Diário da Peste (XX) - O chuveiro pifou


Atenção: esta crônica contém marcas registradas. Pode muito bem soar como merchã. Esteja a raríssima leitora, o raríssimo leitor avisado.

Sábado à noite, ao ligar o chuveiro percebi que a água não esquentou. Acontece com relativa frequência. É possível até pensar que melhor acontecer no outono que no inverno.  Ainda mais que tivemos quatro ou cinco dias de outono propriamente dito, nesses 45 dias de outono. Os demais foram dias de verão atrasado ou primavera muito adiantada. 

Enfim. Provavelmente resistência queimada. 

Faz algum tempo que elegi como chuveiro elétrico de minha preferência a “Gorducha”, da Corona (quem lembra? “Apanhe o sabonete, abra uma torneira e de repente a gente sente, Duchas Corona, um banho de alegria num mundo de água quente...”, ou algo assim), pela facilidade de troca da resistência. Desenrosque a base, onde ficam os furinhos que distribuem a água; retire o “copo” que envolve a resistência; e retire a resistência. Coloque a resistência nova, e eis o chuveiro funcionando novamente. Um banho de alegria num mundo de água quente. Ou não. 

Aqui vale um parêntese. Cronistas e romancistas de outrora comentavam a rusticidade das moradas do Rio Grande do Sul. Casas desprovidas de aquecimento, ou de meios para amenizar o frio, quando vinha o inverno. Eram relatadas as faltas de cortinas e tapetes que poderiam, talvez, amenizar a friagem que assolava o sul nos meses de inverno austral, independente do morador ser pobre ou rico. Talvez possamos pensar no sítio ao Sobrado no capítulo O Continente, de O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo. Embora em alguns lares até houvesse fogões a lenha. 

Isso passou. Seja pelo barateamento da tecnologia, ou pelo enriquecimento relativo da sociedade, entre gaúchos de de classe média, e mesmo de classe média baixa, não faltam os condicionadores de ar, os aquecedores nas suas mais variadas formas, e os tapetes (sim, também eles). Chuveiro elétrico já é um pouco obsoleto, perto dos dispositivos eletrônicos (hum! Que delícia!) ou a gás (mais delícia ainda!). 

Voltando aos segundo e terceiro parágrafo, desliguei a eletricidade, e desenrosquei a base do Gorducha. Retirei o “copo”,e retirei a resistência. Ei-la oxidada e rompida. 

Pela minha experiência, eu tinha um estoque de resistências que eu mesmo não tinha ideia para esse modelo de chuveiro. Três. Testei todas. Nenhuma fez o chuveiro voltar a aquecer a água. Ou os próprios conectores da resistência estavam oxidados, ou a fiação entrou em curto. Não pretendo exumar a velha ducha. 

Solução para o domingo: ir ao hipermercado e comprar um chuveiro novo. 

Retirado o velho, colocado o novo no lugar, o negócio era religar a eletricidade, e ver se o chuveiro voltaria a funcionar. 

Já estava calculando os custos de chamar um instalador elétrico na segunda-feira, mas eis que... Funcionou!

“Duchas Corona, um banho de alegria num mundo de água quente...”

Se bem que agora não se chama mais Corona. O novo nome é Hydra... (“Heil, Hydra!”, a organização inimiga do Capitão América). 


02, 05/05/2021.

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