O Bar Que Não Estava Lá


Por volta das oito e meia entro no Apolinário. 

Depois de passar pela porta que se arrasta no chão há uns quatro ou cinco anos, viro à direita, onde a junção de mesas está montada para a oficina literária que há anos se reúne ali (mais anos que tenho conhecimento da porta se arrastando).

Nesse nicho há mais luz. O talento das escritoras oficineiras e do mediador, e a luminária que este traz de casa, tornam o ambiente mais iluminado que o restante do bar, que é permanentemente mergulhado em certo breu.

Digo boa noite. Rubem responde, assim como Jane, Renata, Clarice e Vanessa. Pelo horário, Angela, Avelina e Gabriela já foram embora. Rubem me apresenta às mulheres da mesa que não conheço. 

Nesse ano de 2020, todas são Clarices, e não há homens entre os cronistas. 

Após essa breve parada, me dirijo ao salão principal do bar. 

Em uma mesa, à direita, está sentado o Gian, para variar bebendo Heineken. Junto com ele, estão o Gabriel, o Tom e o Willy. 

Se bem que, à medida que me aproximo da mesa, Gabriel se levanta para ir embora. Ele me cumprimenta, e me diz que não é porquê eu cheguei que ele está indo embora. Um clássico dessas situações. Enfim, ele tem seus próprios compromissos. Se despede e vai. 

Sento. 

Willy também vai de Heineken. Tom tem diante de si, um copo com Passport, um copo pela metade com gelo e uma garrafa de Coca Zero. 

O assunto gira ao redor de livros. O novo que o Gian está escrevendo. As dificuldades que o Tom enfrenta para a distribuição das coletâneas de que participou. Willy cogita de novas oficinas. 

Claro que ali sempre rola uma provocação, uma anedota, um causo de outros tempos da vida de cada um. 

Ouço por um tempo, indeciso entre sobre o que vou pedir. 

Este ano Felipe não está participando da oficina. Seria um milagre talvez, mas o fato é que, como eu já disse, todos os participantes desta edição são mulheres. Com exceção do mediador, o Rubem. Felipe também não está ali. Se estivesse, possivelmente estaria bebendo algum uísque, e eu o acompanharia. Pediria uma dose dupla de Jack Daniel's e água mineral com gás. E pensar que na última vez que estivemos juntos naquele bar, ele secou justamente a última garrafa de Jack Daniel's, antes que eu pudesse pedir. 

Mas sigo. 

Há outras variedades de bebidas. O bar oferece chope e cervejas. Além da Heineken, há as chamadas artesanais. Gosto bastante da Barley Natural, muito suave. E também da Whitehead Irish Ale, com sua cor avermelhada e seu sabor marcante. 

Consulto o Willy, e ele confirma que a Whitehead é a melhor no momento. 

Chamo o garçom, que demora alguns minutos para atender como é praxe. 

Mais alguns minutos e o litro de cerveja chega à mesa em um balde com gelo. 

Não sei quanto aos outros. Para mim, a noite está começando!...

Tu isso poderia ter sido real, se a peste, a covid-19, não tivesse fechado os bares de Porto Alegre. E, antes disso, o próprio Bar Apolinário já vinha claudicando mais que sua porta de entrada, ameaçando fechar, mesmo que a peste não tivesse acontecido. 


07/04/2020.

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