Algumas ruínas do antigo país do futuro


Caro mestre,


Acho que a notícia que mais me impactou esta semana foi que já em 2027 o Rio Grande do Sul começará a declinar a sua população. Para o Brasil isso deverá acontecer em 2070 segundo as atuais condições de temperatura e pressão. 

O Rio Grande está na vanguarda do encolhimento da população junto com Alagoas. As razões desses dois estados são distintas. No caso do Rio Grande do Sul, há o envelhecimento da população e a baixa natalidade. Sobre Alagoas pesam a menor expectativa de vida ao nascer e a ampla emigração. 

Já faz algum tempo que demógrafos e, muito especialmente, economistas vêm chamando a atenção para essa questão da chamada transição demográfica. Nos primeiros anos deste século XXI alguns desses especialistas falavam que era necessário aproveitar algo chamado bônus demográfico para que o país enriquecesse mais para fazer frente às despesas que adviriam do posterior envelhecimento populacional. 

Bem, cá estamos ficando velhos antes de ficarmos “ricos”. De fato, acho que quando esses economistas falavam em bônus demográfico e enriquecimento, falassem em levar o Brasil a patamares onde estão hoje, por exemplo, Uruguai e Portugal. E claro está que a vida nesses dois pequenos países está longe do ideal, mesmo com Portugal tendo recebido uma grande injeção de recursos da União Europeia. 

Algo triste que aconteceu durante o pior período da pandemia foi que muitos idosos que morreram em decorrência da covid-19 eram arrimo da família, e seus descendentes passaram, talvez ainda passem, dificuldades por conta da fatalidade. Para vermos que tipo de país é o Brasil, e como os mais velhos estão inseridos nele.

Há oitenta anos, Stefan Zweig escreveu um livro chamando o Brasil de país do futuro. Muita gente repetiu o chavão desde aquela época. Parece que não há mais um grande futuro. As ruínas começam a aparecer. 

E tudo isso no mês em que te tornas oficialmente um idoso. 


26, 27/08/2024. 

Comentários

  1. Caríssimo José,
    Faço o possível... Três filhos é minha colher de chá para um lado, contra o balde que derrama-se para o outro... Não digam que a culpa é minha!
    Abraços!

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