampo no Brasil. Um efeito colateral benigno desse apetrecho de proteção. 

Quando acompanhei a Linda, houve um momento em que ficamos próximos e sem máscaras. Foi quando fizemos um lanche. Deve ter sido esse o meu vacilo. 

Mas tudo bem. Está passando. 

Talvez a ampla vacinação contra a covid-19 esteja abrindo espaço para esses outros rinovírus, que incomodam, mas raramente matam. 

Será? Quem souber pode escrever nos comentários, ou me enviar um emeio. 


25/10/2021. 

Comentários

  1. Acho que não... É que ficar resfriado, antes, era só ficar resfriado. Hoje, vem com uma dose extra de medo, José. Aí parece maior...

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