Diário da Peste (III) - Jejum Nacional
Em meio à quarentena imposta pela peste (isto é, o coronavírus, o covid-19, enfim...) dois movimentos parece que se articulam para o próximo domingo, 5 de abril de 2020.
Um, algo subterrâneo, divulgado por meio de grupos de aplicativo de mensagem, chama pessoas a saírem de casa, um rompimento do isolamento social. É possível que seja estimulado pelo presidente da república, e alguns dos empresários que o apoiam.
O outro é um dia de Jejum Nacional. Imagino algo como um dia inteiro dedicado ao jejum e à oração.
O grande paradoxo é que esse chamado ao jejum e à oração seja convocado pelo presidente da república, sendo que supostamente o Brasil é uma república laica.
Não me oponho ao chamamento para dias nacionais de jejum e oração. Inclusive acho bom. É uma prática que vem desde a Antiguidade, quando a humanidade via as doenças como punição divina, e orações e jejuns e oferendas eram meios para a aplacar a ira divina.
Mas em uma república laica um chamamento desses deveria partir de líderes religiosos, sejam os bispos católicos, ou os colegiados de pastores protestantes. Nesse rol poderiam ser incluídos judeus, muçulmanos, espíritas, religiões de matiz animista como a umbanda, e qualquer outro grupo que queira se envolver.
E, sim, o presidente da república poderia se envolver, informando, digamos, "eu apoio o jejum nacional, e estarei na missa virtual celebrada a partir da Catedral de Brasília nesta manhã de domingo", ou "estarei jejuando e orando junto com os demais crentes da igreja evangélica, no culto virtual deste domingo pela manhã". Sim, porque a peste recomenda que mantenhamos distância uns dos outros.
Estranho mesmo é uma convocação por parte do líder da nação, como se a nação fosse uma assembleia de crentes da mesma fé, o que obviamente não acontece.
P.S. Espero, para o bem de todos, que as pessoas sejam sensatas e não tentem romper o isolamento social.
04/04/2020.
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