Diário da Peste (XIX) - Um ano de home office



No dia em que essa crônica é publicada se completa exatamente um ano de “home office”, ou de teletrabalho, se você preferir. Primeiro aniversário de home office, infeliz aniversário. 
Aniversários são sempre tempo de rememorar.

No início de 2020, a gente lia e ouvia notícias de uma nova doença surgida na China. Outra! Outra peste que gerava pneumonias e mortes. E a peculiaridade desta foi que não ficou restrita à China e regiões limítrofes. Da China chegou à Europa, em especial à Itália, e da Europa para o Brasil. 

Aqui vale lembrar a absoluta inércia das autoridades responsáveis pela entrada no país de quem vinha de regiões onde já havia casos da doença. Pelo que me lembro, e tive oportunidade de falar com quem veio do exterior naquela época. Nenhuma medida de prevenção sanitária, nenhum teste, nenhum rastreio, nenhum controle de quarentena. Nesse aspecto fomos liberais ao extremo, praticamente anarquistas.

A peste pôde se espalhar como tempestade em campo aberto. 

Então o governador mandou fechar as escolas. 

E depois de reuniões de discussão, fomos mandados para trabalhar em casa. 

Uma quarentena. E quando pensamos em quarentena, pensamos em quarenta dias. Talvez dois meses, estendendo as medidas preventivas. Qual o quê.

Aqui estamos um ano depois, e a perspectiva do final disso ainda está um pouco longe. No ritmo atual de vacinação, a população com mais de 18 anos só deverá estar minimamente imunizada lá por 2022. 

E eu ainda tive a ilusão de retraimento da peste no início da primavera passada. 

Na primeira semana do confinamento, eu pensei que ia enlouquecer. 

Mas não, não enlouqueci, digo, não mais que eu já era enlouquecido. 

Nesse meio tempo o consumo de álcool foi aumentando. Depois se estabilizou. E vem diminuindo. 

Menos mal. 

Seguimos. 

Continuamos com esperança de sobrevivermos à peste. Mesmo que o número de vítimas fatais esteja se aproximando de 300 mil. 

22/03/2021.

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