Estado de Sítio


Então, amiga, chegamos a esse ponto. Mas como chegamos a esse ponto?

Confesso que nunca me senti tão mal, tão desconfortável, tão paranoico. Claro que não é para menos. O noticiário fala de uma transbordamento da peste. Ocupações de UTI para além de 100%. Ou seja, criaram algumas UTI’s fora das UTI’s que existiam. Se aquele cidadão de classe média ou classe média alta que paga ciosamente seu plano de saúde para ter um atendimento diferenciado em um hospital diferenciado, ele arrisca não conseguir atendimento algum. Se precisar de internação não vai encontrar leito, não importa se cumpriu com sua parte pagando religiosamente suas prestações do plano de saúde. 

Como chegamos a esse ponto, amiga?

Sabe, em 2018, eu imaginei um segundo turno entre o candidato tucano engomadinho e o inominável que está aí. Nos intervalos do trabalho, ou nos happy hours que aconteciam então, eu dizia que entre o truculento nutella, disfarçado de bom moço e o truculento raiz, exaltador da tortura, melhor eleger o truculento raiz. Talvez não passasse de um bobo da corte, como era tratado até então. Eu realmente não tinha noção do que eu dizia. Em todo caso, acabei por não votar nem em um nem no outro. Enfim...

Não temos para onde ir. Não há leitos vagos, não há vagas de UTI. 

Cada pessoa que vejo na rua me é um inimigo potencial. Como saber se aquele jovem, aquele homem maduro, aquela moça, aquela senhora não é um portador assintomático da peste? Cada ser humano no tecido social se me tornou uma ameaça. Para onde eu poderia ir? 

Paranoico, me encerro em casa. Não quero ver a ninguém. 

Como chegamos a isso?

Como elegemos alguém que elege a morte como seu deus? Pois só isso explica a exaltação de falsos tratamentos, a sabotagem da vacinação, a facilitação das armas de fogo como solução para a segurança pública. 

Como te disse, felizmente acabei por não precisar votar no inominável. 

Mas me sinto sitiado, cercado, paranoico. 

Que tempos! Quem de nós imaginaria que passaríamos por isso? 


04/03/2021

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