K-7


O primeiro gravador de fitas cassete na minha casa, foi um modelo da Telefunken. Azul, com três botões, um seletor para funções tocar, avançar e retroceder, um botão vermelho para gravar, e um redondo para controle do volume. Para gravar se precisava manter o botão vermelho apertado, e usar a função tocar. Provavelmente fabricado na Zona Franca de Manaus, era movido a pilhas médias. O kit trazia o gravador e um microfone separado. Foi comprado por minha irmã, no auge de seus vinte e poucos anos, por volta de 1973 ou 1974. Eu devia ter seis ou sete anos. 

O primeiro rádio da família foi presente de meus pais à minha irmã, no aniversário de quinze anos dela, em 1962. A primeira televisão, em preto e branco, em 1970 para a Copa do Mundo. Esses fatos eu não lembro. Não era nascido em 1962, e muito novo em 1970. O primeiro toca-discos viria poucos anos depois. Os equipamentos eletrônicos da família são uma história a parte. Grande parêntese aqui. 

Com o novo equipamento, vieram as brincadeiras de gravar as vozes, e reproduzir. E o estranhamento da nossa voz reproduzida fora da nossa cabeça. Na minha memória, a primeira música ouvida nesse gravador, foram os acordes iniciais e depois a voz de Elis Regina cantando Dois pra lá, Dois pra cá . 

Também foi usado para gravar ofensas da mulher do proprietário da casa que alugávamos na Chácara das Pedras. Não lembro direito daqueles eventos, mas certamente o dono da casa queria que abandonássemos o imóvel. Provavelmente tinha oferta melhor de outro candidato ao aluguel. Houve até registro de B.O. Em todo caso, em seguida nos mudamos. 

O gravador ainda passaria por uma adaptação. O aparelho não tinha saída de áudio, e um técnico adaptou uma. Velha gambiarra. O equipamento deveria ser usado para “botar som” nas reuniõezinhas dançantes de pré-adolescentes que fazíamos nos altos da Vila Cefer 2. Contudo, seu som mono não agradou. Foi abandonado em favor dos toca-discos e seu estéreo de dois canais. 

Aquele aparelho se perdeu na areia do tempo.

Quando comecei a trabalhar, no início dos anos 1980, comprei um rádio-gravador. Poder gravar as músicas direto do rádio na época era o ó do borogodó. Infelizmente a qualidade do aparelho não era muito boa, e ele passou por muitas idas e vindas à assistência técnica, fazendo eco à fama de sua marca, “conserta, conserta, estraga”. 

No final daqueles mesmos anos 1980, com uma indenização de fim de contrato de trabalho, comprei um outro rádio-gravador, esse tinha dois “decks”, ou seja, eu poderia gravar de uma fita para a outra. Esse aparelho nos acompanhou em uma viagem a Florianópolis em 1990. Foram seis ou sete horas tocando duas fitas do concerto de Jean-Michel Jarre na China. 

Por fim, nunca tive um autêntico “walkman” da Sony, mas tive alguns equipamentos genéricos de baixa qualidade, vindos do Paraguai, comprados no camelódromo que existia ao largo da Praça XV de Novembro, no centro de Porto Alegre. 

Por que falo em tudo isso? Hoje li a notícia do falecimento do engenheiro Lou Ottens, que liderou a equipe da Philips que criou a fita cassete, bem como gravadores e tocadores, em 1963. Segundo a notícia, a nova tecnologia foi licenciada sem pedidos de royalties para que fosse amplamente acessível (e se tornasse um padrão dominante, como de fato se tornou). Ele também trabalhou no desenvolvimento do compact disc (CD) posteriormente. Segundo a notícia Ottens tinha 94 anos, e a causa da morte não foi divulgada. 

O homem contribuiu para que pudéssemos levar nossas trilhas sonoras conosco mais facilmente. 

11/03/2021. 

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