Saúde!
No tédio de uma tarde de sábado, os dois amigos cinquentões se encontraram novamente como costumavam fazer havia bastante tempo, e continuavam fazendo apesar da peste.
Logo que Erasmo chegou ao apartamento do Lino, perguntou, “E aí? Qual a cerveja que tu comprou?”
“Ih, rapaz! Não comprei cerveja.”
“E o que a gente vai beber?”
“Tem esse pouquinho de rum aqui. E tem uma garrafa de cachaça.”
"Bah!"
"Vamos ver. Vamos ver quem aguenta melhor. Eu vou servir o rum em copo de martelinho. Vamos beber de um tiro só."
"Tu não vai dar nem para a saída."
E assim Lino serviu dois martelinhos de rum.
Os dois emborcaram os copos de uma vez. Ambos fizeram a careta característica que engoliram uma bebida que desceu queimando pela garganta.
"Essa não deu nem para começar.", falou Erasmo.
"É. Não deu mesmo.", concordou Lino e serviu novamente os copos. A garrafa de rum se esgotou.
De novo viraram a bebida em um único tiro. Novos rostos de garganta queimada.
"Mal e mal tá dando pra sentir.", falou Erasmo.
"É.", concordou o outro. "Vou servir a cachaça."
Dessa vez contaram até três antes de novo "shot".
"Bah! Acho que o rum estava melhor.", falou Erasmo.
Lino não falou nada.
Serviu novamente os copos com a aguardente.
Mais uma rodada foi engolida de uma vez.
Erasmo começou a lançar seu hálito no ar, emitindo um ruído gutural.
Lino começou a caminhar sem rumo na sala do apartamento.
"E aí? Tu aguenta mais uma?"
"Claro!", disse Lino e serviu novamente.
A nova rodada foi engolida, outra vez em tiro único.
Erasmo, sentado no sofá, começou a bater os pés no chão.
Lino, sentado em uma cadeira junto à mesa, sacudia a cabeça, como se dissesse não.
"Ah, ah, ah!…. Tu é fraco! Desiste?", provocou Erasmo.
"De jeito nenhum!", respondeu Lino, servindo nova rodada, derramando um pouco do líquido sobre a mesa de centro.
Pela quinta vez os amigos viraram os copos dentro de si mesmos.
Lino sentou na cadeira. Cruzou os braços e começou a se dar tapas nos antebraços, e sacudir a cabeça como se dissesse não. Erasmo recomeçou a bater os pés no chão. E a se dar tapas na cabeça.
Lino provocou: "Outra?"
"Claro!"
Nova rodada servida, mais líquido derramado. Em uma quantidade um pouco maior.
Erasmo começou a bater com mais força os pés no chão.
Lino se aproximou, segurou os braços de Erasmo, e disse, "Para com isso!". A seguir colapsou no chão.
Erasmo arregalou os olhos. Chamou por Lino, que não reagia. Tentou levantar para se aproximar do outro, mas caiu sentado de novo. Jogou a cabeça para trás. Dormiu.
11, 12/05/2021.
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