Diário – leituras – Bukowski, um é pouco, dois é demais


Sob o nome geral de “Ereções, Ejaculações e Exibicionismos” os dois livros de Charles Bukowski, “Crônica de um amor louco” e “Fabulário geral do delírio cotidiano”, compõem uma longa coletânea de contos e crônicas desse autor com fama de boêmio e maldito. 

Na minha infância, minha mãe vivia repetindo, não me lembro exatamente em que circunstância, que “um é pouco, dois é bom, três é demais”. Houve uma vez que ela citou o que seria o ditado completo, “em casa de caboclo, um é pouco, dois é bom, três é demais”. Talvez fosse o caso de associar isso a ter filhos, mas não posso confirmar. Meu filho disse que um ditado desses, nomeando um caboclo, pode ser algo pejorativo. Não sei. Quem souber pode explicar nos comentários, ou em enviar um emeio. 

Mas eu mencionei isso tudo do “um é pouco, dois é bom, três é demais” para fazer uma associação com essa duologia de Charles Bukowski. 

Eu comecei lendo Crônica de um amor louco. Seria uma maneira de comparar com o livro Trilogia Suja de Havana, de Pedro Juan Gutierrez, citado como um “Bukowski cubano”. 

Bem, Bukowski é muito fluído. A leitura de seus textos é rápida. Ele sabe como contar histórias. E em Crônica de um amor louco, estão, por exemplo, o conto O Espremedor de Culhões, que já foi citado em uma crônica do Antonio Prata; A mulher mais linda da cidade, que já deu título a outra coletânea, sobre o amor do narrador com uma mulher algo desajustada. Os títulos pouco sutis são comuns, como acontece por exemplo, com um conto chamado A máquina de foder. Há um cujo título é uma suástica, e chegue o leitor às suas conclusões sobre qual metáfora Bukowski buscou com aquele conto. E textos que parecem crônicas, e que portanto devem mesmo ser crônicas, mesmo que não saibamos o quanto o autor ficcionalize nessas histórias. 

Acabei de ler o volume um dessa duologia, e fiquei querendo ler a continuação. Sim, eu queria mais. Mas…. 

Mas Bukowski tem temáticas recorrentes como as bebedeiras, de preferência com vinho do Porto, mas também serve cerveja. Ou as corridas de cavalo. E, sempre, claro, o sexo. De forma que mesmo tendo boas histórias como Um .45 pra pagar o aluguel e O cobertor, lá pelas tantas eu estava um pouco cansado de ler Bukowski. Me senti lendo, talvez, David Coimbra com suas temáticas repetitivas

Nascido em 1920, filho de um soldado estadunidense e mãe alemã, Bukowski faleceu em 1994, aos 73 anos. 

Essa sua aura de boêmio e maldito ainda deve ajudar a vender livros. Lembro que no final da década de 1980 e início da seguinte, seus livros faziam sucesso entre amigos que também se queriam boêmios. 

Não tenho certeza se ele era um misógino como há quem o acuse, ou simplesmente um misantropo, um homem com um desajuste a mais, cujo prazer na vida fosse beber, transar e escrever. 

Mas certamente se vivesse hoje e estivesse nas redes sociais seria cancelado. 


BUKOWSKI, Charles. Crônica de um amor louco. Porto Alegre: L&PM, 2019.


BUKOWSKI, Charles. Fabulário geral do delírio cotidiano. Porto Alegre: L&PM, 2017. 


30/08/2021.

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