Frustrações nas Férias



E chegaram as férias. 

Viagem planejada. O começo foi com uma pequena frustração. O VW Voyage disponibilizado pela locadora de veículos me pareceu um tanto quanto obsoleto. Eu preferia carros que me parecem mais modernos na mesma categoria, como Fiat Cronos, ou Nissan Versa. Mas, enfim, o carro funcionou para o fim para o qual ele foi feito, isto é, nos levar daqui para lá, ou de lá para cá. 

A viagem planejada foi uma viagem curta, próxima de casa, porque ainda há alguns compromissos pendentes. E no momento de planejar viagens mais longas, o variante ómicron da peste ainda fazia sua colheita nefasta por aqui. 

A viagem curta previa as cidades da Serra Gaúcha, Bento Gonçalves e Caxias do Sul. 

E tudo correu a contento. O automóvel alugado, apesar de obsoleto, deu conta do recado. 

Ficamos em um hotel confortável em Bento Gonçalves. Pudemos caminhar pela região central da cidade, que manteve alguns prédios históricos intactos. Pudemos caminhar por seus altos e baixos, conferir suas ladeiras. Minha falecida sogra possivelmente se assustaria com alguns dos perais (lombas acentuadas) que encontramos na cidade. 

Após a rápida estadia em Bento, fomos para Caxias. São cidades próximas, a viagem de uma à outra levou cerca de 45 minutos. 

O hotel em Caxias do Sul também era bastante confortável e central. O que nos permitiu explorar um pouco a região central da cidade. 

Caminhar por avenidas que eu ouvia falar. Sinimbu. Pinheiro Machado. Borges de Medeiros. Itália. Praça Dante Alighieri. 

Fiquei com certa pena que eu tenha demorado tanto para conhecer a Caxias. Uma pequena metrópole. De fato, pelos dados atuais, uma população maior que a de Florianópolis (algo como cerca de 517 mil habitantes em Caxias do Sul, contra 516 em Florianópolis).

Minhas comparações mentais me levaram a comparar o centro de Caxias do Sul com o do Rio de Janeiro. Caminhe pela Avenida Rio Branco na antiga Capital Federal, e depois caminhe pela Avenida Sinimbu na metrópole da Serra Gaúcha. De alguma maneira, o a região central de Caxias do Sul me pareceu muito mais organizada que a de Porto Alegre. 

Outra comparação mental me veio com as capitais do Rio da Prata, Buenos Aires e Montevidéu. Por alguma inacreditável memória, Caxias do Sul me lembrou as cidades do Cone Sul. Talvez por conta da imensa influência da colonização italiana nas três cidades. Comentei com meu filho. Ele concordou que seria uma comparação factível. 

Feliz pela curta, mas feliz estadia na serra, chegou o momento de voltar para casa. Meu filho gostou do curto roteiro, por locais até então desconhecidos dele (eu conhecia algo de Bento, mas também era neófito a respeito de Caxias do Sul). 

Descemos a serra pela BR116 (havíamos subido pela RS122). Fizemos uma breve parada na Tenda do Umbu. 

Quando cheguei em casa, desfiz rapidamente a pequena bagagem. Roupa suja para o local onde deveria ser lavada. Remédios para a farmacinha de casa. Carteira e celular sobre a mesa. 

Hora de descarregar as fotos da câmera. 

Mas cadê a câmera? 

Não está em nenhum local visível. Olho novamente a mala. Falo com o filho. Olho novamente no carro. Não encontro.

Irremediavelmente perdida. 

Não era uma câmera cara. Talvez tenha sido. Modelo S9100, da Nikon. Uma câmera compacta, com 12 megapixels de resolução, e um zoom ótico de 18x (leia-se dezoito xis). Lançada em 2011, custava algo como USD 300,00 no seu lançamento (cerca de R$ 1.500,00 , no câmbio de hoje), mas foi comprada muito mais barata em um saite de usadas. Não possuía a qualidade de imagem de uma câmera DSLR, mas produzia imagens que eu considerava boas o suficiente. E era muito pequena, muito portátil. Cerca de dez de largura por seis centímetros de altura, menos de três centímetros de espessura. 

Talvez por isso eu não tenha percebido que quando pensei que a colocava em minha bolsa, eu a estava deixando cair no chão. Em algum solo fofo, que não me deixou perceber o som do impacto. 

Curiosamente nessa viagem fiz o contrário do que eu costumava fazer. 

Não levei um notebook, para não carregar mais cinco quilos de bagagem. Não alternei câmeras, como muitas vezes faço, concentrei o uso na velha S9100. O meu filho havia levado um notebook, e eu poderia pedir que ele salvasse fotos no seu disco rígido. Fiz o contrário do que eu estava acostumado em minha paranoia, para tentar evitar a perda de imagens. 

Fica a lição. Quando a gente relaxa, pode perder tudo. O negócio é voltar a algum nível de paranoia. 

Ficaram perdidos os registros da ladeiras de Bento Gonçalves, de sua região central, dos relâmpagos que nos assombraram na noite em que passamos lá. 

Ficaram perdidos os registros da Avenida Sinimbu, da Praça Dante Alighieri, da Avenida Itália. Emanuel em frente à Igreja de São Pelegrino. 

Restaram uns poucos registros que meu filho fez com o celular. Alivia mas não espanta a frustração. 

Que me sirva de lição para não baixar a guarda. Porque as imagens vívidas de hoje na minha mente fatalmente se desvanecerão. 


07/03/2022, 04/04/2022.

Comentários

  1. Poxa, Zé Alfredo... Essa máquina era quase a extensão dos teus braços. Sinto muito. Abraço

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