Diário da Peste (I) - 02/04/2020
Depois de mais de uma semana trabalhando remotamente, hoje tive assuntos para resolver "in loco", e precisei romper com o isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus (covid-19).
O motorista de aplicativo que me trouxe, um senhor que deve estar aí ao redor dos seus setenta anos, usava uma máscara. Em tempos de epidemia, o ar condicionado do veículo estava desligado, e as janelas do carro totalmente abertas.
Diria que minha empresa está ciosamente cuidando do isolamento social. Tenho impressão que mais de 95% do quadro de funcionários trabalha remotamente.
No intervalo do almoço, ao caminhar pelo centro, o movimento de pessoas e veículos lembrava o de um domingo no centro de Porto Alegre. Talvez até menos gente que um domingo que chamaríamos normal. Me dá um pouco a impressão de estar dentro de um filme de ficção científica, mistura de "Eu Sou a Lenda" com "O Dia Depois de Amanhã".
No supermercado já havia álcool gel à venda. Comprei um sanduíche e um refrigerante. Na hora de pagar, as operadoras de caixa estavam usando máscaras de plástico, como equipamento de proteção individual.
No noticiário, a notícia mais triste são os efeitos da pandemia no Equador. Cadáveres abandonados nas ruas de Guayaquil, e mortos nas casas, com familiares aguardando há dias o recolhimento dos corpos, sem poder tocá-los por medo da contaminação.
Na semana passada o mais triste eram as notícias de Itália e Espanha, com os respectivos exércitos mobilizados para recolher corpos e conduzir caixões para incineração.
Não sei se as pessoas já se convenceram que é para evitar esses quadros de colapso que estamos nessa quarentena de isolamento.
Neste momento, Porto Alegre tem 208 casos notificados e 3 falecimentos em decorrência da doença.
Enfim. Hoje o dia começou com chuva fraca. Depois abriu sol e faz bastante vento no centro de Porto Alegre. Ana Terra talvez diria que é tempo dos mortos nos visitarem.
02/04/2020.
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